Cotidiano

Doc de Nelson Hoineff mostra bastidores de desfile da Portela

60820067_Fotos de %2782 minutos%27 em alta.jpgRIO – Há dois anos, o documentarista Nelson Hoineff assistia, pela televisão, aos desfiles das escolas de samba, quando foi tomado por um incômodo: não conseguia enxergar direito as coreografias nem ouvir a música com atenção, por causa dos constantes cortes de edição. Então teve o desejo de se aprofundar naquele espetáculo. Ir ao Sambódromo não seria suficiente: precisava passar meses ao lado das pessoas responsáveis por colocar os carros alegóricos na avenida.

Assim, surgiu ?82 minutos?, documentário em cartaz no Rio que mostra os bastidores dos preparativos da Portela para apresentar o enredo ?ImaginaRIO ? 450 janeiros de uma cidade surreal? no carnaval de 2015. As filmagens acompanham o processo em várias etapas: da escolha do samba-enredo, em outubro de 2014, ao grande dia na Marquês de Sapucaí, no ano seguinte, passando pela confecção das fantasias e pelos ensaios dos músicos. Diretor de ?Cauby: Começaria tudo outra vez? (2015), ?Caro Francis? (2010) e ?Alô, alô, Terezinha!? (2009), Hoineff visitou, quase diariamente durante aquele período, a Cidade do Samba e a quadra da Portela.

? Não é possível cobrir nada de fora para dentro, nem de cima para baixo. Ou você está dentro e captura o processo horizontalmente, ou o filme não existe. É um longo processo de disciplina ? explica Hoineff, que também é jornalista.

?82 minutos? (uma referência ao tempo de passagem de cada escola pela avenida) prioriza o formato do cinema direto, isto é, da ?mosca na parede?: a câmera apenas observa o desenrolar natural dos acontecimentos, sem intervir. O diretor chegou a visitar diversas escolas antes de decidir seguir os passos da Portela, mas foi entre os funcionários da Águia que se sentiu à vontade para criar o filme que tinha em mente.

SEM CONTRATEMPOS

Reuniu-se com Marcos Falcon, então vice-presidente da escola, e fez uma única exigência: ter total liberdade para capturar qualquer imagem. O aval foi dado. Segundo Hoineff, que não torce para uma escola em particular, não houve contratempos graves durante os meses que passou ao lado dos integrantes da Portela. Com o passar do tempo, ele conta, as pessoas passaram a minimizar a presença da câmera, encarando-a ?como um chapéu, um boné ou um utensílio qualquer?. Não houve conflitos nem mesmo quando, pouco antes do carnaval, a escola se viu dentro de uma polêmica, com o surgimento de relatos de que a prefeitura estaria incentivando patrocínios para a Portela, por causa do enredo que homenageava os 450 anos do Rio:

? Alguém, e realmente não lembro quem, perguntou se eu colocaria esse episódio no filme. Eu disse: vou. Ninguém me contestou mais.

Naquele ano, a Portela acabou ficando em quinto lugar. Hoineff admite ter ficado ?levemente? decepcionado, mas, com o tempo, percebeu que o ponto-chave do filme não residia num final feliz, mas nos preparativos:

? Sou flamenguista doente, mas esse nível de paixão e dedicação eu nunca vi na vida.