Cotidiano

Courtney Barnett: a estrela nem aí para o estrelato

59844171_A cantora australiana Courtney Barnett.jpgRIO – Comparações com Bob Dylan (por suas canções palavrosas que contam saborosas histórias, sempre com muita ironia) e elogios de músicos de renome, como Butch Vig (baterista do Garbage e produtor do disco ?Nevermind?, do Nirvana) ajudaram Courtney Barnett a ir além do seu quintal australiano de rock alternativo para ser ouvida pelo mundo. Seu álbum de estreia (?Sometimes I sit and think, and sometimes I just sit?) foi um dos mais comentados do ano passado e lhe valeu uma indicação ao Grammy de melhor artista novo. Agora, a cantora, guitarrista e compositora de Melbourne prepara-se para vir ao Brasil, em novembro, para shows em São Paulo (dia 16, no Audio Club) e no Rio (17, no Circo Voador), ao lado dos americanos Edward Sharpe & The Magnetic Zeros.

Curiosa com o Brasil, onde nunca esteve e quer aproveitar para fazer algum turismo, a artista de 28 anos conversou por telefone com O GLOBO, num dos intervalos entre os shows de uma turnê europeia.

? Vamos passar mais umas semanas tocando e depois seguimos para casa, para compor, gravar e descansar um pouco. Em novembro voltaremos novos em folha para mais uma turnê ? promete a guitarrista canhota, que deve apresentar algumas músicas novas nos shows brasileiros. Courtney1

Das recentemente reveladas estrelas do rock, Courtney Barnett é certamente uma das mais desencanadas. Há três anos, ela se apresenta com os mesmos músicos (o baixista Bones Sloane e o baterista Dave Mudie) e desfila com roupas simples (muitas camisetas de bandas obscuras de rock). Entrevistada certa vez, confessou desconhecer os artistas com os quais concorria ao Grammy (a vencedora Meghan Trainor, James Bay, Sam Hunt e Tori Kelly). Mas registrou com orgulho, no Facebook, o dia em que foi ao estúdio para ver as gravações do disco do Breeders, grupo de suas ídolas, as irmãs Kim e Kelly Deal. Courtney ainda se surpreende com o quão rápido a sua carreira artística decolou.

? Sim, as coisas foram muito aceleradas, estamos sempre nos movimentando, fazendo coisas novas. É muito divertido e eu adoro isso ? comenta a artista, cujas músicas mais famosas (?Nobody cares if you don?t go to the party?, ?Pedestrian at best? e ?Elevator operator?) trazem uma influência clara do rock americano dos anos 1990, embora ela também assuma gostar de grupos australianos como Divinyls e You Am I. Courtney2

Participações ao vivo, em maio, em programas de grande audiência nos Estados Unidos (?The Tonight Show starring Jimmy Fallon? e ?Saturday Night Live?) deram a Courtney Barnett uma grande exposição ? da qual ela desdenha.

? É difícil dizer o quanto isso influencia no número de pessoas que vão a nossos shows e compram nossos discos. Mas estamos indo muito bem ? conta ela, uma defensora ferrenha das rádios comunitárias e do mercado independente (ela tem seu próprio selo, Milk Records). ? Não estaríamos aqui se não fosse pelo apoio dessas rádios. Courtney3

Fã da inglesa PJ Harvey (ela postou no Facebook um vídeo de quando PJ se manifestou contra a saída do Reino Unido da União Europeia, no seu show, lendo um poema de John Donne), Courtney até tenta se esquivar da discussão política:

? Sendo bem honesta, não entendo muito do que está acontecendo no Reino Unido para dizer como me sinto. O que sei é que essa decisão (do Brexit) vem junto com uma onda de racismo, que não é legal, e que está se espalhando pelo mundo inteiro. Espero que as pessoas se mantenham juntas contra isso.