Cotidiano

Defesa do comércio une FMI, Banco Mundial e OMC

WASHINGTON – A defesa da globalização e do livre comércio marcou a semana da reunião anual de outono (no Hemisfério Norte) do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, na capital americana. O objetivo era se contrapor ao aumento do nacionalismo e do protecionismo em todo mundo. E, nesta sexta-feira, o ponto alto da estratégia será um debate sobre ?como fazer o comércio um motor de crescimento para todos?, com a participação dos chefes do FMI (Cristine Lagarde), Banco Mundial (Jim Yong Kim) e da Organização Mundial de Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevedo.

? Muitas das pessoas (que reclamam da globalização e do livre comércio) perderam seus empregos pela automação, pela inovação tecnológica, não por causa do comércio ? disse ele, respondendo às críticas dos nacionalistas, que vem o comércio internacional como uma das causas do aumento da desigualdade do mundo. ? Contra argumentos irracionais temos que trazer racionalidade.

Ele lamenta que, agora, o discurso protecionista tenha crescido justamente nos países avançados, os que mais defendiam ? e se beneficiaram ? da abertura comercial de anos atrás. Aos que sofreram com o aumento do comércio e das mudanças tecnologias, ele defende políticas para requalificar estes profissionais ? em linha com o que defendeu Lagarde na entrevista coletiva que concedeu na quinta-feira, em Washington.

Azevedo disse que o Brasil não pode escolher parceiros comerciais e tem de buscar negócios com todos. Lamentou que, na América latina, os governos sempre tiveram posições erráticas, ora abertas ao comércio, ora fechadas. E que a abertura comercial é o impulso necessário para as economias:

? A única maneira de ser competitivo internacionalmente é ser aberto à competição estrangeira ? disse o chefe da OMC, que vê o Brasil e alguns outros países latinos agora abertos ao comércio, enquanto o mundo, desta vez, não está, embora lembre que isso é cíclico e que sempre há boas oportunidades pelo mundo. ? Eu penso que o comércio é um elemento fundamental para todos os países em desenvolvimento, nunca vi uma história de sucesso de algum país fechado.

Ele disse ainda que espera que a Parceria Trans-Pacífica (TPP, na sigla em inglês), que pode ser o acordo comercial mais abrangente do mundo, ? com integrantes como EUA, Japão, Coreia do Sul, México, Austrália, Canadá e outros países ? seja aprovado, apesar da forte resistência no Congresso americano, agravado neste ambiente eleitoral.

? Eu espero que o TPP tenha sucesso, pois acredito que a liberação do comércio, em qualquer lugar do mundo, é sempre uma boa notícia ? disse o brasileiro, que confirmou que deve se candidatar para mais um mandato à frente da OMC.

Mais cedo, ainda na quinta-feira, Lagarde disse, em uma entrevista coletiva, questionada sobre o impacto da eleição americana na economia mundial ? o candidato republicano Donald Trump afirma ser contra a globalização e a favor do protecionismo, algo que está sendo criticado, de maneira geral, pelo Fundo ? a diretora-gerente do FMI evitou entrar em polêmicas:

? Não faço nenhum comentário sobre a eleição americana, apenas lembro que o comércio sempre foi um dos grandes motores do crescimento.

Sua Agenda de Política Global, apresentada nesta quinta-feira, era ainda mais crítica:

?Um recuo da globalização e do multilateralismo é um sério risco, quando a cooperação e a coordenação internacional são mais críticas que nunca?, diz o documento. ?Esses problemas criam um clima político que favorece políticas introspectivas, tornando mais difícil aprovar as reformas e colocando em risco os ganhos gerais bem estabelecidos com a produtividade da globalização e das mudanças tecnológicas?, alerta o texto.