Cotidiano

Derrota histórica para a extrema-direita gera novas críticas a Merkel

G20-CHINA_-GU22T6LP1.1.jpg

BERLIM – A União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler federal Angela Merkel, sofreu uma derrota histórica na Alemanha: caiu para terceira força em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. O partido populista de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) tomou seu lugar como segunda força, e ameaça ganhar ainda mais força nas eleições federais do próximo ano.

Leif-Erik Holm, o candidato do AfD em Mecklemburgo, disse que o resultado seria comemorado como ?o início do fim da carreira de Merkel?.

? É um tapa na cara de Merkel. Os eleitores deram uma declaração clara contra as políticas desastrosas de imigração ? atacou a colíder do AfD, Frauke Petry.

merkel & refugiados

Na China, onde participa da cúpula do G-20, a chanceler federal não comentou ainda o resultado. Mas o ministro do Interior, Thomas de Maizière, vice-presidente da CDU, tentou relativar o papel de Merkel diante do AfD, um partido fundado em 2013 que encontrou na política de refugiados da chanceler sua mais eficiente propaganda eleitoral.

? A CDU apenas como o terceiro partido, depois do AfD, vai influenciar fortemente o debate político dos próximos meses ? disse o cientista político Oskar Niedermeyer, da Universidade Livre de Berlim.

Embora apenas 2% dos mais de um milhão de refugiados que chegaram à Alemanha no ano passado tenham sido destinados ao estado (cerca de 20 mil), para a população local, de 1,6 milhão de pessoas, o tema imigração foi o que mais pesou na votação.

Maizière tentou, com muita cautela, distanciar-se da sua chefe, afirmando que os acontecimentos do ano passado não poderiam de forma alguma se repetir, mas lembrou, em entrevista ao jornal ?Welt?, que a tendência de fortalecimento de partidos de extrema-direita ?existe atualmente em toda a Europa?.

Dentro de duas semanas, o pleito estadual será em Berlim, onde o AfD está confiante de prosseguir a sua série de vitórias, enquanto a CDU tenta reverter resultados decepcionantes pelo país. A última prova de fogo para os democratas cristãos antes da eleições federais de setembro do próximo ano será em maio, quando o estado mais populoso da Alemanha, Renânia do Norte-Vestfália, elegerá um novo Parlamento.

Pela primeira vez na sua história, a CDU foi superada por um partido que fica à sua direita, o que significa o fim de uma tradição que começou pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Merkel precisará mais uma vez ouvir as críticas das bases dos conservadores, sobretudo de Horst Seehofer, presidente do partido ?irmão?, a União Social Cristã (CSU). Para Seehofer, governador da Baviera, com a decisão de abrir as fronteiras, em setembro do ano passado, a chanceler federal ?criou problemas para o país? com efeitos de muitos anos e tornou possível a ascensão da extrema-direita.

GERMANY-EUROPE-VOTE-MIGRANTS-GED2T6QMM.1.jpg

POLÍTICAS QUESTIONADAS

Sessenta e três por cento dos alemães consideram a política de Merkel responsável pela ascensão do AfD. Dois terços são contra a entrada de mais refugiados no país. Sua aprovação chegou ao nível mais baixo desde que assumiu o governo, há dez anos: 45%.

? Isto não é bom para nós. Os que votaram pelo AfD estavam mandando uma mensagem de protesto ? afirmou Michael Grosse-Brömer, um dos principais líderes políticos no Parlamento ligados a Merkel.

Até agora, o AfD cresce mas não tem a chance de participar de um governo. Todos os partidos representados no Parlamento federal descartaram qualquer tipo de aliança com os direitistas.

Mecklemburgo, o estado alemão que tem o litoral mais longo, no Báltico, e a mais baixa densidade demográfica, é ainda o estado mais pobre do país, mas prosperou bastante desde a reunificação alemã, há mais de 25 anos.

Embora tenha perdido mais de cinco pontos, o vencedor foi também o governador Erwin Sellering, do Partido Social Democrata (SPD), o mais votado, com 30,4%. Sellering ainda não decidiu se voltará a formar uma ?grande coalizão?, com a CDU, ou se vai tentar uma aliança vermelha-vermelha-verde ? do SPD com os ex-comunistas do ?Linke? (Esquerda) e com os verdes.