Cotidiano

Defesa de Cerveró diz que ex-advogado orientou cliente a mentir em delação

Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara._ Audiência PBRASÍLIA – Em depoimento para a Justiça Federal de Brasília, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e sua advogada, Alessi Brandão, relataram tentativas do também advogado Edson Ribeiro de impedir sua delação premiada. Ribeiro, que já foi advogado de Cerveró, teria orientado seu cliente a não mencionar o nome do ex-senador Delcídio Amaral e até mesmo a mentir para poupá-lo. Em relação a outros réus no caso, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Sila e o pecuarista José Carlos Bumlai, eles disseram não ter tido conhecimento de sua possível participação na tentativa de atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato.

? Com relação especificamente a Pasadena (refinaria nos Estados Unidos adquirida pela Petrobras), nós colocamos (no acordo) que no revamp (reforma da refinaria), o dinheiro que seria recebido seria para a campanha presidencial de 2006. Até que o doutor Sérgio Riera (outro advogado que chegou a participar das negociações) entrou como uma forma de ajudar na colaboração. Ele me procurou e disse: essa informação está errada. Mas por que está errada? Porque esse dinheiro do revamp não iria para a campanha presidencial, iria para a campanha de Delcídio em 2006 para o governo de Mato Grosso do Sul. Eu questionei Nestor: colocou errado por quê? Ele disse: por orientação do doutor Edson ? disse Alessi.

ConteudoCerveroEm relação ao banqueiro André Esteves, eles tiveram conhecimento de sua possível participação na trama por meio de uma gravação feita por Bernardo Cerveró, filho de Nestor, em que Delcídio citava seu nome. Delcídio viria posteriormente ele próprio a firmar um acordo de delação em que acusou também os outros réus de envolvimento no caso. Cerveró afirmou que a gravação expôs também que Ribeiro não atuava a seu favor.

? Eu só tomei conhecimento da posição de abandono dos meus interesses, de preocupação com os interesses do Delcídio depois da gravação do meu filho. Até a gravação, ele procurava me demover de qualquer delação, citação a Delcídio. Mas ele nunca renunciou, nem eu quis destituir o Edson. Ele que se comprometeu de uma maneria extremamente surpreendente para mim. Não tinha noção do nível de envolvimento dele com Delcídio, unicamente preocupado em defender as posições do Delcídio e a situação dele, preocupado em receber os honorários, porque ele sabia que não tinha condição de pagar aquela quantia ? disse Cerveró.

A atuação de Ribeiro teria retardado a delação de Cerveró. Assim, quando ele finalmente estava prestes a tentar o acordo, o Ministério Público entendeu que outro delator, Fernando Soares, o Fernando Baiano, tinha prestado informações semelhantes e com mais provas. Portanto, não era mais de interesse dos investigadores um acordo com Cerveró. Alessi conta que, depois disso, Bernardo relatou as reuniões com Delcídio, em que ele recomendava não delatar. A partir de então, eles decidiram gravar uma conversa com o ex-senador, para ter uma prova que pudessem entregar. Isso foi feito, o que levou, em novembro de 2015, à prisão de Delcídio. E Cerveró conseguiu finalmente firmar um acordo.

Nestor Cerveró e Alessi Brandão depuseram como testemunhas indicadas pelo Ministério Público Federal na ação em que sete pessoas são rés por obstrução de Justiça: Lula, Delcídio, Esteves, Ribeiro, Bumlai, seu fiho Maurício Bumlai, e Diogo Ferreria, ex-assessor de Delcídio. Eles são acusados de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato. Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula, comemorou o teor dos depoimentos:

? Os depoimentos mostraram de forma cristalina que Lula não tinha conhecimento.

Em delação premiada, Delcídio acusou Lula de participação na tentativa ? frustrada ? de derrubar delação de Cerveró. Segundo ele, o ex-presidente agiu para que a família Bumlai interferisse ? inclusive financeiramente ? nos rumos da colaboração do ex-diretor da Petrobras. Delcídio disse ter procurado Maurício Bumlai e obtido repasses em dinheiro vivo. O próprio ex-senador disse ter feito um repasse de R$ 50 mil a Edson Ribeiro. Na delação, Delcídio também envolveu Esteves, que estaria preocupado com a Lava-Jato e, por isso, disposto a realizar pagamentos à família de Cerveró.

Também nesta terça-feira foram ouvidos Fernando, Milton e Salim Schahin, do grupo Schahin, que fez um empréstimo de R$ 12 milhões para Bumlai. O empréstimo seria na verdade para o PT. Como ele não era pago, o Grupo Schahin considerou a dívida do partido perdoada quando a empresa conseguiu um contrato com a Petrobras. Fernando e Milton não falaram nada sobre o caso envolvendo Bumlai, por responderem a outro processo na Justiça Federal de Curitiba que trata do assunto. Salim reiterou o que já tinha dito: o contrato com a Petrobras foi obtido após intervenção do então tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Em comum, os três negaram ter conhecimento dos fatos em investigação na Justiça Federal de Brasília, ou seja, a tentativa de barrar a delação de Cerveró.

Os depoimentos foram por videoconferência: Cerveró no Rio de Janeiro, Alessi em Curitiba, e a família Schahin em São Paulo.