Esportes

Destinos e imagens em jogo: Classificação no futebol masculino pode depender até de sorteio

Levando-se em conta a falta de preparação ao longo da história, o mais justo é dizer que o futebol brasileiro nunca fez da Olimpíada uma prioridade. Mas a obsessão do país por resultados fez a trajetória de derrotas sempre eleger vilões e impor a estes as consequências. Carreiras ficaram marcadas, ao menos por um período. Camisa da marta seleção feminina

Exemplos são treinadores como Vanderlei Luxemburgo, após a eliminação em Sydney-2000, ou Mano Menezes, após a prata em Londres-2012. Nesta quarta-feira, ao decidir contra a Dinamarca a sua vida no Rio-2016, o Brasil terá personagens vivendo a tênue linha entre prosseguir no caminho do ouro ou sentir na pele os efeitos colaterais.

O Brasil precisa vencer para garantir a classificação. Mas pode até depender de um sorteio. Isto acontecerá caso a seleção empate seu jogo e também haja empate, pelo mesmo placar, no confronto entre Iraque e África do Sul. Neste caso, brasileiros e iraquianos estariam iguais em todos os critérios.

Não é de estranhar que a principal esperança também concentre a maior parte da pressão. Neymar passou a ser alvo de certa rejeição na Olimpíada, na medida em que resultados não vieram. Em Brasília, começaram os sinais de impaciência no jogo com o Iraque. Na saída do hotel para o aeroporto, antes da viagem a Salvador, ouviu críticas de torcedores. Os recordes quebrados nos Jogos Rio-2016

Em Salvador, um grupo de meninas o esperava com gritos de apoio. Em arenas dos Jogos Olímpicos, sucessos de atletas brasileiros são saudados com o coro de ?é melhor do que Neymar?. Capitão do time, ele não quis falar após o empate com o Iraque. Houve quem esperasse uma defesa do elenco.

Rogério Micale, que vive sua primeira experiência numa competição de grande visibilidade, teve pouquíssimo tempo com o grupo, após lesões, falta de liberação de jogadores ou inclusão dos atletas com mais de 23 anos tê-lo obrigado a fazer mudanças. Mas parece saber que, no Brasil, um veredicto sobre seu trabalho terá muito a ver com o resultado. Durante o jogo, surpreendeu ao deixar a área técnica e sentar-se no banco por longo período do segundo tempo. Em campo, só os jogadores eram visíveis. Os atletas negaram qualquer incômodo.

? O estádio estava cheio. Não sei se nos comunicaríamos bem ? justificou ele, que até aqui tem 22 dias à frente do time.

? Não creio que tenhamos tido tempo de criar um perfil tão forte, por exemplo, para estes momentos difíceis, de ansiedade. Além das ferramentas para penetrar em defesas bem postadas. Atualmente, todo mundo tem informação, o futebol mundial evoluiu, principalmente para se fechar atrás. Já não se faz futebol de qualquer forma. É normal termos um momento de luto. Mas ainda acredito. Dependemos de nós. Conheça todos os esportes olímpicos da Rio-2016

Renato Augusto também tem desafios pela frente, que vão influir, inclusive, na avaliação de sua futura presença na seleção principal. Apresentou-se no fim da preparação, treinou pouco com o grupo, mas foi eleito um dos vilões e tem ouvido vaias. Seja pela falta de estrutura coletiva do time, seja por não viver boa fase, o fato é que as cobranças ligam seu desempenho à ida para o futebol chinês.

? A bola não está entrando, e o nervosismo toma conta. Sabia que a vaia seria em mim. Sou um dos mais experientes. Quem vive no futebol precisa estar preparado ? disse Renato Augusto, que contratou um preparador pessoal e o levou para a China. ? Eu me sinto bem. Investi em mim.

Gabriel Jesus é outro que se cerca de dúvidas. Uma vitória sobre a Dinamarca, recolocando a seleção no caminho do ouro, pode lhe dar novas oportunidades de corresponder à expectativa que suas atuações no Palmeiras criaram. Ao contrário, a queda precoce reforçaria o discurso de que sua valorização no mercado foi precipitada. A cada dia, mostra-se mais incomodado ao ser perguntado se a transferência para o Manchester City mexeu com seu emocional.

? Toda hora me perguntam isso ? reagiu. ? Não sei explicar. A gente está tentando. Tem que tirar essa zica logo. A gente entende a torcida, mas o brasileiro precisa entender que o futebol mudou.

DESEQUILÍBRIO DAS OPÇÕES DO ELENCO

Se os desastres olímpicos do Brasil geraram momentos de turbulência para muitos personagens ao longo da história, o fato é que o futebol permitiu a recuperação de muitos deles. Por exemplo, a seleção tetracampeã mundial de 1994 tinha Romário, Bebeto e Taffarel, derrotados em Seul-1988. Em 2002, havia Ronaldo e Rivaldo, por exemplo, eliminados pela Nigéria na semifinal olímpica.

Micale terá que definir, hoje, o substituto de Thiago Maia, suspenso. Para a posição do volante, tem dois especialistas: Rodrigo Dourado, do Internacional, e Walace, do Grêmio. Num elenco que, pelo regulamento, só pode ter 18 jogadores, a fartura no setor é outro tema que gera questionamentos. Como costuma escalar dois meias e três atacantes, mas apenas um volante mais defensivo, cria-se uma aparente desproporção no elenco. Ele tem dois reservas para a cabeça-de-área e apenas mais dois para cobrir todas as cinco posições do meio para a frente: Rafinha e Luan. E o meia do Barcelona está na Olimpíada com limitações físicas.

Mesmo com poucas peças na frente, há uma expectativa de que Micale possa mexer em outras posições. Em todos os jogos, lançou Luan e Rafinha no segundo tempo. O atacante do Grêmio é cotado para entrar, assim como o lateral William, do Internacional, que entrou bem no empate contra o Iraque.