Cotidiano

Delfim Neto recebeu R$ 240 mil da Odebrecht por consultoria sem contrato

SÃO PAULO. O ex-ministro Antonio Delfim Neto disse em depoimento prestado nesta semana ao delegado Rodrigo Sanfurgo de Carvalho, da Lava-Jato, ter recebido R$ 240 mil em espécie da Odebrecht em outubro de 2014 em função de “serviço de consultoria”. O pagamento foi registrado no sistema do Setor de Operações Estruturadas da companhia, o mesmo por onde foram pagas propinas para dezenas de agentes públicos. O depoimento foi divulgado nesta sexta-feira pelo site do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Na oitiva, o ex-ministro disse ter solicitado à Odebrecht que o pagamento fosse realizado em dinheiro e para um de sobrinho, identificado no depoimento como Luiz Appolonio Neto, “por motivos pessoais” e “razões de conveniência”. Delfim admitiu não ter declarado o pagamento da Odebrecht em sua declaração de renda, tendo optado por fazer uma retificação da declaração “para inserir o valor”.

O ex-ministro afirmou que “no caso em questão, não possui um contrato firmado (com a Odebrecht), mas assegura que prestou tal consultoria e recebeu por ela o valor de R$ 240 mil”.

Ao ser indagado sobre o teor dos serviços que costuma prestar, disse que “por vezes presta consultoria por telefone ou pessoalmente” e que “há mais de 20 anos preta serviços para a Odebrecht”, inclusive possuindo um contrato formal com a empresa para isso, mas que não tem relação com os R$ 240 mil citados pela polícia.

Aos 88 anos, Delfim Neto foi ministro da Fazenda durante o regime militar e continuou a exercer influência no poder nos governos civis, de Sarney a Lula, passando por Collor e Fernando Henrique. O depoimento foi prestado no último dia 15.

Neto já era investigado na Lava-Jato por ter sido mencionado em depoimento do ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques Azevedo, como beneficiário de R$ 15 milhões que teriam sido cobrados pelo ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antônio Palocci. De acordo com o ex-executivo, trata-se de valor referente a consultoria supostamente prestada para a formação do grupo de empresas que construíram a Usina de Belo Monte, e que teria sido cobrado para Delfim tanto pelo PT quanto pelo PMDB.