Cotidiano

Cresce número de pessoas com nome sujo na praça

Apenas nas quatro maiores cidades do oeste, há mais de 138 mil negativados no SPC

Foz do Iguaçu – O cenário de crise acirrado fez com o ingresso ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) tivesse acréscimo neste ano se comparado com 2016.

Em Cascavel, por exemplo, o crescimento foi de 16%, totalizando agora 40.090 CPFs inclusos na lista dos maus pagadores, apenas nos registros do SPC. No mesmo período do ano passado eles representavam pouco menos de 37 mil.

Esse cenário se repete na região e somente nas quatro maiores cidades, Cascavel, Foz do Iguaçu, Toledo e Marechal Cândido Rondon, que concentram mais da metade da população regional, há 138 mil pessoas negativadas em um contingente de 771 mil habitantes.

Isso significa que há uma pessoa na lista dos maus pagadores para cada seis habitantes.

O elevado número preocupa, sobretudo porque o comércio caminha rumo às vendas de fim de ano, período primordial para a tão sonhada recuperação do comércio, nas vésperas do Natal.

Para o vice-presidente da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Industriais do Paraná), Claudenir Machado, esse cenário representa uma soma de fatores, o principal deles, evidentemente, puxado pela crise.

Dentre os aspectos a serem analisados está o fato de o comerciante ingressar mais rapidamente com o cadastro na lista dos maus pagadores quando expira o prazo para quitação das dívidas, evitando que esse cliente compre em muitos lugares e deixe de pagá-los também. Outro é o fato do varejista estar mais criterioso para a liberação de crédito, consultando mais sobre seu cliente antes da venda o que resulte numa queda das comercializações. Tudo isso, claro, puxado pela crise que tem forçado que muita gente faça escolhas das contas a serem pagas.

“Esses dados representam apenas os registros no SPC, imagine quantos endividados há se somados os dados do Serasa e das operadoras de cartões de crédito”, alerta.

13º salário

A esperança do comércio está no pagamento do 13º salário, cuja primeira parcela deve ser depositada na conta dos trabalhadores em pouco mais de 60 dias. “Já é histórico que muitas pessoas usam o dinheiro do 13º salário para pagar as dívidas, tirar o nome do SPC para poder voltar a comprar, mas é cultural também que poucos meses depois uma elevada parcela volta para a lista dos maus pagadores porque as contas sempre se apertam no começo do ano com IPVA, IPTU, material escolar, e, juntando todas, nunca há dinheiro suficiente para pagar tudo”, explica o vice-presidente da Faciap, ao considerar que a aposta neste fim de ano é para uma tímida recuperação nas vendas.

Foz do Iguaçu é a cidade mais endividada da região

Entre as condições regionais mais preocupantes está a de Foz do Iguaçu. O município com 264 mil habitantes tem mais de 70 mil cadastrados no SPC. Por lá, uma em cada quatro pessoas está negativada. “Vejo por mim. Tenho optado por oferecer menos o crediário próprio e dar mais vantagens para quem paga a vista ou no cartão de crédito. Tenho muitas contas que não consigo receber e isso acaba inviabilizando o negócio. Isso exigiu que eu ficasse mais criteriosa”, afirma a comerciante Natália Regis.

Ela já fez as compras da coleção primavera/verão, mas desta vez o estoque foi calculado com base naquilo que de fato deverá vender. “Nos outros anos comprávamos mais e ficávamos com um estoque muito grande, neste ano não tinha como ser assim, então optamos por reduzir as compras e apostar naquilo que realmente vende”, seguiu a lojista.

Em Toledo, a segunda cidade mais endividada na região, há um negativado para cada seis habitantes. O valor da dívida por lá, segundo dados do SPC, é de R$ 21 milhões.

Cascavel e Marechal Cândido Rondon vivem situações relativamente parecidas. Na primeira, o número de maus pagadores soma 40.090 (um para cada oito habitantes) e, na outra, são 6.133 negativados, uma média de um devedor para cada 6,6 habitantes.