Cotidiano

Crise financeira: faltou planejamento, dizem especialistas

RIO – A falta de planejamento é apontada por economistas ouvidos pelo GLOBO como um
dos fatores que contribuíram para o cenário dramático enfrentado pelo estado, a
ponto de o governador em exercício Francisco Dornelles decretar calamidade
pública. Para o professor Bruno Leonardo Sobral, da Faculdade de Economia da
Uerj, o verdadeiro desastre não é o financeiro, mas a falta de gestão:

? O que a gente ouve do governo sobre a crise é ?amanhã a gente vê?, ?estamos
pensando no agora?. Esse é o problema. Falta estratégia para administrar os
recursos. Crise – 20/06

Ainda segundo Sobral, as renúncias de ICMS concedidas a empresas não são
necessariamente ruins, mas não são planejadas e não surtem efeito.

Professora da Coppead/UFRJ e especialista em contas públicas, Margarida
Gutierrez diz que o governo federal permitiu o endividamento dos estados, sem
exigir contrapartidas em investimentos:

? O governo federal é, em parte, culpado pela crise, pois foi avalista de
empréstimos usados para inchar a máquina. Nos últimos dois ou três anos, a crise
só foi evidenciada porque a arrecadação caiu.

RENEGOCIAR DÍVIDAS

Para Margarida, agora é tarde para cortar gastos com pessoal. A medida só
surtiria efeito a longo prazo. Ela acredita que só o socorro da União pode
melhorar a situação do Rio:

? É preciso renegociar a dívida dos estados e liberar novos empréstimos pelo
governo federal.

Margarida também defende o cancelamento imediato de concursos públicos, a
reforma da previdência e a maior eficiência na gestão de gastos com suprimentos
nos hospitais, por exemplo, para o estado não cometer erros do passado recente.

Para Raul Velloso, economista especialista em contas
públicas, o estado de calamidade pública já deveria ter sido decretado no meio
do ano passado. Segundo ele, a única solução possível a curto prazo para a crise
é o apoio federal:

? Pezão vivia em Brasília tentando encontrar uma
solução. E estava certo. Mas ele não conseguiu nada, pois o mundo político se
move lentamente, e a perda de credibilidade política de Dilma tirou dela a
capacidade de tomar certas iniciativas.