Cotidiano

Depois de relação próxima, Dilma diz que Cabral 'jamais' foi aliado

BRASÍLIA – Apesar de a ex-presidente Dilma Rousseff declarar que “jamais” foi aliada de Sérgio Cabral, ex-governador do Rio preso nesta quinta-feira, a proximidade entre os dois é evidenciada por campanhas, fotos, frases e discurso, desde antes de a petista ganhar a disputa para o Planalto. O bordão “estamos juntos” foi usado por ambos por várias vezes.

? Podem falar o que quiserem. Nós, de nossa parte, estamos juntos – disse Dilma Rousseff em 2013, ainda no primeiro mandato presidencial, durante cerimônia de assinatura de contrato do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) da Zona Portuária e Centro. Logo antes, o peemedebista havia afirmado em discurso que “aqueles na política” não conseguiriam “dividir” a união dos dois.

? Aqueles na política que tentam me dividir com a presidente Dilma não conseguirão. Nós estamos unidos, firmes e olhando o Rio e o Brasil ? declarou Cabral, valendo-se do termo “presidenta”, que dava o tom do apoio ao governo, em um contexto bem diferente da relação entre PT e PMDB, há três anos.

A assessoria de Dilma Rousseff informou que Sérgio Cabral “jamais foi aliado” de Dilma, citando que ele apoiou o rival da petista nas eleições presidenciais de 2014, Aécio Neves (PSDB). Em nota, a assessoria também diz que Sérgio Cabral “orientou seus liderados no PMDB a votarem favoravelmente” ao impeachment.

Apesar da aliança do PMDB do Rio com os tucanos, Cabral havia sido uma voz dissonante, defendendo a aliança com Dilma. Em março daquele ano, Cabral havia reiterado que seu apoio seria da então presidente.

? No PMDB do Rio não há dúvida, nós estamos juntos com Dilma e Michel (Temer, vice-presidente). Somos Dilma Rousseff em 2014, somos amigos da presidente Dilma, não há empecilho. Política é feita de idas e vindas, eu compreendo meus amigos do PMDB que ficaram chateados com a postura de companheiros do PT do Rio, mas nós temos que superar isso porque estamos aí há sete anos e três meses ? disse.

O nome do ex-governador fluminense chegou a ser ventilado para o ministério de Dilma Rousseff no fim de 2013, mas não foi adiante. Entre as arestas que Dilma visava a aparar, estavam desentendimentos já com Eduardo Cunha, correligionário e conterrâneo de Cabral. Dois anos depois, Cunha – que também está preso pela Operação Lava-Jato – era presidente da Câmara e abriu o processo de impeachment da petista, que culminou com a destituição dela.

Antes mesmo de suceder o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República, Dilma já mencionava Cabral e uma vitrine de governo do peemedebista em um debate presidencial: a experiência das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A expansão a nível nacional das UPPs estava nas propostas de Rousseff de 2010.

Nessa campanha, por redes sociais, Dilma havia mostrado proximidade com Cabral, que governava o Rio. No último mês antes da votação, a petista agradeceu ao peemedebista pela preocupação com Gabriel, neto recém-nascido da candidata. “Obrigada pelo carinho, Cabral. O Gabriel está ótimo, uma gracinha!!! #estamosjuntos!”, publicou. Um mês depois de eleita, voltou a mencionar Cabral e o mote do “estamos juntos”: “Quero dar minha solidariedade ao povo do Rio e apoio ao Sergio Cabral. Estamos juntos nesse enfrentamento com o crime organizado”.

Em março de 2014, Cabral fez postagens no Facebook e Twitter agradecendo Dilma Rousseff pelo “apoio irrestrito desde o primeiro momento”, na esteira da pacificação do Complexo da Maré. Um mês depois, disse obrigado à petista por “todo o carinho que sempre deu ao Rio de Janeiro e por demonstrar seu amor ao nosso estado, no apoio à ocupação do Complexo da Maré”.

“O Brasil cresceu e o Governo Federal encarou o desafio de investir e mudar a infraestrutura no país, olhando a questão portuária e aeroportuária. Como ela (Dilma) disse: aqui no Rio, batemos recordes de cooperação com o governo federal para obras de mobilidade urbana”, completou, no dia em que a ex-presidente visitou as obras da Linha 4 do Metrô em São Conrado.

Cabral também recebeu manifestações de apoio de outros petistas durante o governo Dilma. Cândido Vaccarezza (PT-SP), ex-líder do governo, enviou mensagem de celular a Cabral durante a CPI do Cachoeira, em 2012: “A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe você é nosso e nós somos teu (sic)”.