Cotidiano

Cremerj denuncia Antonio Pedro, em Niterói, ao Ministério Público

NITERÓI – Dois meses após o início da gestão compartilhada do Hospital Universitário Antonio Pedro com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), assinada no dia 6 de abril, a unidade enfrenta um novo problema: o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) denunciou ao Ministério Público Federal, terça-feira, a situação crítica pela qual passa a unidade de saúde. Em vistoria realizada no último dia 1º, o Cremerj constatou leitos vazios em decorrência da falta de profissionais — de acordo com o superintendente da unidade, Tarcísio Rivello, o deficit chega a 729 funcionários —, pacientes de sexos diferentes na mesma enfermaria e até uma cirurgia sendo realizada no setor de emergência.

— É um hospital com corpo clínico de alta qualidade que acompanha doentes com diagnóstico de difícil resolução, uma unidade que tem a característica de resolver questões que outras não conseguiram. O Antonio Pedro está numa situação muito triste — diz Gil Simões, coordenador da Comissão de Fiscalização do Cremerj.

De acordo com Simões, a superlotação da emergência e os leitos vazios — “duas tragédias”, define — chamaram a atenção entre todos os problemas encontrados na unidade:

— A superlotação da emergência choca pela forma com que o ser humano é tratado; os leitos fechados também. São duas tragédias. Não adianta colocar cartaz na entrada dizendo que a emergência está fechada (o setor funciona como referência em neurocirurgia e na área cardiovascular). A emergência é pequena, não tem capacidade para absorver a procura. Fica cheia, com pacientes muito graves, com pacientes menos graves. Estes deveriam estar na enfermaria, mas lá tem 60 leitos fechados por falta de enfermeiros.

Rivello explica que o cenário ocorre porque emergência e ambulatório concorrem entre si:

— A emergência, que atende todos os casos graves, concentra uma demanda sempre maior do que a sua capacidade e vai diminuir os recursos do ambulatório, pois a prioridade são os casos emergenciais. Por isso, nossa emergência é referência em neurocirurgia e na área cardiovascular.

A direção do Antonio Pedro acrescentou que já preparou uma resposta “que em breve será encaminhada ao Cremerj”.

A denúncia chega na mesma semana em que três aparelhos de gastroenterologia e endoscopia, utilizados para diagnosticar doenças do aparelho digestivo, como câncer, foram furtados. Os equipamentos (dois videocolonoscópios e um videogastroscópio), que realizam exames de endoscopia e colonoscopia, foram avaliados em aproximadamente R$ 600 mil. O setor é responsável por realizar cerca de 300 exames por mês e, com o furto, reduzirá em 70% os exames de colonoscopia e em 30% os de endoscopia para pacientes que não estão agendados.

O hospital abriu uma sindicância para apurar o furto e informou que estão sendo realizadas diligências pela Polícia Federal para tentar esclarecê-lo. A direção diz que vai aguardar o resultado e, se necessário, buscará a reposição desses equipamentos com os órgãos competentes.

O furto ocorre num momento de dificuldade para o hospital, referência na Região Metropolitana do Rio, que luta para modificar o cenário de crise que reduz sua capacidade de atendimento. A Ebserh diz que “iniciou processos visando aprimorar a gestão da unidade”. Entre eles está a polêmica instalação do ponto eletrônico na unidade. A medida está sendo debatida neste momento, de acordo com o superintendente Tarcísio Rivello, mas encontra resistência.

Ontem, servidores da Universidade Federal Fluminense (UFF) fizeram uma paralisação de 24 horas. O ato foi convocado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFF (Sintuff), contrário à implementação do ponto eletrônico.

— O controle de frequência pode ser eletrônico ou assinatura de ponto. Queremos que seja por assinatura. Não somos contra o controle de frequência: se alguém não trabalha é porque a chefia é conivente. Vai se gastar muito dinheiro para instalar isso, sendo que a universidade deve conta de luz e não tem nem papel higiênico. Nós não defendemos quem não trabalha. A chefia é que tem que dar falta — afirma Lígia Martins, uma das coordenadores gerais do Sintuff.

Do outro lado, o superintendente do Antonio Pedro critica a postura do sindicato.

— Vai ter (ponto eletrônico). Vai ser implementado. O sindicato deixar ou não deixar será relativizado. Já enfrentei muito (os sindicalistas). Se eu estou aqui na condição de superintendente, preciso mostrar resultado. É por isso que o sindicato fica chateado comigo. Eu acabei com a farra do boi que tinha aqui, mas eles não falam isso. Tinha um arquivo com funcionário que já estava morto e vários outros que nunca foram funcionários de fato; tinha gente ligada a partido político. Eu fiz em prol de quem? Da dona Maria, do João, dos pacientes. E eles (membros do sindicato) não acham isso, porque dava margem de manobra — dispara Rivello.

NOVO AMBULATÓRIO ATÉ DEZEMBRO

Uma das promessas para desafogar o atendimento na unidade é a conclusão, até dezembro, de um novo ambulatório. Ao custo de R$ 12 milhões, a estrutura aumentará a capacidade de atendimento em 20%, de acordo com estimativas do hospital. Atualmente, 800 pessoas passam diariamente, em média, pelos 60 consultórios. Com a inauguração, serão 80 consultórios.

Já a saída para o deficit de profissionais é a realização de um concurso público emergencial, para preencher 272 vagas temporárias. “O pedido para a realização do certame já foi encaminhado ao Ministério do Planejamento. A Ebserh aguarda autorização dos cargos pelo órgão para a realização do concurso”, informou a empresa vinculada ao Ministério da Educação.

Segundo Rivello, o Antonio Pedro tem uma dívida estimada em R$ 8 milhões — em 2006, o valor era de aproximadamente R$ 12 milhões, afirma. O superintendente critica o valor da verba do Ministério da Saúde a título de repasse dos serviços prestados ao SUS: R$ 2,8 milhões mensais. Segundo ele, a quantia, defasada, deveria ser de aproximadamente R$ 5 milhões.

Em nota, a Ebserh informa que “as ações empreendidas (pela entidade) têm demonstrado resultados na rede. Vale ressaltar, entretanto, a necessidade de um planejamento prévio e prazos para que as medidas surtam efeito. De 21 hospitais universitários federais que estão sob a gestão da empresa, há pelo menos dois anos, os resultados já podem ser observados. O quadro de pessoal aumentou de 20.367 para 32.686, um aumento de 60%, as consultas nas 21 unidades aumentaram 19%, as internações 23% e o número de leitos subiu de 4.718 para 5.037 (7%). Os resultados também impactaram os programas de residência médica, que subiram de 431 para 473 e o número de residentes médicos em 15%”.

Procurado, o Ministério da Saúde não comentou a crítica até o fechamento desta edição.