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Corinthians votará impeachment de presidente acusado de fraudes

59197280_ES São Paulo SP 15-06-2016 Presidente do Corinthians Roberto Andrade anuncia Tite como.jpg

Poucos ? ou quase ninguém ? imaginavam que o Corinthians produziria no início de 2015, ano de seu hexacampeonato brasileiro, as bases de uma crise institucional cujos desdobramentos podem levar ao impeachment do presidente Roberto de Andrade. O futuro de Andrade será decidido nesta segunda-feira, em reunião do Conselho Deliberativo do clube, marcada para ter início às 18h. Os 341 conselheiros decidirão, por maioria simples (metade mais um), se Andrade é afastado do cargo devido a acusações de fraudar uma ata de assembleia geral e um contrato da Arena Corinthians.

Andrade assinou os documentos, na condição de presidente do Corinthians, antes de ser eleito para o cargo, em 7 de fevereiro. O então candidato à sucessão de Mario Gobbi, e membro do grupo político do ex-presidente Andrés Sanchez, assinou a contratação da empresa Omni para administrar o estacionamento da Arena Corinthians em 10 de janeiro ? ou seja, 27 dias antes de ser eleito. Além disso, em 5 de fevereiro, Andrade assinou a ata de uma assembleia geral no clube.

As assinaturas fizeram Andrade ser alvo de inquérito por falsidade ideológica, que foi suspenso nesta segunda-feira por decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo. Apesar das datas conflitantes, Andrade sustentou a defesa de que só assinou os contratos quando já era legalmente presidente do Corinthians. Agora, o Conselho Deliberativo do clube decidirá se mantém ou se afasta o presidente do cargo.

Caso o Conselho decida, por maioria simples, afastar Andrade, a presidência será assumida temporariamente pelo vice-presidente André Luiz de Oliveira, o André Negão. O afastamento de Andrade ainda teria que ser confirmado por uma assembleia de sócios do Corinthians, no próximo mês. Neste caso, caberia a André Negão convocar novas eleições para a presidência do clube.

CONTEXTO POLÍTICO

Os documentos no centro da acusação de fraude contra Andrade poderiam representar prejuízos milionários ao Corinthians. O contrato de gestão de estacionamento da Arena Corinthians com a Omni, conforme revelado pela ?Época?, dava margem para que a empresa rompesse o vínculo sem pagamento de multa. Havia, em tese, a obrigação de que a Omni fizesse repasse mínimo de R$ 1,35 milhão ao fundo que administra o estádio. Isto, no entanto, sob a condição de que a obra do estacionamento fosse concluída conforme o projeto original da Arena, o que não ocorreu.

Além disso, a assembleia geral cuja ata recebeu assinatura de Andrade antes de sua eleição como presidente previa, entre outras coisas, um aditivo de contrato da Arena Corinthians para prolongar o prazo de entrega por parte da Odebrecht. Originalmente, a empreiteira deveria ter entregado o estádio concluído em dezembro de 2013.

O aditivo em questão, que foi aprovado na assembleia mas acabaria não sendo firmado, pretendia esticar o prazo para junho de 2015 ? o que, na prática, poderia proteger a Odebrecht de ações judiciais por atraso na entrega. A construção da Arena Corinthians por parte da Odebrecht já esteve na mira da Operação Lava Jato por suspeita de desvio de recursos e pagamento de propinas.

O ex-presidente do clube Andrés Sanchez, peça influente no xadrez político corintiano, apoiou Andrade na eleição em 2015, mas gradativamente se afastou até romper com a atual administração nos últimos meses. André Negão, sucessor imediato de Andrade, também foi vice-presidente na gestão de Andrés Sanchez, de quem é um antigo aliado. Negão chegou a ser nomeado chefe de gabinete por Sanchez após sua eleição como deputado federal (PT-SP), em 2014. Em março de 2016, Negão foi levado a depor coercitivamente no âmbito da Lava Jato por suspeita de receber R$ 500 mil em propinas da Odebrecht, a construtora da Arena Corinthians.