Cotidiano

Descubra por que essa mulher se acha feia (e como é possível tratar)

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LONDRES, Inglaterra ? Quando Alanah se olha no espelho, o que ela vê é uma mulher feia. Muito feia. A contradição é que sua aparência se encaixa no que há de mais padronizado sobre beleza: jovem, branca, loura, olhos azuis, pele lisinha. É dificílimo encontrar alguém que não a ache bonita ? exceto ela mesma. Alanah, de 20 anos, sofre de Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), uma condição que faz com que as pessoas se tornem obcecadas por “defeitos” percebidos em sua aparência. Acredita-se que uma em cada 50 pessoas sofra de TDC, mas muitos de nós ? e até alguns médicos ? desconhecem sua existência.

? Eu vejo marcas em todo o meu rosto, que minha mãe diz não ver. Eu vejo que minha pele é simplesmente acidentada e manchada. Vejo meu nariz torto e grande demais e acho que ele se destaca demais. E meus olhos são muito pequenos. Eu achava que era cruel para outras pessoas ter que ver o meu rosto, que realmente é nojento ? disse Alanah em uma entrevista à “BBC”.

Quando sua condição estava no ápice, ela mantinha uma intensa rotina diária de maquiagem para tentar disfarçar imperfeições. E, mesmo assim, no final das contas, era comum ela preferir não sair de casa. Ainda hoje, quando já está em tratamento, alguns sintomas ainda persistem.

? Minha rotina na época (do auge do transtorno) era de quatro ou cinco camadas de base e corretivo, a maquiagem dos olhos sempre precisava ser feita de forma muito pesada. Então, a cada pequena imperfeição eu tinha que retocar, e ficava retocando constantemente.

allanah - credito Rankin-BBC.jpgEnquanto ainda era uma criança de cabelos encaracolados, ela adorava ser fotografada e aparecer no álbum da família, mas, aos 14 anos, tudo começou a mudar, por razões que ela nunca entendeu.

? Eu não percebi [os sinais] na época, mas, olhando para trás agora, eu sei que eles são sintomas do TDC. Por exemplo, quando estava na escola, sempre ficava muito atenta ao meu redor para ver se alguém estava olhando para mim, rindo, falando sobre mim. E havia janelas grandes na minha escola, e eu analisava o meu reflexo nelas constantemente e ia ao banheiro com muita frequência para me ver no espelho.

Aos 15 anos, ela parou de ir à escola. Ela simplesmente não conseguia sair dua carro quando sua mãe, Scarlett, parava na porta da escola para deixá-la. Isso fez Alanah se tornar muito isolada, e foi devastador para a mãe observar a mudança em sua personalidade.

? Nos primeiros dois ou três anos, simplesmente não sabíamos o que era ? disse Scarlett, referindo-se à dificuldade de se obter o diagnóstico. ? De uma menina muito confiante e proativa, ela se tornou uma adolescente fechada, que não conseguia sair de casa.

Levou muito tempo para Alanah e sua mãe para obterem um diagnóstico de TDC. Alanah foi diagnosticada muitas vezes como tendo angústia adolescente ou ansiedade social até que finalmente sua condição foi corretamente identificada na Clínica Maudsley no sul de Londres. Sua recuperação começou durante uma estadia de cinco meses no North London Priory e agora ela tem sessões regulares de terapia cognitivo-comportamental.

Segundo Alanah, obter um diagnóstico de TDC é difícil porque existe muito pouca consciência do transtorno e também porque quem sofre do problema é tão envergonhado em relação à sua aparência que, em geral, não é capaz de falar abertamente sobre isso.

? Sei disso por exeperiência pessoal. Por exemplo, minha principal preocupação com a aparência sempre foi o meu nariz, mas levei três anos de terapia para conseguir dizer à minha família e ao meu terapeuta que era isso. Eu não queria nem apontar para o meu nariz, para você ter ideia ? contou ela.

Com a recuperação indo bem, Alanah está agora na universidade cursando psicologia. Ela espera continuar pesquisando sobre Transtorno Dismórfico Corporal futuramente, em um doutorado. A moça também pretende virar terapeuta cognitivo-comportamental para ajudar outros com mesma doença.