Cotidiano

Crise derruba venda de carros novos na região

Assis Chateaubriand – Os reflexos da crise ainda têm levado os paranaenses a pisar no freio na hora de decidir pela compra de um carro zero quilômetro. O comportamento pode ser percebido especialmente nas pequenas e médias cidades da região oeste do Paraná.

De acordo com dados fornecidos pelo Detran-PR, o número de emplacamentos de carros novos vem apresentando queda desde 2014, ano em que a crise arrombou a porta dos brasileiros e mergulhou o País em uma das suas piores recessões econômicas.

Em 2014, foram emplacados no Paraná 321 mil veículos. No ano seguinte, em 2015, caiu para 225 mil carros emplacados e, em 2016, fechou com 190.185. Já no ano passado, a movimentação de emplacamentos de veículos novos foi de 190.092.

Na região oeste do Paraná, que compreende 50 municípios, a queda nos procedimentos de novos emplacamentos foi sensível, de apenas 0,77% no total. Mas os dados que chamam a atenção é o número de cidades de pequeno e médio portes que apresentam redução na inclusão de carros novos emplacados. Dos 50 municípios da região, 33 fecharam o ano com saldo negativo em relação aos emplacamentos de novos veículos em 2017.

Esse seria um claro reflexo da redução do poder de compra da população nesses municípios. Nas cidades consideradas de maior porte, o panorama é outro, com crescimento, embora pequeno. Mas até a capital paranaense segue essa tendência de queda: em 2016 emplacou 63.471 veículos contra 60.058 em 2017.

Na cidade de Foz do Iguaçu, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, também houve queda, passando de 4.377 em 2016 para 4.301 no ano passado. Já em Toledo, foram emplacados 2.350 carros novos em 2016, frente a 2.339 em 2017.

Cascavel, a maior das cidades da região e com alta concentração de prestadores de serviço e de concessionárias, o aumento do número de emplacamentos beirou os 7%.

Já em Londrina, na região norte do Paraná, a diferença é maior. Em 2016, foram emplacados 12.163 veículos e, ano passado, 11.611.

Em todo o Paraná, a frota de veículos em circulação, de acordo com o mais recente levantamento divulgado pelo Detran-PR, é de 7 milhões de veículos. Em 2016, o Paraná contava com uma frota total de 6,8 milhões de veículos em circulação.

O diretor-geral do Departamento de Trânsito do Paraná, Marcos Traad, afirma que, apesar dessa queda, houve um pequeno aumento da frota de veículos. “A redução dos primeiros emplacamentos foi menor do que a queda que houve nas transferências de veículos usados”, explica. As quedas foram percebidas em todos os serviços, segundo Marcos Traad.

E, como a frota cresceu e os emplacamentos foram menores, a lógica é de que ela também “envelheceu”.

Cascavel

Por concentrar parte das vendas de veículos novos para outros municípios da região, Cascavel teve aumento expressivo de 7% nos emplacamentos ao se considerar que em 2016 foram emplacados 5.611 veículos e ano passado, 5.998.

Já com relação à frota, essa cresceu 6.397 veículos em apenas um ano. De acordo com dados do Detran-PR (Departamento de Trânsito do Paraná) até 2016, 215.087 veículos circulavam com placas de Cascavel e, no fim do ano passado, o registro era de 221.484, crescimento de 3%.

Sem incentivo do governo federal e com o aumento do rigor das instituições financeiros para compra de carros novos, muitas pessoas decidiram pôr o pé no freio

Concessionárias vivem cenário de incertezas

Assis Chateaubriand – O período de instabilidade econômica bastante presente em 2017 influenciou na comercialização de veículos novos na cidade de Assis Chateaubriand, conforme consultores de vendas de duas concessionárias de veículos.

Com base na planilha de emplacamentos de carros novos na região oeste, obtida no Detran-PR (Departamento de Trânsito do Paraná), a queda nas vendas em Assis Chateaubriand chegou a 14,83% ano passado.

Para os vendedores, o principal responsável por essa redução foi a crise sentida pela população brasileira em todos os segmentos, desde 2014.

A expectativa agora é com 2018, apesar de ser um ano considerado difícil, por conta das eleições e a Copa do Mundo, a ser disputada na Rússia na metade do ano. Atualmente, a frota total de veículos em Assis Chateaubriand é de 24.418 veículos.

Na Assicar, concessionária Volkswagen, o consultor de vendas João Tomin da Silva – atuante no comércio de veículos há quase duas décadas – diz que nunca tinha atravessado uma crise tão intensa quanto essa última. “As vendas caíram consideravelmente por conta das incertezas econômicas presentes ano passado, mas principalmente devido à queda no poder de compra do agricultor, que preferiu adotar a cautela”.

Conforme ele, quando a agricultura vai bem, tudo segue essa tendência, mas, como os preços não colaboraram ano passado, acabou gerando reflexos nas vendas e reduzindo um pouco a comercialização de veículos novos. “Mas essa situação já começa a melhorar neste começo de ano e as expectativas são as melhores, mesmo em um ano de eleições e Copa do Mundo”, destacou.

A região oeste do Estado é essencialmente agrícola e depende muito de bons resultados para refletir favoravelmente na economia dos municípios: “Falta ainda uma política mais firme e de incentivo do governo federal, com o propósito de reaquecer as vendas de carros novos”.

A maioria das vendas consolidadas ano passado foi de veículos de passeio e caminhonetes, de acordo com Tomin. Ele aponta também a falta de atenção ao Programa Mais Alimentos, responsável pelo crescimento considerável nas vendas de carros quando estava em vigor, há cerca de três anos. “Esse programa potencializou as vendas e garantiu a renovação dos veículos por parte dos agricultores da região”, recorda.

Segundo ele, os anos de 2016/2017 foram mais favoráveis ao comércio de veículos seminovos. As taxas de juros para os financiamentos, consideradas elevadas, também afastaram os compradores, de acordo com Tomin.

Incógnita

Ainda em Assis Chateaubriand, a Concessionária Interlagos, ligada à marca Chevrolet, aponta uma sensível queda nas vendas de carros novos no ano passado, em comparação com o período anterior. “A classe C, que antes estava com um poder de compra melhor, se viu obrigada a agir com cautela e, com isso, gerou reflexo em todos os setores econômicos, afetando inclusive o segmento de carros novos”, comentou o consultor de vendas Genésio Sarro. “O mercado é uma incógnita: enquanto as vendas de carros populares caíram, o de médio a luxo subiu nestes primeiros dias de 2018”, revela, esperançoso de uma reação nas vendas neste primeiro semestre do ano.