Cotidiano

Disco da manauara Anne Jezini reflete delicadeza pop

INFOCHPDPICT000060586571

RIO – Da relação fã-ídolo nasceu um disco. Cantora e compositora de Manaus, com formação musical em escolas de Londres, Anne Jezini se apresentou ao baiano Lucas Santtana pelo Instagram, antes mesmo de lançar seu trabalho de estreia, o ?Toda queda guarda um susto?, de 2015. Os contatos iniciais evoluíram para uma troca de figurinhas musicais, e, há um ano, Anne partiu para uma temporada de duas semanas no Rio.

? Começamos a compor e a elaborar os beats ideais para cada melodia. Ouvimos muita coisa de música popular, cúmbia, dancehall, funk carioca, até sertanejo… Voltei para Manaus e escrevi as letras. Em outubro, gravamos em nove dias no Estúdio 12 Dólares, em SP. Sou superfã do Lucas e não queria perder essa oportunidade. Temos uma semelhança estética, e confiei plenamente no que ele propôs ? conta ela.

Semelhanças com céu e Mahmundi

Com o bruto gravado, Santtana chamou Thiago França (do Metá Metá) para tocar saxofone e flauta em ?Rollercoaster man?, Gui Calzavara para os beats de ?37?, ?Modo de voo? e ?Deu?, e o DJ e produtor Marcelinho da Lua para dar seu toque de drum and bass em ?Vale?. Lançado em julho, ?Cinética?, como foi intitulado o resultado do trabalho centrado nos sintetizadores e samples, é de um frescor pop que remete a nomes como Chvrches, Peaking Lights e Wild Belle, assim como os trabalhos recentes das brasileiras Mahmundi e Céu. Anne garante que entra nesse bolo por coincidência:

? Adoro a Céu e fiquei maravilhada quando ouvi ?Tropix? (quarto álbum da cantora e compositora). Quando saiu, ?Cinética? já estava pronto, então não tem como dizer que me inspirei nela. Mas fiquei muito feliz quando reparei que tinha uma onda parecida. O mesmo aconteceu com o disco da Mahmundi. Foi uma espécie de consenso coletivo involuntário.

?Cinética? traz nove faixas ? quatro autorais, duas parcerias, duas composições de Santtana e uma regravação motivada pela nostalgia: ?Carnivalito?, que no universo criativo de Anne ganhou sotaques de cúmbia, é uma música folclórica andina que a manauara cantava no coral aos 11 anos. Aliás, ao longo do disco, a artista canta em português, inglês e espanhol.

? Na verdade tem e não tem ? responde, quando questionada se o fato de o álbum ser trilíngue está atrelado aos estudos na Inglaterra. ? Em algumas melodias, eu já percebo que devem ser cantadas em inglês, antes mesmo de pensar na letra. É um processo bem intuitivo. Estudar fora me ajudou muito na questão da imersão musical. Antes de ir pra lá, eu não fazia shows, por exemplo. E, no curso, me apresentava em pubs a cada três semanas, tinha aulas de composição, de Pro Tools, de canto… Mas o mais legal foi ter convivido com diversas culturas, tinha gente do mundo inteiro. Pude saber que tipo de música estava sendo produzida em vários lugares.

Apostando alto em ?Cinética?, Anne acaba de se mudar de Manaus para São Paulo para facilitar a logística de shows. A princípio, a mudança vai durar uma temporada, mas a cantora e compositora sabe que pode virar definitiva:

? Devo fazer um show de lançamento em Manaus em setembro, mas a banda que vai me acompanhar é daqui, então tem uma facilidade. A cidade não chega a me assustar muito, porque eu morei alguns anos por aqui na infância.