Cotidiano

Descoberta de hélio na África pode salvar fornecimento global

RIO – A descoberta de uma enorme reserva de hélio na Tanzânia, no Leste da África, pode salvar o fornecimento global do gás tanto por seu grande volume quanto pelo método inédito com o qual foi encontrada. Muito mais do que encher balões de festa ou deixar nossas vozes engraçadas quando aspirado, o hélio tem diversas aplicações práticas, sendo fundamental – e insubstituível – como refrigerante dos poderosos ímãs instalados em aparelhos de ressonância magnética e aceleradores de partículas. Nos últimos anos, no entanto, especialistas têm alertado para o risco do fim dos atuais estoques, concentrados nos EUA e previstos para acabar no início da década de 2020.

Isso porque, apesar de ser o segundo elemento mais abundante no Universo, o hélio é extremamente raro na Terra, onde está presente em uma concentração estimada em apenas cerca de 5 partes por milhão na atmosfera. Até agora, as reservas subterrâneas conhecidas do gás só tinham sido encontradas por acaso, como consequência da exploração de petróleo. Mas pesquisadores das universidades de Oxford e Durham, no Reino Unido, em parceria com a empresa norueguesa Helium One, decidiram buscar diretamente por hélio.

Com base em parâmetros normalmente usados na procura por petróleo, os cientistas levaram em consideração fatores como os tipos de rochas que poderiam aprisionar o gás, assim como ele chega a estas reservas subterrâneas, na sua busca. Assim, eles descobriram que estar perto de um vulcão seria crucial neste processo, já que a atividade vulcânica ajudaria a liberar e transportar o hélio proveniente do lento decaimento de elementos radioativos, como o urânio, nas profundezas do planeta.

– Pudemos demonstrar que os vulcões têm um importante papel na formação de reservas viáveis de hélio – destaca Diveena Danabalan, pesquisadora da Universidade de Durham que apresentou os resultados do levantamento na Conferência Goldschmidt, dedicada à geoquímica e que acontece desde domingo até o próximo sábado, 1º de julho, em Yokohama, no Japão. – A atividade vulcânica provavelmente fornece o calor necessário para liberar o hélio acumulado nas rochas antigas da crosta, mas a localização tem que ser muito certa. Se as armadilhas do gás estiverem próximas demais de um dado vulcão, há o risco do hélio ficar fortemente diluído nos gases vulcânicos, como no dióxido de carbono.

Segundo Chris Ballentine, professor da Universidade de Oxford e um dos líderes da pesquisa, a combinação do entendimento atual sobre a geoquímica do hélio com imagens sísmicas das armadilhas de gás na Tanzânia fez especialistas independentes calcularem que a reserva agora encontrada na Tanzânia guarda aproximadamente 54 bilhões de pés cúbicos, ou cerca de 1,53 trilhão de litros, do gás. A quantidade é suficiente para encher 600 mil piscinas olímpicas ou suprir 1,2 milhão de aparelhos de ressonância magnética quando liquefeita.

O volume da nova reserva também representa cerca de sete vezes o atual consumo anual de hélio em todo mundo em aplicações que também incluem a refrigeração do combustível de foguetes, soldagens, detecção de vazamentos e misturas para mergulhos a grandes profundidades, entre outras. Além disso, ela tem mais do dobro do estoque hoje guardado nos EUA na Reserva Governamental de Cliffside Field, de 685 bilhões de litros, e privatizada em 1996.

– Agora que entendemos o método, podemos prever mais grandes descobertas de hélio – diz Ballentine. – Isso vai ajudar a assegurar as futuras necessidades de hélio da sociedade.