Esportes

Da quarta à sexta marcha: Isaquias acelera para atingir as expectativas

Isaquias Queiroz é um nome recorrente nas projeções de medalhas para o Brasil na Olimpíada do Rio. O exigente espanhol Jesus Morlán, seu treinador, fala com todas as letras que espera pelo menos um pódio do baiano de 22 anos, natural de Ubaitaba (BA), na canoagem de velocidade, cujas provas na Lagoa Rodrigo de Freitas têm início hoje, às 9h, com as baterias da categoria C1 1000m. Segredos Olímpicos: remo e canoagem

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É uma questão de referencial. Isaquias é um atleta jovem, de um esporte que nunca trouxe pódios olímpicos para o Brasil, e enfrentará em sua primeira Olimpíada rivais experientes, alguns medalhistas em Jogos anteriores. Das três provas que disputará no Rio, o brasileiro já foi campeão mundial em somente uma, a C2 1000m ? curiosamente, naquela que vinha como “azarão” no Mundial de 2015. Dito desta maneira, a medalha parece um sonho com margem de erro demasiado grande. A confiança, no entanto, surge de um raciocínio elementar para aqueles que vivem da canoa: as competições não se decidem no impulso da largada, e sim no arranque para a chegada.

? Quero ver aqueles que estavam correndo demais até agora serem capazes de fazer o mesmo na Olimpíada. Viemos em quarta marcha, esses caras estão na sexta. Isso é problema deles. Só que agora vamos meter a quinta e a sexta ? garante Morlán, o treinador: Conheça todos os esportes olímpicos da Rio-2016

? Isaquias está muito bem no C1 1000m, está bem no C1 200m, rapidíssimo, e no C2 1000m está andando, hein? Acho que os gringos vão ter mais problemas conosco do que nós com eles. Estamos em nossa casa. Se quiserem algo, eles que venham buscar, porque a gente se vira. Não somos favoritos a nada, mas somos candidatos a tudo ? completa o espanhol.

Bicampeão mundial na prova C1 500m, que não figura no calendário olímpico, Isaquias passou os últimos três anos mais se preparando para os Jogos do Rio do que efetivamente dando o máximo nas competições internacionais. Nesse período, ele foi mais ausência do que presença em etapas de Copa do Mundo (três a cada ano). Tido como um dos melhores do mundo na C1 1000m, o brasileiro nunca venceu Copas do Mundo ou Mundiais na categoria, por exemplo ? embora tenha sido ouro no Pan de Toronto-2015.

QUEDAS NO FINAL

Em duas finais ? no Mundial de Moscou, em 2014, e na Copa do Mundo de Duisburg, neste ano ? houve momentos que causaram estranheza. Isaquias liderava o C1 1000m nas duas ocasiões, mas desequilibrou-se na primeira, a alguns metros da chegada, e simplesmente parou de remar na segunda, deixando ambas as vitórias no colo do alemão Sebastian Brendel, atual campeão olímpico da prova, e adversário de Isaquias no Rio.

? Nós não escondemos o jogo ? garante Morlán, com seriedade. ? Nós preferimos não participar de Copas do Mundo em que não estivessem os principais adversários. Escolhemos os “piores” lugares para competir, aqueles em que havia a concorrência mais forte ? justifica.

2016 931134658-201608141142087912_AP.jpg_20160814.jpgPedro Sena, treinador de Isaquias entre 2009 e 2013, se baseia no passado para garantir que o fenômeno baiano tem potencial de ir longe no Rio. Segundo Sena, o canoísta sempre deixou adversários boquiabertos por onde passava, mesmo antes de ser ouro no Mundial Júnior de 2011 na categoria C1 200m, outra prova que disputará na Olimpíada do Rio.

? É um atleta fora do normal. O mundo inteiro acredita nele, os atletas de vários países já começaram até a querer imitar a remada do Isaquias ? observa Sena.

? O Isaquias é destemido. Ele pode enfrentar outros que são maiores e mais fortes, mas vai com esse desejo de vencer e sempre consegue melhores resultados. É um atleta diferenciado. Torço para que ele consiga algo inimaginável ? completa o antigo treinador, atualmente no comando da seleção de canoagem do Japão, que não participa desta Olimpíada.

EXCESSO DE TALENTO

Morlán, que passou a treinar Isaquias em abril de 2013, lembra que a maior dificuldade com Isaquias foi montar uma agenda de treinos que desse conta de tamanho potencial:

? Isaquias, na teoria, era um menino para remar C1 1000m. Mas sabíamos que ele também era muito bom no C1 200m, e decidimos ainda montar a dupla com Erlon (Souza, parceiro no C2 1000m), que também tem um rendimento muito bom. Então não tivemos como escolher. Eu não podia renunciar a nenhuma dessas provas. Como vou deixar só no C1 1000m um cara que pode conseguir medalha em outros barcos? ? questiona Morlán.

? O problema, para mim, era fazer um treinamento adequado para as três categorias. Isso foi muito complicado, mas o Isaquias está bem. Estamos nos sentindo competitivos ? garante.

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