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De vilão do 7 a 1 a queridinho de Guardiola, Fernandinho reencontra Messi

BELO HORIZONTE – O peso emocional da volta ao palco do 7 a 1, em especial para os atletas que estiveram na goleada sofrida contra a Alemanha, é uma das principais preocupações da seleção na preparação para o clássico contra a Argentina, nesta quinta-feira. Talvez só superada pela obrigatória atenção de enfrentar Messi, o melhor jogador do mundo nas últimas décadas, principalmente para quem terá de marcá-lo. Eliminatórias em 6 de novembro

Novamente titular com o corte de Casemiro, Fernandinho concentra em si, como nenhum outro, as duas circunstâncias. Há dois anos, foi um dos símbolos do “apagão” da seleção ao se deixar desarmar infantilmente pelo alemão Kroos, na saída de bola, no lance que originou o quarto gol alemão. Do time que vai a campo nesta quinta-feira, só ele e Marcelo foram também titulares no 7 a 1.

Desde então, Fernandinho se manteve em alta no futebol europeu, caiu nas graças de Guardiola, para muitos o melhor técnico do mundo, e o duelo direto com Messi o torna um dos principais personagens do clássico. O esquema tático de Tite na seleção, o 4-1-4-1, é o mesmo usado por Guardiola no Manchester City. Nas duas formações, Fernandinho é o primeiro volante, o “1” à frente da defesa, posição que o deixará deixará como principal marcador de Messi, um atacante que costuma sair da ponta ou do comando do ataque para arrancar com a bola pela intermediária ofensiva.

Nas últimas semanas, houve duas prévias deste confronto nos jogos pela Liga dos Campeões. Em 19 de outubro, no Camp Nou, Fernandinho acabou como responsável pelo primeiro gol do Barcelona, ao escorregar dentro da própria área e deixar a bola à feição para Messi marcar. O jogo acabou em goleada catalã por 4 a 0. Na volta, Fernandinho foi importante na vitória por 3 a 1 do City.

Guardiola é fã do volante brasileiro. No Campeonato Inglês, Fernandinho foi titular em todas as 11 rodadas até aqui, sem ser substituído em nenhuma delas. É homem de confiança do técnico, que sempre o elogia:

– Se um time tiver três Fernandinhos, será campeão. Nós temos só um, mas ele é veloz, inteligente, forte no ar e pode jogar em várias posições, tem bom passe. Quando ele vê o espaço, parte para a corrida na hora. Quando é preciso impor pressão na marcação, lá está Fernandinho – disse, em outubro, Guardiola, que pediu à diretoria do City a renovação do contrato do brasileiro. Brasil x Argentina: cinco jogos históricos

Adorado por Guardiola, nem tão conhecido do torcedor brasileiro por ter saído cedo do país, Fernandinho é um dos mais vitoriosos do elenco da seleção. Não tem títulos da Liga dos Campeões, mas é o jogador da seleção que mais vezes foi campeão nacional – estatística favorecida pelas oito temporadas no Shakhtar Donetsky, quando foi seis vezes campeão ucraniano, além do título inglês pelo City há dois anos.

A versatilidade elogiada por Guardiola se reflete ao longo da carreira. Revelado pelo Atlético-PR, começou como um lateral-direito leve e veloz, com enorme ímpeto ofensivo. Atuou mais tempo como ala, no esquema com três zagueiros. Vendido ao Shakhtar, ganhou força física, jogou como meia na maior parte do tempo e fez mais de 50 gols em oito anos. Na Inglaterra, fixou-se como volante, e tem sido elogiado pela visão de jogo e o bom passe.

Fernandinho é o mais bem acabado, mas não o único exemplo de que a histórica goleada sofrida para a Alemanha não é uma sentença de morte mesmo para os jogadores que ficaram mais marcados por aquela derrota. O zagueiro David Luiz, estigmatizado pela atuação individual ruim em 2014, vive novamente boa fase, como um dos alicerces da recuperação do Chelsea com o técnico italiano Antonio Conte no atual campeonato inglês. Willian e Marcelo, por exemplo, seguem trajetória consistente na seleção. Coletiva Daniel Alves

A fase atual, porém, é de confiança em alta. Tite dispensou o mistério habitual a treinadores em vésperas de jogos importantes. O treino desta terça-feira, que marcou a volta da seleção ao Mineirão, confirmou também o time titular que se previa: Alisson, Daniel Alves, Marquinhos, Miranda e Marcelo; Fernandinho, Paulinho e Renato Augusto; Phillippe Coutinho, Gabriel Jesus e Neymar.

O treinador dispôs os dez titulares de linha no gramado, sem time adversário, para treinar movimentação em conjunto dos jogadores e a recomposição defensiva. Com a bola nos pés, como se fosse o lateral-direito da Argentina na saída de bola, Tite recebia o primeiro combate de Neymar, mas pedia que todo o time, mesmo Daniel Alves, no lado oposto da defesa brasileira, se movimentasse, de modo a deixar o time sempre compactado, com os jogadores próximos.

DANIEL ALVES ELOGIA MESSI

A estrutura do time é a mesma: os quatro da defesa, com Fernandinho à frente como primeiro volante. Ainda no meio, Paulinho mais pela direita, e Renato Augusto pela esquerda, com Coutinho e Neymar abertos e Gabriel Jesus na frente. Por vezes, Tite simulou um início de jogada da Argentina com Neymar mais à frente, junto de Gabriel Jesus, sem participar da recomposição defensiva. Neste caso, Renato Augusto fez a marcação pelo corredor do lado esquerdo, praticamente em linha com Fernandinho e Paulinho pelo centro e Coutinho fechando o outro lado.

A CBF anunciou nesta terça-feira que Daniel Alves será o capitão no jogo desta quinta-feira. Além da tarja, ele vestirá a camisa 4 usada por Carlos Alberto Torres, numa homenagem ao Capitão do Tri, falecido dia 25 de outubro. Remanescente do 7 a 1, quando ficou no banco, Daniel procurou minimizar a volta ao estádio:

– Não passou nenhuma sensação. É certo que a gente não pode se esquivar das coisas que acontecem, mas sou um cara muito positivo. Se não posso mudar o passado, mudo o presente. O passado fica de aprendizado – disse Daniel, que atuou por oito anos ao lado de Messi no Barcelona. – Ele está marcando sua época. Tive a felicidade de conhecer seus pais, de uma humildade fantástica, tanto quanto ele. Acho que a grandeza dele é não acreditar que ele é tão grande. É o que o define. Em fotos, o retrospecto de Neymar contra a Argentina