Cotidiano

Disputa de narrativas sobrepõe diferenças entre os programas

7.jpgÀs vésperas da eleição que decidirá o futuro do Rio de Janeiro o debate de ontem foi a última oportunidade para os candidatos à prefeitura confrontarem as suas propostas. Com o acirramento da competição pelo segundo turno, reflexo do empate técnico no segundo e terceiro lugares de seis candidatos pelas pesquisas de intenção de voto, assistimos pela primeira vez a um início de disputa de narrativas. Uma de defesa do legado do Prefeito e outra, oposta a esse, vinculando seu candidato à administração estadual e à falência pública de alguns de seus quadros partidários.

Em termos programáticos, as diferenças se esmaecem, com os candidatos buscando diferenciar suas propostas, em geral sem muito sucesso. Como em uma realidade paralela, todas as propostas se descolam da grave crise financeira do país e do estado, desconsiderando a factual queda de receitas municipais.

Debate Rio

Questões centrais para a cidade, no entanto, continuaram sem resposta. Nenhum candidato apresentou, por exemplo, uma proposta consistente para o combate à dengue e zika, apesar da epidemia vivida pelos cariocas no último verão provavelmente vir a se repetir no próximo. A questão da Guarda Municipal é tratada como mera subsidiária da polícia, ainda que não tenha condições para tal, e o papel do prefeito sequer é mencionado como partícipe na definição da política de segurança estadual no espaço da sua cidade. Orçamento e equilíbrio das contas públicas pouco são considerados. Nesse sentido, os candidatos parecem habitar uma realidade paralela, onde as promessas têm pouca consonância com a realidade financeira. Em síntese, falta visão estratégica.

Observe-se que o debate ocorreu sombreado pela profunda crise de confiança na representação, pela imagem de falência do estado, e pelo temor de sua repetição na esfera municipal. Sobretudo, a esse caudal de problemas se somam a corrosão do espírito público afetando candidaturas que parcamente se legitimam em patamares irrisórios. A construção da credibilidade passa pela empatia e pela história dos atores. Além do primeiro colocado, imune a desconfianças éticas, juntam-se outros dois, em patamar muito inferior. Um com mais recursos e tempo de TV, caudatário de inúmeras obras e das olimpíadas de seu padrinho, lutando apesar de todas as vantagens na margem com outro absolutamente desprovido de recursos materiais, mas robusto em termos éticos. A corrosão do caráter torna-se, portanto, uma categoria fundamental na legitimidade da disputa de narrativas.