Esportes

Desfalques no torneio de futebol olímpico geram polêmica com a Fifa

BRASÍLIA – As convocações de jogadores exigiram quase um exercício de contorcionismo das seleções para que obtivessem a liberação dos clubes. Em campo, um torneio que pendeu para o lado da imprevisibilidade, por causa dos times jovens e formados à última hora. Um tanto deslocado no universo olímpico, com jogos fora da sede e sem a elite do esporte, o torneio masculino de futebol é alvo de discussão. Técnicos e dirigentes pressionam para que a Fifa crie regras que protejam mais as equipes.

Futebol 13 de agosto

A principal reivindicação é a inclusão da competição no calendário oficial da entidade, o que obrigaria a liberação de jogadores. Ao apresentar a proposta, os próprios técnicos fazem uma ressalva: talvez não seja do interesse da Fifa criar uma competição com nível que rivalize com os torneios que ela já organiza, mesmo os que tem restrição de idade.

? O universo de seleções hoje, no mundo todo, não cria qualquer facilidade para treinadores. Nos Jogos Olímpicos, tampouco. Por isso, considero que o técnico mais inteligente de todos é Tata Martino, que renunciou ? disse o colombiano Carlos Restrepo, rival deste sábado do Brasil, referindo-se ao ex-técnico da Argentina, que deixou o cargo em meio à crise da federação do país e à dificuldade para montar uma lista para os Jogos Olímpicos.

Antes de convocar a seleção portuguesa, o técnico Rui Jorge contabilizava mais de 20 recusas de clubes em liberar jogadores. Chegou a qualificar de ?surreal? o exercício de elaborar a lista final de 18 nomes. Inicialmente, chamou 17, por ter recebido uma negativa minutos antes do anúncio oficial. Já no Brasil, disse que chegou a suplicar por jogadores.

O presidente do Comitê Olímpico Português, João Manuel Constantino, cobrou uma posição do Comitê Olímpico Internacional (COI) junto à Fifa após a eliminação portuguesa nas quartas de final, com derrota por 4 a 0 para a Alemanha, neste sábado. Ele entende que a presença do futebol feminino no programa olímpico é mais interessante para a Fifa do que a do masculino.

? Penso que a Fifa não quer retirar o futebol do programa olímpico, porque tem forte investimento no futebol feminino, que tem as melhores jogadoras na disputa. Mas a situação exige uma nova postura do COI. Não é sustentável um torneio sem os melhores jogadores, com tantas dificuldades para que se formem os times ? afirmou Constantino.

Rio Olympics Soccer MenO técnico do Brasil, Rogério Micale, talvez tenha tido menos dificuldades do que outros colegas. Contou, em alguns casos, com a compreensão de clubes de que, sendo a competição no país, era de bom-senso atender a pedidos de liberação dos próprios jogadores, que sonhavam com a medalha de ouro. O treinador repetiu algumas vezes que, no lugar de lamentar, acreditava no elenco convocado.

No entanto, rivais do Brasil, como o técnico da África do Sul, Owen da Gama, mostraram insatisfação com tantos problemas enfrentados para formar as equipes.

? Claramente, a competição teria que fazer parte do calendário da Fifa. Ajudaria na preparação, na composição dos times e até na qualidade do espetáculo. Nós perdemos muitos jogadores, outros chegaram tarde ? disse da Gama, que recebeu três dos 18 convocados a três dias da estreia.

A mesma posição teve o dinamarquês Niels Frederiksen, que perdeu três jogadores após divulgar a lista final e teve que aguardar, no Brasil, por jogadores liberados à última hora por seus clubes de origem.

? É uma pena. Acho que há uma questão política aí, que não me cabe discutir. Por enquanto, temos que lidar com a situação como ela é. Mas caberia à Fifa colocar o torneio em seu calendário oficial e termos regras claras. A Fifa tem que decidir se as coisas devem ser diferentes ? afirmou.

Pelas normas atuais, há uma recomendação da Fifa para que os clubes cedam os jogadores de até 23 anos. Quanto aos três s acima da idade, a liberação é opcional. Na prática, a decisão quanto a qualquer dos convocados tem cabido aos clubes.