Cotidiano

Desembargador do Carandiru sugere que imprensa é financiada pelo crime organizado

SÃO PAULO ? Uma semana após afirmar que não houve massacre, mas legítima defesa, na ação da Polícia Militar de São Paulo no Centro de Detenção do Carandiruque terminou na morte de 111 detentos durante uma rebelião em 1992, o desembargador Ivan Sartori, do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, acusou a imprensa de ter feito uma cobertura tendenciosa sobre o caso e insinuou que parte dela, além das organizações de direitos humanos, receberia dinheiro do crime organizado.

?Diante da cobertura tendenciosa da imprensa sobre o caso Carandirú [sic], fico me perguntando se não há dinheiro do crime organizado financiando parte dela, assim como boa parte das autodenominadas organizações de direitos humanos?, escreveu. O desembargador afirmou que a acusação feita pelo Ministério Público é falha e que a Justiça não poderia fazer milagre. ?Que pode algum assassino ter agido ali no meio dos policiais, não se nega. Eu sempre ressalvei isso. Mas, qual é ou são eles? Esse o [sic] problema. O Ministério Público não individualizou. Preferiu denunciar de ?baciada?, como disse um dos julgadores?, publicou.

No último dia 27, Ivan Sartori, que já foi presidente do TJ, votou pela absolvição dos policiais, além da anulação dos júris que condenaram os policiais. Outros dois desembargadores votaram pela anulação do processo, mas não pela absolvição.

MASSACRE COMPLETOU 24 ANOS NO DOMINGO

A operação da Polícia Militar ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, após uma briga entre presos de facções rivais e que evoluiu para uma rebelião dos detentos no pavilhão nove. Em pouco mais de 40 minutos, 111 detentos do pavilhão foram mortos. Durante o processo que denunciou os policiais militares que atuaram na operação, 74 PMs receberam penas que vão de 48 a 624 anos. Nenhum deles, no entanto, foi preso.

O coronel Ubiratan Guimarães, que comandou a operação, foi condenado a 632 anos de prisão em 2001. No ano seguinte, foi eleito deputado estadual utilizando como número na urna o total de mortos na operação. Com direito a foro privilegiado e recursos na Justiça, foi absolvido em 2006. No mesmo ano, foi morto. O Carandiru foi demolido em 2002 e se transformou no Parque da Juventude.

*Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire