Cotidiano

'Da próxima vez, vou comprar óleo de peroba', diz mulher que bateu em Cunha

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RIO – Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro, noite de quarta-feira. Ao desembarcar, sozinho, na cidade, o ex-deputado Eduardo Cunha foi recebido no saguão, sem aparentar surpresa, por vaias, gritos de ?ladrão? e? chineladas. Em um vídeo que se tornou viral na internet, Cunha é visto apanhando de uma senhora com casaco azul. Ela se chama Thereza – com TH e Z, faz questão de grifar -, mas o sobrenome, prefere esconder. Cunha

Se apresenta como Thereza Batista Cansada de Guerra. O nome fictício é referência a uma personagem de Jorge Amado. A Thereza do aeroporto se considera um exemplo pelo que fez a Cunha. Para ela, a controversa agressão àquele a quem chama de ?PMDmerdista? foi um ato de liberdade, um tiro de misericórdia e faz piada com a fama repentina.

? Eu odeio política. Fiz aquilo porque tinha que chegar na cara dele e mostrar que ele é um bandido, um safado, persona non grata. Mais vale um exemplo do que uma tonelada de palavras. Da próxima vez, vou comprar um vidro de óleo de peroba e tacar na cara dele ? diz, rindo, sentada em um banco de plástico na barraca de lanche Dona Deise, na praça 22 de abril, em frente ao aeroporto Santos Dumont no Rio.

Pelos corredores do aeroporto, Thereza desfruta de uma fama anônima. Muitos dos funcionários que trabalham próximos ao local onde o vídeo foi filmado souberam do ocorrido, mas não identificaram quem era a mulher que atacou o ex-presidente da Câmara. Quem a conhece de vista, diz que ela é um pouco “doidinha’, costuma dormir no saguão e, algumas vezes, pede dinheiro a quem passa.

? Campeã ela. Acho que, depois dessa, o Cunha nunca mais vai andar sozinho ? comenta uma funcionária de uma locadora de automóveis do aeroporto.

Reginaldo Calvelli, também agente de locação de carros, estava de plantão na hora do desembarque de Cunha e aparece no vídeo que se popularizou na internet. Ele diz que nunca havia encontrado Thereza ali antes e se assustou com a agitação.

? Eu estava indo ao banheiro, quando ouvi um barulhão. Parecia até a torcida do Flamengo ? lembra.

Nas cinco bolsas que carrega, Thereza guarda um cobertor, roupas, utensílios de higiene pessoal e livros. Ela diz apreciar literatura russa, britânica e, ?até mesmo?, brasileira. Admira Machado de Assis e também Jorge Amado, autor do livro cujo título é o codinome que adotou. Atualmente, lê duas obras que pegou no Instituto Nacional do Câncer (Inca), onde diz ter uma filha internada. Ela não gosta de falar sobre o assunto, nem sobre o passado na Itália, onde nasceu. Veio para o Brasil aos 12 anos e conta que conheceu seu marido, Máximo, italiano de Milão, na escola estadual Andre Maurois, no Leblon. Thereza é viúva há quase 20 anos e vive com o irmão em Vassouras, no interior do estado.

Ela não hesita em criticar Claudia Cruz, esposa de Cunha, e ?seus jantares de R$ 10 mil?. Professora de História aposentada formada pelo Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) em 1990, segundo conta, Thereza enfrenta problemas de saúde e diz que a medicação que tem que tomar custa R$ 5,3 mil mensais, que paga com a aposentadoria do estado.

Ela cita Lula, Dilma e Sarney como quem mais odeia na política. Por outro lado, admira Magno Malta – “ele é doidinho” – e Ana Amélia, mas não fala de nenhum deles como se refere ao juiz Sérgio Moro. Ao ser perguntada sobre o símbolo da operação Lava-Jato, põe a mão no peito e revira os olhos: “Ele despertou em mim o restinho de estrogênio que eu tenho”.

Por ter dupla cidadania, Thereza tem direito ao voto facultativo e diz que nunca votou. Segundo ela, “esse não é um pecado que ela levará para o inferno?. Caso Cunha a processe, já sabe quem vai chamar para liderar sua defesa: Joaquim Barbosa. “Vou pedir para ele ser meu advogado!”. Para ela, o ex-presidente da Câmara está querendo se passar por vítima da situação e primeiro afirma que, se levada à Justiça, dará a ele R$ 20, ?se ele quiser?. Depois, logo volta atrás: ?R$ 20 é o crédito do meu celular. Vão ser R$ 2 mesmo”.