Cotidiano

Dione Occhipinti, consultora: ?A moda está olhando para as diferenças?

“Sou formada em Direito, mas mudei radicalmente de área há oito anos. Saí de São Paulo para morar com meu marido em Paris e resolvi, de fato, estudar moda. Fui chamada pelo Istituto Marangoni, onde fiz mestrado, para dar um seminário. Gostei tanto que hoje sou professora de Fashion Image e Styling lá.”

Conte algo que não sei.

Empresas de fast fashion, hoje em dia, lucram muito mais do que marcas de luxo. Grifes como as francesas Chanel e Dior não fazem tanto dinheiro como, por exemplo, uma Zara, que apenas copia criações e não investe em um time de peso para desenhar algo novo.

Quais os movimentos mais importantes que você tem visto na moda atualmente?

Estamos num momento em que a moda está olhando para as diferenças. Na São Paulo Fashion Week, em outubro passado, vimos um desfile com transexuais, outros com mulheres não necessariamente magras. Há campanhas com modelos com vitiligo também. Não sei se isso vai durar para sempre ou se é só uma fase. Mesmo assim, é superválido. A sustentabilidade também tem sido um movimento interessante. Muitas marcas estão pesquisando e discutindo a reutilização de materiais e questionando o consumo desenfreado, que é incentivado principalmente pelas lojas de fast fashion.

Apesar desse incentivo ao consumo, as fast fashion têm um certo papel de democratização do acesso, não?

Acho maravilhoso quando uma rede mais popular faz uma colaboração com um estilista conceituado. É bom para os dois, já que os criadores vão ser conhecidos por uma camada que não tinha acesso ao trabalho deles, e a marca vai mostrar coisas, de fato, originais. Mas a forma como eles incentivam a inutilização tão rápida das peças é muito ruim.

Como assim?

As pessoas compram e, pelo fato de as roupas serem baratas, param de usá-las muito rapidamente. Em vez de levar para casa algo especial, levam apenas tendências efêmeras.

Muitas marcas de luxo estão colocando peças nas prateleiras logo após o desfile. Isso é uma novidade no fluxo de trabalho, já que as roupas apresentadas nas passarelas costumam chegar ao consumidor final seis meses depois. O que acha dessa mudança?

Esse movimento, conhecido lá fora como “see now, buy now”, na minha opinião, é uma reação dessas empresas que estão sendo engolidas por fast fashion. Marcas populares vêem um desfile, copiam as peças mais promissoras e vendem em velocidade recorde. No entanto, a meu ver, isso compromete a criatividade e as propostas originais que marcas de luxo costumam apresentar, já que o tempo para produção se torna muito mais curto.

Você é professora numa escola de moda no exterior. Como vê a educação na área de moda aqui no Brasil?

Acho que o Brasil deveria desenvolver mais a criação individual. É preciso estimular os estudantes a buscar sua diferença no mundo da moda e não apenas se contentar com releituras ou inspirações do que se vê lá fora. Isso é uma questão muito discutida na Europa, principalmente na Central Saint Martin, em Londres, uma das escolas de moda mais importantes do mundo. Falo para os meus alunos: “Você está copiando Alexander McQueen. Por que o mundo da moda vai te querer se já existe um McQueen?” As pessoas têm muita necessidade de aceitação e afirmação, mas não se sentem seguras e procuram modelos prontos porque não querem ou têm medo de inovar. É essa criação que precisamos estimular..