Policial

Discussão, tiros e morte no trânsito de Cascavel

Confira a cobertura completa do Jornal O Paraná. Diariamente são registrados diversos acidentes de trânsito em Cascavel, com ferido e, em situações mais extremas, vidas perdidas

Discussão, tiros e morte no trânsito de Cascavel

Cascavel – Era por volta das 7h, ontem (24), quando as equipes do Siate e da Polícia Militar foram chamadas para atender a ocorrência “de trânsito”, na Rua Cuiabá, no Bairro Neva. Em Cascavel, isso até não seria novidade, não fosse as consequências trágicas da falta de educação, tolerância e respeito às leis e normas de segurança no trânsito e, principalmente, à vida.

Acontece, que a manhã de ontem (24), os socorristas foram chamados e apenas constataram o óbito de um jovem de 21 anos, morto a tiros após se envolver em uma discussão de trânsito. Pelo que se pode buscar de informações nas câmeras de segurança da Rua Manoel Ribas, próximo à Rua Cuiabá, o motociclista teria sido “fechado” pelo motorista de um Renault Fluence, quando teve início uma discussão que acabou em vias de fato e Ailson Augusto Ortiz foi morto a tiros por um homem, já identificado pela Polícia Civil, mas que ainda não tinha sido encontrado até o fechamento da matéria

 

“Estresse e pressão”

Além de todas as informações sobre a ocorrência e o trabalho de investigação da Delegacia de Homicídios, que pode ser acompanhado no portal oparana.com.br, a reportagem do O Paraná conversou com Caroline Buosi, psicóloga e doutora em análise do comportamento, para entender alguns motivos que levam a tais comportamentos no trânsito que não avaliou a situação do crime sim, mas o comportamento geral das pessoas, especialmente no trânsito.

A especialista explicou que o excesso de atividades a serem desempenhadas durante o dia é um dos fatores que geram grande estresse na população. “Isto acarreta diretamente em uma pressão psicológica, na qual muitas pessoas não conseguem lidar com os deveres e ficam num nível de estresse gigantesco. A partir daí elas acabam ficando cada vez mais nervosas”, destacou.

Para a psicóloga, a Covid-19 também colaborou de forma significativa para o aumento do estresse na sociedade. “A pandemia fez com que as pessoas adoecessem mais psicologicamente. Primeiro por conta de uma doença desconhecida, a qual deixou as pessoas mais preocupadas e nervosas, ansiosas. Junto a isso, o isolamento fez com que gente não conseguisse sair de casa, se encontrar com as pessoas que a gente gosta. Isto também gera um maior grau de mau humor”, conta.

Buosi afirma que o indício de que uma pessoa está começando a “perder o controle” pode ser observado pelo próprio indivíduo, o qual deve procurar ajuda. “A pessoa consegue identificar que está perdendo o limite quando passa a ter comportamentos em que ela não se reconhece mais. Este é o momento de pedir de ajuda”, disse.

 

“DISPUTA NATURAL”

Outros profissionais consultados pela reportagem, mas que preferiram não se identificar, muitas vezes, a falta de controle acaba refletindo na conduta no trânsito, local em que há necessidade de uma “convivência pacífica e harmônica”. Nas vias, há uma “busca natural” por espaço entre veículos e pedestre, contudo, o respeito as normas de segurança e leis de trânsito, organizam e controlam essa disputa.

Na ocorrência registrada em Cascavel, ontem, tanto o descontrole, quanto o desrespeito ficaram evidentes.

 

SITUAÇÃO CRIMINAL

A reportagem também conversou com o advogado criminalista, Ismael Kalil, para entender quais as sanções que podem ser aplicadas ao acusado do homicídio. Ele explicou que se o motorista tivesse realizado apenas o primeiro disparo, poderia se enquadrar em legítima defesa. Contudo, como as imagens mostram que houve mais disparos, mesmo com a vítima já ferida, a situação muda completamente. “Como ele agiu com excesso, a lei diz que ele responderá por homicídio qualificado, com duas qualificadoras. Uma por motivo fútil e outra por dificultar a defesa da vítima. Neste caso a pena pode chegar até 30 anos de detenção”, explicou Kalil.

Ainda conforme o advogado, a família tem o direito de protocolar no processo um pedido de indenização por danos morais. Kalil afirmou que o motorista, quando localizado e o caso estiver encaminhado, poderá ir á júri popular. Entretanto, o processo pode demorar até cinco anos para ser concluído.

 

 

Atirador deve se apresentar à Polícia hoje

O delegado Diego Valim, da Delegacia de Homicídios, concedeu coletiva de imprensa para repassar mais detalhes do crime. Ele contou que as equipes fizeram buscas em alguns endereços, sem sucesso na localização do atirador que já tinha sido identificado ainda pela manhã, porém, o veículo que aparecem nas imagens das câmeras de segurança foi localizado, apreendido e deverá passar por perícia.

A arma usada no crime, conforme o delegado, foi uma pistola .380. O acusado teria registro CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), mas não poderia portar a arma pelas ruas. Outra questão que está sendo investigada é se o acusado é policial da reserva ou se tem algum outro vínculo com as forças de segurança. No endereço do atirador foram apreendidos um revólver calibre 22, duas espingardas e uma grande quantidade de munições, mas a arma que teria sido utilizada no assassinato não tinha sido localizada.

Informações preliminares, já no início da noite de ontem, segundo o advogado de defesa do acusado, o atirador estaria arrependido e deve se apresentar à autoridade policial nesta sexta-feira (25). No momento dos fatos, ele estava acompanhado da mulher e dois filhos.

 

Ações buscam educar e reduzir estatísticas e tragédias no trânsito

 

Diariamente são registrados diversos acidentes de trânsito em Cascavel, com ferido e, em situações mais extremas, vidas perdidas. Segundo dados da Transitar (Autarquia Municipal de Mobilidade, Trânsito e Cidadania), em fevereiro foram registrados 248 acidentes no perímetro urbano, com 61 pessoas ficaram feridas.

A encarregada do setor de Educação e Cidadania da Transitar, Luciane de Moura, lamenta o comportamento exaltado dos condutores, até mesmo ocasionado por motivos fúteis. “As pessoas estão trazendo consigo as frustrações, as raivas, e colocando isso no trânsito. Pode se dizer que o trânsito reflete o que a pessoa é na sua casa, na sua família, ou seja, como ela é no seu interior”, disse.

Para reduzir as estatísticas, a Transitar tem realizado diversas ações educativas de conscientização e orientação. “Nós estamos com o projeto ‘Pé na faixa’, em frente às escolas. As instituições recebem todas as equipes de educação de trânsito. Os agentes vão para dentro de sala de aula, explicam sobre as placas, o que existe de sinalização entorno da escola, conversam sobre os equipamentos de segurança, entre outros”, explica.

O objetivo, além de orientação, é projetar motoristas mais conscientes no futuro, tendo em vista que os jovens estudantes logo estarão nas ruas, compondo o trânsito cascavelense. “Nós trabalhamos educação, engenharia e fiscalização. Cada um depende do outro para ser um trabalho completo”, finaliza Luciane.

 

Fotos: Luiz Felipe Max/Portal SOT