Cotidiano

Diretor de curta da Pixar, brasileiro diz que país deve valorizar animação

62484982_SC São Paulo SP 03-11-2016 - Leo Matsuda primeiro diretor brasil.jpgSÃO PAULO – Foi olhando para dentro de si mesmo que Leo Matsuda encontrou parte da inspiração para “Cabeça e coração”, curta-metragem da Pixar que abre o longa “Moana” — a estreia de ambos está programada para o dia 5 de janeiro de 2017. Paulistano que mora há 8 anos nos Estados Unidos e tem um extenso currículo como animador, Matsuda é o primeiro brasileiro a assinar um filme do estúdio.

“Cabeça e coração” acompanha a luta interna de um jovem trabalhador, que se divide entre o seu lado lógico e pragmático e sua outra metade aventureira e livre. Como em uma radiografia, o filme mostra um embate saudável entre cérebro, que age com lógica e responsabilidade, e coração, que é todo emoção.

? Essa ideia veio do fato de eu ser descendente de japonês, que me traz um lado disciplinado e lógico. Mas eu também tenho um lado brasileiro, que gosta de festa e Carnaval. Tem essa dualidade, esse duelo interior entre esses dois lados meus? disse ele, em entrevista ao GLOBO, em São Paulo, onde está de passagem para promover o seu filme e para participar do Anima Mundi 2016.

Outra parte da inspiração, continua Matsuda, veio de seu gosto pela leitura e dos mergulhos na Enciclopédia Britânica quando era criança. Era nos grossos livros da coleção que ele passava horas lendo os artigos sobre o corpo humano e as páginas de acetato sobrepostas mostrando o corpo humano:

? Nos anos 1980, quando eu nasci, não existia internet o meu entretenimento eram os livros. Uma das minhas leituras favoritas era a Enciclopédia Britânica e um dos meus favoritos era o volume oito. Se não me engano, era dedicado à Biologia. Ia direto naquelas páginas de acetato, com as transparências, e quando combinava os sistemas do corpo humano aquilo era uma experiencia fascinante. Porque eu via como o sistema nervoso trabalhava com o sistema respiratório e o sistema circulatório. E sempre quis fazer algo ligado a isso ? disse.

Matsuda, que em 2008 entrou na Disney como aprendiz no departamento de storyboard e trabalhou nas animações “Zootopia – Essa cidade é o bicho” e “Operação Big Hero”, concorreu com outros 72 candidatos para dirigir o curta:

? O mais importante é o suporte criativo, porque não trabalhei sozinho. Várias pessoas me ajudaram e apoiaram até o final. Foi uma experiência maravilhosa.

Para o animador brasileiro, a indicação de “O menino e o mundo”, de Alê Abreu, ao Oscar de animação em longa-metragem e a atuação de outros animadores, como Carlos Saldanha, em estúdios americanos é um indicativo de que o gênero precisa de incentivo e valorização:

? No Brasil tem tanto talento, mas falta tempo para essas pessoas, porque estão dedicadas aos trabalhos comerciais. O país precisa valorizar a ideia, porque isso é tudo. É legal ver brasileiros com os filmes deles, mostra que estão se destacando com o lado criativo. Para mim, isso é fenomenal.

Quanto à possibilidade de ver um brasileiro dirigindo um longa de animação da Pixar, Matsuda é otimista. Para ele, a receita está em não esquecer a origem:

? Acho que é totalmente possível. Não só brasileiros, mas profissionais de outras nacionalidades. O mais importante é a gente não esquecer a nossa origem, de onde a gente veio. O fato de eu ter dirigido “Cabeça ou coração” está ligado à minha origem e ao meu passado. Você só tem uma visão se tem algo para contar e só tem algo para contar se tem uma experiência, um passado e uma origem.