Cotidiano

Cunha usava programa que autodestrói mensagens para falar com executivo

SÃO PAULO. O deputado Eduardo Cunha e o então presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, eram usuários do aplicativo para comunicação por celular Wickr, que autodestrói mensagens enviadas entre usuários.

A informação consta de pelo menos uma das mensagens no aplicativo whatsapp trocadas entre os dois e registrada em documentos de relatório de perícia produzido pela Polícia Federal a partir da análise do celular do executivo.

Em 30 de julho de 2014, Cunha escreveu a Azevedo:

?Estou na CNI. O meu Wicrk está com problemas. Ligo em torno das 13:30′. abs Não consegui falar com Mercadante?.

Em seguida os dois trocam diálogo onde tentam marcar um encontro em Brasília, para o dia seguinte.

?Tenho que te falar?, diz Cunha.

?Falo com certeza?.

?Você vai embora que hrs e pra onde??, retruca o deputado.

?Vou para o Rio à noite?, diz o executivo.

Em seu site oficial, o Wickr é apresentado como um programa que protege textos, áudios, fotos e vídeos trocados entre usuários com mais privacidade e uso de várias camadas de criptografia. As informações trocadas são destruídas em prazo definido pelo usuário.

Não é possível se a PF conseguiu ter acesso às mensagens trocadas pela dupla por meio do aplicativo.

Cunha e Azevedo também usavam um aparelho da empresa blackberry, considerado mais seguro de interceptações do que os aparelhos comuns.

?Me convide para o BBM!?, escreveu Otávio Azevedo a Cunha em 12 de dezembro de 2012, mencionado o aplicativo de mensagens da blackberry.

?Qual??, pergunta Cunha quatro minutos depois.

?Pin:2BA0E028?, responde o executivo.

O relatório da PF aponta que Azevedo tinha intimidade com Cunha. Eles trocaram dezenas de mensagens entre 2011 e 2014, em que acertam mudanças ?em segredo? de textos legislativos, encontros e até pagamentos em contas do PMDB e de empresa do deputado fluminense, mesmo via whatsapp.

O GLOBO perguntou a Cunha que assuntos o deputado tratava pelo Wickr com o executivo, que não pudessem ser tratados pelos mecanismos de mensagem tradicional.

?O que falava por BBM, mensagem de texto ou qualquer outro aplicativo é o que falaria de público, se necessário, com qualquer pessoa?, respondeu o deputado.

Advogado do executivo da Andrade Gutierrez, Juliano Breda informa que as mensagens de Azevedo ?já foram objeto de questionamentos? da PGR. Segundo ele, ?sempre que necessário?, o executivo ?voltará a colaborar com as investigações no interesse da Justiça?.