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De 4,6 milhões de ingressos vendidos, mais de 1 milhão foram comprados por estrangeiros

ingresso.jpgRIO – É um currículo de dar inveja a muito campeão. Aos 85 anos, a paulista Ruth Mascarenhas Valente atingirá, no Rio, a marca de oito Olimpíadas. Embora merecesse o pódio por tanta lealdade aos Jogos, ela não vai disputar ouro algum. Será espectadora, como em sete edições anteriores do evento. E vai se juntar a um público que fará das arquibancadas das arenas cariocas uma babel tão diversa quanto a dos 205 países que lutarão por medalhas. Para compor essa torcida plural, segundo o Comitê Rio 2016, até agora foram vendidos 4,6 milhões de ingressos. Quase um quarto, ou 1,1 milhão, adquirido por estrangeiros. Mas a maioria, 3,5 milhões, comprada por brasileiros de todo o país, a exemplo de Ruth. Jogos – 27/07

No caso da professora de educação física aposentada, moradora do Morumbi, ela garantiu entradas para todos os dias de competições no Rio, nas disputas de vôlei, basquete, atletismo, ginástica artística, natação e até hóquei sobre a grama, que a veterana em Jogos verá pela primeira vez em seu repertório olímpico. Uma história, a propósito, que coleciona momentos marcantes, vividos desde 1968, na Cidade do México. A estreia foi ao lado do marido, o corredor de 400 metros rasos Edmundo Valente, numa excursão montada pela Associação dos Professores de Educação Física. Depois, vieram outras cinco Olimpíadas de verão (Munique, em 1972; Montreal, em 1976; Moscou, em 1980; Los Angeles, em 1984; e Londres, em 2012) e também os Jogos de inverno de Sochi, dois anos atrás.

Nessa maratona ao redor do mundo, Ruth vivenciou o clima de apreensão em Munique, com o sequestro e a morte de parte da delegação israelense. Assistiu a atletas como a ginasta romena Nadia Comaneci, dona da primeira nota 10 da modalidade, em Montreal. Na capital russa, emocionou-se com o ursinho Misha, mascote dos Jogos de 1980, chorando na cerimônia de encerramento. E, de volta à Rússia, em 2014, diz ter ficado encantada com a patinação artística. Nos preparativos para os Jogos do Rio, ela até carregou a tocha olímpica na cidade de Campo Grande. Agora, não vê a hora de a pira olímpica ser acesa, de forma inédita, num país da América do Sul.

? Sou fã inveterada do esporte. Aos 11 anos, jogava num time de basquete. Como professora, enchia um Fusquinha com minhas alunas para partidas em outros colégios. Será um privilégio assistir aos Jogos no Rio. Adoraria que o vôlei masculino fosse campeão. Mas nem espero que o Brasil ganhe ouros. Só quero que os Jogos ocorram em paz e que se repita aqui o espírito de colaboração e amizade que presenciei em todas as Olimpíadas a que fui. Estou entusiasmada, com planos já para Tóquio 2020 ? avisa ela.

No Rio, considerado o público dos Jogos por estados do Brasil, paulistas como Ruth só perderão para os fluminenses como os mais numerosos nas competições, deixando para trás, respectivamente, brasilienses, mineiros e baianos. Enquanto isso, no levantamento por nação, os organizadores da Olimpíada fizeram uma lista dos dez países estrangeiros que contarão com maior torcida em solo carioca. E, nesse quesito, serão os americanos os que mais se sentirão em casa, no topo do ranking. Na ordem, os esportes mais procurados por eles foram atletismo, basquete, vôlei de praia, vôlei e ginástica artística, modalidades em que os Estados Unidos têm grandes chances de ouro, seja com os astros da NBA, seja com a ginasta Simone Biles.

Em segundo lugar no ranking, os franceses também estarão em maior quantidade no atletismo, esporte mais procurado por outros quatro países do top 10 das torcidas (Alemanha, Austrália, Grã-Bretanha e Canadá). Parte dessa lista, os japoneses assistirão em peso ao judô. Os holandeses estarão, principalmente, no hóquei sobre grama. E, entre os sul-americanos, os argentinos darão preferência ao basquete, com que conquistaram o ouro em Atenas (2004), e os chilenos comparecerão em maior número à ginástica artística.

Os dados da Olimpíada mostram ainda que, por enquanto, se os estrangeiros serão 34% dos espectadores do atletismo e 23% no rúgbi, em um dos esportes mais populares do Brasil, o vôlei, eles vão representar apenas 13% dos torcedores. Modalidades como o handebol, a natação e o tênis também aparecem entre as favoritas dos gringos. E, por região da cidade em que acontecerão as competições, eles estarão, percentualmente, um pouco mais presentes nos esportes disputados em Copacabana, onde serão 26% do público, contra 23% na Barra da Tijuca e 22% no Complexo de Deodoro e no Maracanã.

1,5 MILHÃO DE ENTRADAS À VENDA

Já no público em geral, as modalidades mais procuradas até agora foram o futebol, o vôlei de praia, o basquete, o tênis e o atletismo. O triatlo e a maratona aquática, disputados em Copacabana, apareceram como surpresas para a organização dos Jogos, com os ingressos esgotados mais rapidamente.

Para vários esportes, no entanto, ainda restam ingressos. São cerca 1,5 milhão (24% dos 6,1 milhões postos à venda) disponíveis no site ingressos.rio2016.com ou em bilheterias no Rio, em São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Brasília e Manaus. Portanto, ainda há tempo de fazer como a professora de história Aline Martello, que comprou mais de 60 ingressos, para todas as sessões do rúgbi feminino, no Estádio de Deodoro. Vai ser a primeira Olimpíada dela. Aline vai assistir às partidas com os pais, a irmã e oito amigos da França, parentes da jogadora francesa Jade Le-Pesq.

? Conheci a família dela quando morei na França, em 2009. Eu vivia lá quando o Rio foi eleito sede dos Jogos. Nem imaginávamos que a Jade viria à Olimpíada. Estou muito animada para receber meus amigos aqui e irmos para os jogos ? diz Aline, ex-atleta da ginástica rítmica.

Para ela, será uma profunda imersão olímpica. Além de ter ingressos garantidos, a professora será voluntária no Parque Aquático, nas provas de natação.

? Não sei como será. Mas é possível que eu veja os nadadores num lugar privilegiado ? diz ela, que pratica o esporte no Botafogo. ? E, se der, ainda vou tentar assistir a algo do polo aquático e do nado sincronizado.