Cotidiano

Cresce a expectativa de reintegrações em Quedas

Há pelo menos 70 mandados de reintegração já expedidos pela Justiça e até agora não cumpridos em todo o Paraná

Quedas – A ação da Polícia Civil, que na semana passada prendeu oito integrantes do MST acusados de manter uma milícia particular, renova a esperança de líderes e de moradores do Sudoeste do Estado de cumprimento de mandados de reintegração de áreas invadidas pelo Movimento Sem-Terra. Há pelo menos 70 mandados de reintegração já expedidos pela Justiça e até agora não cumpridos em todo o Paraná. Desde 24 de outubro já corre prazo de multas diárias ao governo estadual, que não observou prazo de 60 dias dado pela Justiça do Estado do Paraná, de reintegração de áreas da empresa Araupel.

As acusações que levaram oito sem-terra à prisão (há seis foragidos) são inúmeras, de furto, ameaças a cárcere privado. No entanto, há anos outras denúncias estão em apuração, como da morte de animais silvestres, da extração irregular e comércio de madeira e até da derrubada de árvores protegidas por lei, a exemplo de araucárias. “Não é de agora que esse pessoal do MST atua à margem da lei. Alguns estão enriquecendo enquanto muitos aguardam, precariamente em acampamentos, pela chamada reforma agrária”, diz um comerciante de Quedas do Iguaçu que prefere não se identificar.

Quem mora nas regiões invadidas pelo MST há muito acompanha os excessos que os líderes do movimento praticam. “Eles praticam atos de terrorismo e não respeitam nada e ninguém”, diz um líder classista da região Sudoeste que, diante dos acontecimentos, também prefere manter a sua identidade em sigilo. Com as ações da Polícia Civil, que desarticulou parte de um grande esquema criminoso e de apropriação indébita, cresce entre funcionários da Araupel, moradores e autoridades a expectativa de que o governo estadual possa, a qualquer momento, cumprir mandados de reintegração, expedidos pela Justiça no mesmo dia das invasões.

Retomar A vida

Um líder empresarial da região de Quedas do Iguaçu diz que as pessoas não guardam mágoas de integrantes do MST, daqueles que de fato sonham com um pedaço de terra. No entanto, o sentimento é outro em relação à liderança do movimento, que trata a todos com truculência, com ameaças e com desrespeito. “Nossa esperança voltou. O que queremos é simplesmente poder retomar as nossas vidas e ver que a Justiça ainda se cumpre punindo verdadeiramente quem a desobedece”.

“Lei” rígida nas áreas de ocupação

O que a polícia começa a desarticular é um esquema criminoso que fazia com que parte dos próprios integrantes do MST fossem vítimas de uma política que em nada se assemelha à luta pela terra, afirma um ex-membro do Movimento que acompanha à distância os desdobramentos da Operação Castra. Seriam pelo menos dez mil pessoas, de vários acampamentos e assentamentos, que vivem sob o rigor de um conjunto de normas criadas pelos coordenadores do MST. De acordo com a própria polícia, muitos acampados se queixam das penalidades impostas a quem não cumpre as regras estabelecidas pelo grupo que se locupleta com o dinheiro de inúmeros crimes e abusos. “Acabou a cumplicidade que eles tinham do regime que foi tirado do poder pelo impeachment”, afirma outro líder de Quedas, que também prefere o anonimato.