Cotidiano

Crítica: 'Hardwired... to self-destruct' traz Metallica sem pressa e com peso

metallica 2.jpgRIO ? Disco do Metallica é um troço que demora mesmo. James Hetfield e Kirk Hammett vão gravando as ideias que saem de suas guitarras ? desta vez, começaram com mais de mil riffs, segundo Hammett ? e de vez em quando juntam-se ao baterista Lars Ulrich e ao baixista Robert Trujillo no estúdio-quartel-general da banda em San Rafael, perto de São Francisco, na Califórnia, e vão construindo as canções. Não adianta ter pressa.

?Hardwired… to self-destruct?, que chegou às lojas e sites de streaming nesta sexta, é o resultado desse processo ao longo de oito anos, desde que a banda fundada em 1981 lançou ?Death magnetic?: mesmo em momentos mais simples, é fácil perceber que se trata de um grupo seguro, que não tem medo de tocar um mesmo riff por trinta segundos e nem se preocupa se uma música passa dos seis, sete ou até oito minutos. No formato físico, o disco é duplo ? ou triplo, na versão de luxo.

?Hardwired?, que abre o disco, é a música mais curta, com pouco mais de três minutos de peso e agressividade, sem solo, quase um hardcore ? gênero com que a banda flertava em seu início. A canção é um dos três singles antecipados, ao lado das também boas ?Moth into flame? (?Mariposa na chama?, possivelmente sem relação com o clássico ?As mariposa?, de Adoniran Barbosa) e ?Atlas, rise!?. As três dão uma boa ideia do disco: o Metallica sendo Metallica, batendo cabeça ao som dos vocais rasgados de Hetfield, com guitarras e melodias brincando (sem galhofa, claro) à frente da sólida cozinha de Trujillo e Ulrich, azeitada após 13 anos de entrosamento. O minúsculo baterista dinamarquês, aliás, tem no disco uma de suas melhores performances do milênio ? ou seja, dos últimos três discos. Se ao vivo ele vai reproduzir levadas como a ultra-agressiva ?Spit out the bone? ou a pesadona ?ManUNkind?, aí é outra história.

O disco, longo, pesado, pessimista, remete a um quarteto bem resolvido, o contrário da banda caindo aos pedaços retratada no documentário ?Some kind of monster? (2004), que mostra as gravações do irregular ?St. Anger? (2003).

À qualidade das músicas soma-se a boa ideia dos videoclipes feitos para cada uma das 12 (além de um extra, de ?Lords of summer?), de cenas da banda tocando a filmetes de animação (como a ótima ?Murder one?, homenagem a Lemmy, do Motörhead, morto em 2015), passando por historinhas como a de ?ManUnkind?, em que uma banda de black metal dubla o Metallica, e à da atormentada ?Halo on fire?, que aborda a violência contra a mulher, uma balada sinuosa que vai ganhando agressividade.

?Hardwired… to self-destruct? não é um disco fácil. Tempo e paciência para 13 videoclipes, a maioria de seis ou sete minutos, é o mínimo que ele exige. Mas o Metallica paga o esforço com oito anos de juros.

Cotação: Ótimo