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De acidente a inspiração, dupla croata vai às lágrimas com medalha inédita no remo

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Com a bandeira croata nas costas, Martin Sinkovic se permitiu chorar nesta quinta-feira. Ao seu lado, o irmão Valent abria um enorme sorriso ao conceder sua primeira entrevista após a conquista de uma inédita medalha de ouro para a Croácia no remo, no Double Skiff masculino. Ouro foi o único material capaz romper a frieza calculista de Valent e Martin, os irmãos Sinkovic. Sua vitória na Olimpíada do Rio não foi mera confirmação de um favoritismo amparado pelo bicampeonato mundial na categoria. Tratou-se, antes, de um ritual de passagem no Rio, para os irmãos e para a Croácia.

Até hoje, melhor resultado do país no remo havia sido a prata conquistada por outro par de irmãos, Niksa e Sinisa Skelin, em Atenas-2004. O desempenho fora repetido pelo barco croata do Skiff Quádruplo em Londres-2012, que tinha os irmãos Sinkovic em sua composição. O topo do pódio no Rio de Janeiro é um degrau jamais alcançado antes pela Croácia, país de pouca tradição no remo.

? Eu não poderia estar mais feliz. É incrível ganhar uma medalha de ouro com seu irmão. Estamos juntos por um longo período das nossas vidas – declarou Martin logo após sair da água, mal segurando o choro. ? São lágrimas maravilhosas.

REGATA QUENTE

Dias antes, quando entrevistado pelo GLOBO, Martin não havia esboçado a mesma emoção ao responder sobre a experiência de competir com o irmão Valent. “Qualquer um pode se entender no barco”, foi sua resposta, como se chegar a uma Olimpíada ao lado de alguém que conhece há 27 anos, desde seu nascimento em Zagreb (Valent é um ano mais velho) fosse um detalhe insignificante, sem qualquer sentido especial. Naquela ocasião a medalha de ouro ainda era apenas um sonho, mas os irmãos Sinkovic preferiam tratá-la como passo natural, assumindo o favoritismo.

? Em Zagreb, treinamos com menos vento do que aqui no Rio. Mas, se você é bom em tudo, então você é bom em tudo. Não importam o vento ou as ondas na água ? minimizara Martin, exatamente uma semana antes do choro aliviado pela medalha olímpica.

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A regata decisiva foi demasiado quente para manter intocado o gelo dos irmãos Sinkovic. Depois de largarem forte, viram o barco da Lituânia na raia ao lado, com Mindaugas Griskonis e Saulius Ritter, tomar a dianteira na marca de mil metros, a metade da prova, e imprimir um ritmo que parecia inatingível. Os letões chegaram a ter mais de meio barco de vantagem. Foi quando a indiferença dos Sinkovic se rompeu: Valent e Martin capricharam no sprint nos 500 metros finais, exibindo expressões de extremo esforço no barco, que se tornariam de alívio após cruzarem a chegada em primeiro, com a Lituânia em segundo e a Noruega completando o pódio.

? É o melhor sentimento, o mais especial que existe. Não pode existir nada melhor na minha vida, definitivamente. É muito especial ser o primeiro do seu país a alcançar algo. Agora nós alcançamos tudo – derreteu-se Valent após a prova, lembrando trata-se de um feito histórico para a Croácia: ? Isso estará nos livros.

REMO POR ACIDENTE

Valent e Martin começaram a remar em 2000, mas não por influência dos irmãos Skelin, que naquele ano levaram a medalha de bronze com o time de Oito da Croácia nos Jogos de Sidney, a primeira do país no remo. A história é mais acidental, garantem deles: tudo começou por influência de um irmão mais velho da própria família.

? Nosso irmão viu o remo na TV e se apaixonou. Ele nem sabe que atleta estava assistindo, só viu alguém remando e disse: “quero tentar isso”. E nós fomos atrás dele. Foi apenas isso: ele viu o remo na televisão e decidiu remar. Foi um acidente ? explicou Valent.

Nesta quinta-feira, na Croácia, é provável que outras milhares de crianças estivessem com a televisão ligada na decisão do Double Skiff masculino na Olimpíada do Rio. É provável também que muitas tenham se encantado e decidam mergulhar no esporte. Neste caso, não é fruto de um mero acidente: há coisas que reluzem e, de fato, são ouro.