Cotidiano

Crítica: Música do filme ?La la land? merece atenção por si só

RIO – Os dois discos com a trilha sonora de ?La la land? podem não ajudar Justin Hurwitz a ganhar dois Oscars (no próximo 26 de fevereiro), como ganhou dois Globos de Ouro (no último 8 de janeiro), mas confirmam que o jovem músico, 31 anos, apenas três filmes até agora e vários projetos em mente, pode vir a ser a maior revelação de compositor de cinema surgida nos Estados Unidos nos últimos anos. Pois é justamente isso que Hurwitz pretende ser: compositor de cinema.

O primeiro dos dois discos tem as canções escritas por ele e seus letristas, Benj Pasek e Justin Paul. Entre elas, claro, ?City of stars? e ?Audition (The fools who dream)?, que vão disputar uma contra outra a estatueta da categoria. Não são grandes canções, mas pelo menos a primeira pode emplacar. A parte cantada da trilha, na maioria pelos astros não-cantores Ryan Gosling e Emma Stone, divide as 15 faixas com temas instrumentais arranjados e executados pelo compositor. Jazzístico, mesmo, para atender ao personagem de Gosling, só ?Herman?s habit?, pois já nesse disco de vocais é o orquestrador (função que Hurwitz faz questão de cumprir num cinema em que raros compositores orquestram a própria música) quem brilha. ?Summer montage?, por exemplo, é um espetacular medley que justifica a confessada admiração de Hurwitz pelo Michel Legrand de ?Os guarda-chuvas do amor? e ?Duas garotas românticas?.

A admiração de Hurwitz por esses filmes, que alguns críticos viram citados em cenas de ?La La Land?, explica também por que o songwriter encara com simpatia, e possível próximo projeto, este novo filme de Damien Chazelle adaptado ao teatro. Quer dizer, um novo musical da Broadway para o qual ele teria de compor muito mais canções que as da trilha.

Michel Legrand não é o único que Hurwitz cita com reverência. Ele rasga elogios a John Williams e diz ter aprendido muito ouvindo Nino Rota, Bernard Herrmann e Ennio Morricone, num sinal claro de que o músico de jazz e eventualmente pop de ?La La Land? tem especial atração pelas trilhas incidentais.

O que remete ao segundo disco. À exceção de um bônus de ?City of stars?, com o par de atores do filme, todas as faixas, 29 mais o bônus, são temas do filme usados como comentários de fundo ou, em alguns casos, para que a dança comande o espetáculo.

É oportuna a repetição de ?Summer montage? e outros temas, pelos quais é possível concluir que Justin Hurwitz trabalha com a competência de quem maneja a orquestra com o mesmo saber com que integra um grupo de jazz. Como, por exemplo, o de Oscar Peterson, pianista canadense que o apresentou a um tipo de música diferente da dos desenhos da Disney.

Seu filme anterior, com o mesmo Chazelle, já dizia ao que veio o jovem compositor. ?Whiplash: Em busca da perfeição? (2014) é uma trilha ainda mais jazzista que a de ?La la land?, mas os momentos dramáticos que ilustram as crises entre o professor tirânico (J.K. Simmons) e o aluno martirizado (Miles Teller) mostram que Justin Hurwitz já está bem mais perto de Williams, Rota, Herrmann, Morricone do que de Peterson.

Cotação: Bom