Cotidiano

Dilma fala em golpe e acusa Temer e Cunha

Garantindo estar pronta para resistir por todos os meios legais para evitar o afastamento definitivo, a presidente admitiu que pode ter cometido erros

Brasília – “Estou vivendo a dor da traição, a dor da injustiça”, declarou Dilma Rousseff a apoiadores do governo concentrados em frente ao Palácio do Planalto, ontem, minutos após ser notificada de seu afastamento da Presidência da República pelo primeiro-secretário do Senado, Vicentinho Alves.

 “Ao longo da minha vida enfrentei muitos desafios, enfrentei o desafio terrível e sombrio da ditadura, da tortura, enfrentei como muitas mulheres desse País a dor indizível da doença [teve câncer]”, ressaltou ela, enquanto manifestantes gritavam em coro “fora Temer”.

Garantindo estar pronta para resistir por todos os meios legais para evitar o afastamento definitivo, a presidente admitiu que pode ter cometido erros, “mas jamais cometi crimes”. Também lembrou sua história de luta, com destaque para o fato de ter sido a primeira mulher a virar presidente do Brasil. Momentos antes, em rápido pronunciamento à imprensa, ela classificou a decisão do Congresso como resultado de uma fraude. “Nossa democracia está sendo objeto de um golpe”, disparou.

DIRETO AO ASSUNTO

Na fala a aliados, Dilma acusou nominalmente aqueles que, em sua avaliação, foram os grandes responsáveis por seu impeachment. “Esse processo conduzido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e pelo vice-presidente Michel Temer é uma espécie de golpe moderno, um golpe feio, um golpe rasgando nossa Constituição”, disse a cerca de três mil pessoas. “Enquanto eu ficar de pé, de cabeça erguida, ficará claro que cometeram contra mim uma inominável injustiça. Eu não estou cansada de lutar, estou cansada dos desleais e traidores. Para mim, o último dia do meu mandato é 31 de dezembro de 2018”, afirmou.

URNAS DESRESPEITADAS

Em falas interrompidas por aplausos e gritos de apoio, Dilma Rousseff lembrou que foi eleita por 54 milhões de brasileiros e disse que o que está em jogo não é somente o seu mandato. “É o respeito às urnas. À vontade soberana, ao povo brasileiro e à Constituição. São as conquistas dos últimos 13 anos. O que está em jogo é a proteção às crianças, jovens chegando às universidades e escolas técnicas. O que está em jogo é o futuro do País, esperança de avançar cada vez mais”.