Cotidiano

Do que reclama Marcelo Crivella

RIO – O candidato do PRB à prefeitura do Rio, Marcelo Crivella, tem afirmado nos últimos dias que é vítima de uma campanha de parte da imprensa, baseada em manipulação de informações, para supostamente beneficiar seu adversário, o candidato do PSOL, Marcelo Freixo. Crivella se diz indignado e usou tal afirmação para cancelar sua participação em pelo menos quatro entrevistas, sendo a mais recente delas a sabatina organizada pelo GLOBO, a ser realizada amanhã, às 10h30. Do que reclama Crivella:

1 – Os livros

O senador reclama da divulgação de reportagem sobre o livro “Evangelizando a África”, pelo GLOBO, em que ataca a homossexualidade, o catolicismo, que chamou de ?doutrina diabólica?, e outras religiões. O livro em questão, porém, foi escrito pelo próprio Crivella. No ato da publicação da reportagem, Crivella pediu desculpas e disse que sua intolerância se devia ao fato de ser um jovem missionário à época. Quando o livro foi publicado no Brasil, em 2002, Crivella tinha 42 anos. Desde ontem, porém, Crivella tem dito em seu programa de TV que a reportagem é uma mentira.

O candidato também atacou reportagem sobre o livro “501 pensamentos de Edir Macedo’, que ele organizou junto com o então bispo da Igreja Universal Carlos Rodrigues. Na obra, Macedo afirma que a Igreja Católica é ?a maior praga do Terceiro Mundo? e ressalta a importância do dízimo. O livro, como o anterior, é assinado por Crivella.

2. Os vídeos

O candidato contesta reportagens sobre vídeos em que ele manifesta posições diferentes das de seus discursos de campanha. Na campanha, Crivella tem reiterado que não mistura política com religião. Também tem dito que é tolerante com homossexuais e outras religiões. No entanto, num dos vídeos, publicados pelo GLOBO, ele diz em discurso que defende a importância de um projeto político para os evangélicos, chegando a afirmar que a meta é eleger um presidente da República. Em outra gravação, de abril de 2011, também publicada pelo GLOBO, o candidato diz que candidaou-se ao Senado em 2002 não por sua livre e espontânea vontade, mas por determinação da Igreja Universal. Num terceiro vídeo, de 2012, publicado pelo jornal ?O Estado de S. Paulo?, Crivella diz que a homossexualidade pode ter origem no sofrimento do bebê ainda no útero da mãe. Segundo ele, gays merecem compreensão porque podem ser fruto de ?aborto malsucedido?. Todos os vídeos são de de discursos do próprio Crivella, divulgados por canais evangélicos nas redes sociais. Eles, portanto, sequer foram gravados pela imprensa.

3. Lava-Jato

Crivella respondeu com ofensas a informação de Lauro Jardim, publicada no GLOBO de domingo. Em sua coluna, o jornalista revelou que, em negociação de delação premiada, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque disse que na, campanha de Crivella ao Senado, em 2010, o senador o procurou em busca de financiamento para material de campanha. Segundo Duque, Vaccari acionou Carlos Cortegoso, dono de gráficas investigadas, e foram impressas 100 mil placas para a campanha de Crivella. O custo estimado deste material seria de R$ 12 milhões. O GLOBO já publicou diversas reportagens sobre revelações feitas à Lava-Jato por investigados durante negociação de delação. As informações têm como alvo agentes públicos e políticos de diversos governos e partidos. O próprio senador utilizou informações de delatores para atacar adversários, como, Pedro Paulo (PMDB), no primeiro turno.

4. ?Revista Veja?

O senador reclama de foto e reportagem publicada pela revista ?Veja?, do último sábado, que mostrou que o candidato chegou a ser preso numa delegacia por um dia em 1990, quando tentou desocupar um terreno de propriedade da Igreja Universal. Para se explicar, Crivella negou a prisão e disse que tudo não passou de uma grande confusão. No entanto, em áudios divulgados por Veja, Crivella havia dado uma versão bem diferente. Disse Crivella: ?Eu não aguentava mais aquela situação. Fui lá e bum! Tirei tudo! E o advogado, muito esperto, que queria fazer uma chantagem, já tinha chamado os policiais, e me deram o flagrante sobre o seguinte crime: uso arbitrário das próprias razões. E me prenderam. Aí, na delegacia, por incrível que pareça, fiquei preso um dia. Carceragem da 9ª DP lotada de gente?, disse Crivella aos repórteres da ?Veja?. Crivella não explicou a razão que o levou a apresentar diferentes versões para o caso. E passou a acusar a revista de mentir.

5. Freixo

Crivella diz que O GLOBO tem poupado o candidato e se referiu a ele como ?novo amiguinho do GLOBO?. O jornal, ao contrário, tem publicado matérias críticas em relação à campanha e ao histórico político do candidato Marcelo Freixo (PSOL). A saber:

O GLOBO mostrou que Freixo voltou atrás e mudou de tom durante a campanha sobre seu posicionamento sobre os black blocs.

Reportagem informou que a jornalista Renata Stuart, ex-mulher de Freixo, esteve empregada no gabinete do vereador e correligionário Renato Cinco.

O GLOBO também noticiou que Freixo teve de se desculpar, após uma corrente do PSOL emitir uma nota chamando o ex-primeiro mistro de de Israel Shimon Peres de genocida. O caso provocou revolta entre a comunidade judaica e uma crise na campanha de Freixo.

O jornal mostrou que, em seu programa de governo, Freixo não explica de onde virão os recursos para viabilizar suas propostas. Outra reportagem revelou que Freixo suprimiu do programa de governo entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o trecho em que defende uma proposta de reforma tributária a ser apresentada à Câmara de Vereadores, caso seja eleito.