Cotidiano

Crise hídrica: Com prejuízo de R$ 1 bi, Cascavel edita novo decreto de emergência

Chuvas abaixo da média ainda preocupam; em Cascavel, novo decreto tem cobertura para mais 180 dias

Chuva no Plano Piloto em Brasília
Chuva no Plano Piloto em Brasília

 

 

Cascavel – Motivada pela crise hídrica que assola o município e o Paraná, a Prefeitura de Cascavel editou um novo decreto declarando “Situação de Emergência”. O Decreto Municipal foi publicado ontem (23), no Diário Oficial do Município, assinado pelo prefeito Leonaldo Paranhos. Em agosto, o Município já havia editado um decreto com vigência de 180 dias. Essa nova edição se deu porque o antigo decreto venceu, sendo renovado novo período de 180 dias.

De acordo com o Sindicato Rural de Cascavel, o decreto dará suporte ao setor do agronegócio, principalmente para a renegociação de dívidas, além de facilitar para a Prefeitura buscar recursos estaduais e federais. “A medida foi solicitada pelo próprio Sindicado Rural porque o antigo estava vencendo. Temos duas situações: a primeira é que a estiagem continua e a recuperação das águas não aconteceu. Então, esse decreto deve contemplar algum programa que ainda venha a acontecer se não voltar chover”, explicou Paulo Vallini, diretor secretário do Sindicato Rural de Cascavel, completando que “a segunda situação faz com que os produtores rurais tenham a possibilidade de renegociação dos débitos que se teve nesse período”.

 

R$ 1 bilhão

As perdas de produção sofrida pelos produtores rurais, nas diversas atividades do Município, estimado para a safra 2021/2022 corresponde a RS 1.051.438.579,00 somente em Cascavel. Segundo Vallini, caso não houvesse esse prejuízo, parte desses valores seriam injetados na economia local. O Sindicato Rural de Cascavel elaborou um levantamento para detalhar a crise vivida pelo setor e encaminhou à Defesa Civil. O documento corroborou a decisão do decreto de “Situação de Emergência”.

 

Sem previsão

A estiagem que houve no município em 2021 causou inúmeros problemas na agricultura e na pecuária. Além de ser umas das mais duradouras que se tem notícia, a pior nos últimos 100 anos, prejudicou o abastecimento de água, tanto para os proprietários, plantações, pastagens e animais, pois muitas nascentes e poços secaram, como também houve redução de água nos rios e para a agricultura, nas 4.915 propriedades rurais do município.

De acordo com a Defesa Civil de Cascavel, embora na vigência do antigo decreto tenham ocorrido investimentos do Governo do Estado e do Governo Municipal, os níveis de chuva no último semestre ficaram abaixo do esperado, por conta disso, ainda não é possível prever o fim da crise hídrica e da estiagem prolongada, por conta disso, houve a edição de um novo.

 

Pouca chuva

O decreto municipal detalhou que o nível de chuva nos últimos meses foi 24,35% a menos do que seria considerado normal para o período. De acordo com o relatório, de 01/07/2021 até 31/12/2021, deveria chover aproximadamente 864,8 mm, mas nesse período houve apenas 654,2 mm de chuva, o que desencadeou o desastre.

Conforme a Sanepar, os rios de Cascavel ainda estão com o nível 30% abaixo do normal.

 

Áreas mais Afetadas

O agronegócio já havia sofrido bastante no Oeste por conta das geadas no inverno, o que trouxe um grande prejuízo para o trigo. Agora, a falta de chuva afeta outras culturas. Segundo Vallini, a pecuária é um dos setores que mais sofre por conta da estiagem, seja pela falta de pasto ou seja pela água para os animais beberem. “Quem tem pecuária acaba plantando milho para fazer silagem e o milho não se desenvolveu o suficiente para a silagem. Agora, com novo plantio esperamos recuperar, pois o criador de gado não tem mais reserva de alimento.”

Ainda segundo ele, se a estiagem continuar nos próximos meses, existe o risco da pecuária entrar no inverno com mais problemas. “Se tiver poucas chuvas, corre o risco de entrar no inverno com as pastagens prejudicadas e automaticamente o setor e a produção de carne e leite.”

Na avaliação do agricultor, para que o setor possa se recuperar, seria necessário que chovesse uma média mensal de 200 a 300 mm nos próximos meses.

 

Safrinha

Segundo Vallini, a boa parte dos agricultores de Cascavel colheram a soja e já plantaram o milho safrinha. De acordo com ele, o prazo do vazio em Cascavel era até dia 20 de fevereiro, a partir de agora, aqueles que plantarem não irão conseguir o seguro. Por conta disso, na avaliação dele, muitos poderão migrar direto para as culturas de inverno.

“Apesar de todos os problemas, aquele que colheu a soja já está com o milho safrinha plantado, independente da solução do governo. O produtor já tomou a posição que foi o plantio do milho. Aqueles que por ventura ainda têm soja vão esperar para colher e entram em um período que talvez não seja interessante para o milho safrinha e migre para o trigo.”