Cotidiano

Crise tira os mais experientes do mercado

Mulheres também estão entre as mais desligadas das empresas na região

Cascavel – Na já considerada uma das piores crises enfrentadas pelo Brasil, com cenário de retração intenso da economia, o desafio da empregabilidade é mais facilmente vencido na região oeste do Paraná por pessoas com até 29 anos e do sexo masculino.

A estratificação dos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Emprego feita pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) revela que nas seis maiores cidades da região – Cascavel, Foz do Iguaçu, Toledo, Marechal Cândido Rondon, Assis Chateaubriand e Medianeira – de janeiro a julho deste ano, os jovens foram os que mais se colocaram no mercado de trabalho.

O primeiro emprego, a partir do programa Jovem Aprendiz, por exemplo, contribuiu nesses sete meses para que 1.205 pessoas com até 17 anos ocupassem uma cadeira formal. O maior número de empregados com carteira assinada corresponde aos jovens de 18 a 24 anos. Foram 3.129 novas oportunidades e os de 25 a 39 anos somaram 239 novas ocupações. A partir disso o que se vê é uma queda livre nas efetivações, com apenas oito contratações de pessoas com 30 a 39 anos. Entre as que têm de 40 anos ou mais, o desemprego reinou revelando que a experiência pesa mais no bolso de quem contrata.

“O que podemos observar é uma série de fatores associados, entre eles o de as empresas demitiram as pessoas com mais tempo de casa, mais experientes e que recebiam salários maiores e a contratação acabou sendo feita por pessoas mais jovens”, reforçou a coordenadora da Agência do Trabalhador em Cascavel, Rosângela Ferreira dos Santos Nietto.

Inserção de jovens

Além desse motivo, em Cascavel o projeto modelo relacionado ao programa Jovem Aprendiz – que vai ganhar destaque nacional de boas práticas numa cartilha que será disseminada por todo o Brasil – contribuiu para que 1.259 jovens de 14 a 24 anos fossem efetivados desde 2011, quando o programa começou. Somente em 2017 as boas ações realizadas em Cascavel já colocaram 180 desses jovens no mercado formal com carteira assinada.

Considerada a realidade de toda região, entre os economicamente ativos de 40 a 49 anos, as seis maiores cidades do oeste tiraram 193 delas do mercado, ou seja, foram mais demissões do que contratações com a extinção de quase 200 cargos ocupados por eles.

Entre as pessoas com 50 a 64 anos, o mercado tirou 1.124 delas de postos formais. E o desemprego atingiu neste ano de 2017, até o momento, 148 pessoas com 65 anos ou mais. Vale lembrar que estes dados já deduzem as demissões das contratações e representam o resultado das efetivações e desligamentos.

Contudo, considerando os prós e os contras, os primeiros sete meses do ano fecharam o ciclo com a criação de 3.116 novas oportunidades de trabalho na região.

Mais jovens X mais experientes

A substituição de profissionais mais experientes por jovens ingressando no mercado de trabalho é uma tendência que não começou agora. Em 2016, com o acirramento da crise, essa realidade já se fazia bastante presente na região. As pessoas acima dos 40 anos ficaram, segundo a estratificação do Ipardes, cada vez mais isoladas do mercado formal. A diferença é que, de janeiro a julho do ano passado, as seis maiores cidades da região fecharam com mais demissões do que contratações, 403 no total.

Naquele período o mercado absorveu 1.329 pessoas com até 17 anos, 1.558 com 18 a 24 anos, eliminou 404 ocupações em postos ocupados por pessoas com 25 a 29 anos, retirou 652 trabalhadores do mercado com 30 a 39 anos, 602 de 30 a 39 anos, 785 de 40 a 49 anos, 1.310 de 50 a 64 anos, e 139 com 65 anos ou mais.

Mulheres mais demitidas

Os números revelam ainda que as mulheres são as mais penalizadas no momento de demitir: “Isso ainda é reflexo de uma sociedade paternalista. No momento de definir o profissional para a demissão, há casos em que as mulheres ficam na linha da frente por alguns fatores, como o familiar, por exemplo. O pensamento de que o ato de prover a família é do homem”, reforça a socióloga Moema Viezzer.

Conciliado a esse ponto de vista, essas influências também pesam na hora de contratar. Uma pesquisa divulgada na semana passada revela que para o homem ter filhos é um fator que influencia favoravelmente, diferente da mulher. Ainda há empregadores que, no momento em que uma mulher diz que têm filhos pequenos, a dedução é de que ela vá faltar mais no trabalho e que irá produzir menos por conta disso.

De janeiro a julho do ano passado, enquanto 470 homens foram efetivados, 873 mulheres perderam o emprego. Neste ano, quando o cenário começou a reagir com mais efetivações com carteira assinada, o número de mulheres contratadas até superou o de homens, mas a escala, considerando as demitidas no período do ano passado, foi inferior à reposição.

Foram 1.683 mulheres contratadas de janeiro a julho de 2017 e na outra ponta foram 1.483 homens contratados. Assim, se considerada a quantidade de mulheres demitidas no ano passado, as contratações de agora não superaram nos desligamentos do ano passado e ainda há um déficit de novas vagas para as mulheres.

 

Por segmentos

Os serviços e a indústria da transformação foram os segmentos que mais empregaram nesses sete primeiros meses do ano na região. Juntos, eles acumularam 3.417 novas oportunidades formais enquanto a construção civil e o comércio demitiram mais do que contrataram.

A agropecuária está em um processo intermediário e registrou mais contratações do que demissões, mas acumulou 164 novas oportunidades com carteira assinada na região de janeiro a julho deste ano.

Os outros setores fecharam com mais demissões do que contratações. “Aos poucos vemos uma mudança na economia e o mercado está reagindo, mas esta reação está sendo lenta e gradativa. Um degrau de cada vez. Mas a tendência é para que haja uma melhora gradativa nos próximos meses”, avalia o diretor-presidente do Ipardes, Julio Suzuki Júnior.