Cotidiano

Crítica: Gilberto Gil em interpretações jazzísticas

RIO ? Dolores Duran & Sueli Costa, Noel Rosa, Edu Lobo e, agora, Gilberto Gil. Com o CD ?Amor até o fim? ? dedicado ao criador de ?Procissão?, ?Refazenda? e outras mais ?, Mauro Senise dá seguimento à série de tributos a compositores brasileiros, lembrados sempre com interpretações jazzísticas de alto nível.

Senise, saxofonista e flautista dono de um dos sopros mais pessoais da praça, é hoje um artista maduro, profissional meticuloso na seleção e na produção de seus trabalhos, como atesta o DVD que acompanha o CD, making of da gravação feita em dezembro, por ele e alguns de nossos melhores instrumentistas, todos abençoados pela presença de Gil.

O baterista Ricardo Costa e o próprio Senise são os únicos que participam das 13 faixas. Todas longas, variando de quatro a nove minutos, como acontece nas jam sessions que Senise vem realizando por mais de quatro décadas. Três baixistas se revezam por todo o disco: Zeca Assumpção, Bruno Aguilar e Rodrigo Villa. O percussionista Mingo Araújo atua em duas faixas. E o restante se completa como um respeitável time de pianistas, guitarristas e um acordeonista, todos em plena forma. Mauro Senise

?Procissão?, arranjo de Kiko Horta, talvez seja o melhor exemplo de como, mesmo sendo o astro do show, Senise abre espaço para improvisos dos artistas convidados, no caso, para o acordeom de Kiko e o piano de Gabriel Geszti (os dois voltam, sempre bem, em ?Refazenda?). A concepção do disco segue por este caminho: os solos dos saxes e da flauta de Senise apoiados em arranjos básicos como o de Kiko ? três de seu velho parceiro Gilson Peranzzetta, três de Cristóvão Bastos, três de Jota Moraes e os três restantes de Adriano Souza, Roberto Araújo e Gabriel Geszti.

Se é o piano de cada um dos arranjadores que prevalece nos diálogos musicais com Senise, há algumas intervenções de outros instrumentos solistas além do acordeom de Kiko. O violão de Romero Lubambo está em ?Amor até o fim?, faixa que dá título ao disco. A guitarra de Leonardo Amuedo se destaca ao lado do vibrafone de Jota Moraes em ?Oriente? e ?Expresso 2222?. Em nenhum dos casos a unidade se perde.

É sobre o vibrafone e o piano do mesmo Jota que Gilberto Gil, atendendo a sugestão de Senise, declama alguns dos versos de ?Preciso aprender a só ser?: ?… é só do coração dizer não quando a mente tenta nos levar pra casa do sofrer?. Como o próprio Senise ressalta, essa homenagem é a mais autoral das que já prestou a grandes nomes da música brasileira, já que música e letra dos 13 temas são de Gil. (João Máximo)

Cotação: ótimo