Cotidiano

Derrotado nas primárias, Nicolas Sarkozy sugere que abandonará política

FRANCE-ELECTION_SARKOZYPARIS ? O grande perdedor das primárias da direita na França, neste domingo, foi o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que acabou em terceiro lugar e reconheceu a derrota logo após os primeiros resultados, deixando no ar que poderia se afastar de vez da política. A alta participação ? entre 3,9 e 4,3 milhões de pessoas votaram, segundo uma projeção feita pela empresa Elabe ? pode ajudar a explicar o desfecho, que não era claro nas últimas pesquisas às vésperas da eleição. Surpreendendo todas pesquisas, o ex-premier François Fillon foi o mais votado, seguido por Alain Juppé ? que disputará com Fillon a segunda volta no próximo domingo. franca_2011

? Eu quis as primárias e elas foram um sucesso. Mas não consegui convencer os eleitores ? lamentou-se Sarkozy, em um discurso emocionado, transmitido na TV. ? Quero agradecer aos militantes do meu partido que nunca deixaram de ser fieis a mim. O presidente da legenda (Os Republicanos), Laurent Wauquiez, soube manter a unidade em um momento particularmente difícil.

Sem dizer diretamente que se afastava da política, o ex-presidente disse ainda ser a hora de ?encarar a vida com mais paixão privada e menos paixão pública?. E deixou clara sua preocupação com a ascensão da extrema-direita, pedindo que seus eleitores nunca escolhessem os ?caminhos extremos?.

? A França merece muito mais do que a escolha pelo menos pior. Desejo o melhor para o meu país e para aqueles que terão de conduzir a França que eu amo ? afirmou, elogiando os dois candidatos que irão disputar a vaga daqui a uma semana, mas escolhendo claramente seu favorito. ? Tenho muita estima por Juppé, mas as escolhas políticas de Fillon são mais próximas das minhas.

Até a semana passada, o prefeito de Bordeaux, Alain Juppé, de 71 anos, era dado como favorito nas sondagens, mas acabou atrás de Fillon, com apenas 28% dos votos, contra 44% do adversário. Mas Sarkozy acabou sendo mais prejudicado por uma onda tardia de apoio ao seu ex-primeiro-ministro, Fillon, de 62 anos, que disputou a vaga com uma plataforma de choque para a economia francesa, com cortes de gastos profundos e recuperação da mão de obra.

Já Sarkozy, que aparecia com chances de ir para o segundo turno na semana que vem, novamente optou por uma guinada à direita, apresentando-se como o ?defensor da maioria silenciosa?. Seu discurso, centrado na autoridade, segurança, identidade e no combate ao Islã radical, lhe valeu um forte apoio nas fileiras da legenda, mas suas declarações sobre os ?ancestrais gauleses? dos franceses e ?a tirania das minorias? parecem ter afastado simpatizantes da direita moderada e de centro.

De personalidade forte, o ex-presidente provocava adoração entre alguns, mas também uma forte rejeição. Seu posicionamento e seu estilo combativo, considerado exagerado por seus críticos, levaram à criação de uma frente contrária a ele ? ?Tudo, menos Sarko? ? desde a campanha presidencial de 2012, quando Sarkozy perdeu na disputa com o socialista François Hollande, atual presidente.