Cotidiano

Coreia do Norte tenta impedir autópsia de meio-irmão de Kim Jong-un

64895084_FILE - In this June 4 2010 file photo dressed in jeans and blue suede loafers Kim Jong Nam.jpg KUALA LUMPUR ? O regime da Coreia do Norte tentou impedir que uma autópsia fosse realizada no corpo do meio-irmão do seu líder, Kim Jong-un. Segundo fontes do governo da Malásia, autoridades de Pyongyang pediram que o corpo fosse liberado imediatamente para o país de origem de Kim Jong-nam. Mas a Malásia rejeitou o pedido, de acordo com vários depoimentos.

Não foi decidido ainda se o corpo do meio-irmão do líder norte-coreano será ou não entregue ao regime. Existe uma forte suspeita de que o crime tenha sido ordenado por Pyongyang, sobretudo, porque Kim Jong-nam era crítico ao governo do seu irmão.

Nesta segunda-feira, autoridades da Malásia detiveram uma mulher que carregava um documento de viagens vietnamita em suspeita de conexão com a morte de Kim Jong-nam. A mulher, presa num terminal para voos de baixo custo do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, foi identificada como Doan Thi Huong, informou a polícial local num comunicado.

A agência de espionagem da Coreia do Sul suspeita que duas agentes da Coreia do Norte cometeram o assassinato na segunda-feira, em plena luz do dia. Kim Jong-nam esperava um voo para Macau, onde estava radicado desde a década passada, quando se sentiu mal e pediu ajuda para funcionários que estavam por perto. Ele teria sido envenenado com agulhas pelas duas suspeitas.

Mais cedo, o presidente interino sul-coreano, Hwang Kyo-Ahn, disse que, se comprovada a 64898410_This image provided by Star TV on Wednesday Feb 15 2017 of closed circuit television footag.jpgresponsabilidade do governo norte-coreano no assassinato, esta seria uma prova da “brutalidade e natureza desumana do regime” de Pyongyang. Ele ressaltou que seu governo cooperava estreitamente com as autoridades malaias para esclarecer o misterioso assassinato. Fontes americanas também indicaram à Reuters, sob anonimato, a crença de que Kim Jong-un seja culpado. pelo assassinato.reproducao.jpg

PEDIDO DE PERDÃO

Kim Jong-nam implorou pelo perdão do líder norte-coreano em 2012. Segundo deputados sul-coreanos, ele fez um apelo pela sua vida e pela sua família, depois de ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato. Filho mais velho do falecido líder Kim Jong-il, vivia erradicado fora do seu país.

Como primogênito, Jong-nam foi considerado por algum tempo o potencial herdeiro do regime norte-coreano. Mas caiu em desgraça em 2001, quando protagonizou um incidente constrangedor para o regime comunista: tentou, sem sucesso, viajar ao Japão com um passaporte falso, sob a alegação de que desejava visitar a Disneyland.

Desde então viveu de fato no exílio e seu meio-irmão Kim Jong-un assumiu o controle do regime após a morte do pai, em dezembro de 2011. No ano seguinte, agentes norte-coreanos tentaram assassinar Kim Jong-nam, que defendia reformas para a Coreia do Norte, segundo parlamentares sul-coreanos disseram à imprensa após uma reunião a portas fechadas com Lee Byung-ho, diretor do Serviço de Espionagem da Coreia do Sul (NIS).

? Aconteceu uma tentativa de assassinato em 2012 e Jong-nam enviou em abril uma carta a Jong-un na qual escreveu: ?Por favor, poupe a mim e a minha família? ? afirmou Kim Byung-kee, membro da comissão de espionagem do Parlamento. ? Também dizia: ?Não temos para onde ir, sabemos que a única maneira de escapar é o suicídio”. Autoridades e especialistas tentam entender misteriosa morte do meio-irmão de Kim Jong-un

A família de Kim Jong-nam ? sua atual esposa, a ex-esposa e os três filhos ? vive atualmente em Pequim e Macau, de acordo com outro membro da comissão, Lee Cheol-woo. Eles estão sob proteção das autoridades chinesas.

Kim Jong-nam é o nome mais importante que foi assassinado sob o regime de Kim Jong-Un desde a execução do tio do líder, Jang Song-Thaekm, em 2013. As duas vítimas seriam bastante próximas uma da outra. Além disso, o filho de Jong-nam, Kim Han-sol, chamou em 2012 o tio Kim Jong-un de ditador em uma entrevista para um canal finlandês, quando estudava na Bósnia.

FILHO ISOLADO

Nascido em 1971, Kim Jong-nam era filho da atriz Song Hye-rim, forçada a abandonar o marido para viver com o então ditador norte-coreano, Kim Jong-il. Por esse motivo, de acordo com Cheong Seoeng-chang, analista de lideranças norte-coreanas do Instituto Sejong, na Coreia do Sul, ele era considerado um filho ilegítimo, e cresceu isolado. Embora tenha sido matriculado numa escola de Genebra em 1980, sua avó o levou de volta a Pyongyang no fim da adolescência, já que o jovem desenvolvera sinais de alcoolismo, diz Cheong.

No fim da década de 1990, o filho mais velho do ditador norte-coreano passou a trabalhar no Ministério de Segurança Pública. Kim Jong-nam, no entanto, caiu em desgraça anos mais tarde, depois de ser detido, ao lado do filho, tentando entrar no Japão com um passaporte falso da República Dominicana. Embora tenha afirmado que queria apenas conhecer a versão japonesa da Disneylândia, em Tóquio, Kim Jong-nam foi deportado para a capital norte-coreana, e o incidente, somado ao exílio de sua mãe ? que fugiu para a Rússia e morreu no ano seguinte ? fez com que seu pai se afastasse dele e nomeasse sucessor seu irmão mais novo, Kim Jong-un.

Após o incidente, Kim Jong-nam se radicou em Macau, onde ganhou notoriedade por jogar intensamente nos cassinos locais e pela constante embriaguez. Rumores que indicavam uma transferência planejada para lavar dinheiro do regime norte-coreano em bancos e cassinos levaram a instituição financeira Delta Asia a cortar todos os laços com a Coreia do Norte em 2007, depois de o Tesouro americano acusá-la de agir em conluio com Pyongyang. Info – Dinastia Kim Coreia do Norte

Em entrevista de 2010 à rede de TV japonesa Asahi, Kim Jong-nam disse estar disposto a ajudar Kim Jong-un quando ele ?precisasse de apoio do exterior?, deixando claro o desinteresse em se tornar o próximo líder da Coreia do Norte. Porém, em outra entrevista ao diário ?Tokyo Shimbun?, Kim Jong-nam afirmou que a educação ocidental o levou a questionar o regime, fazendo com que passasse a ser visto com desconfiança.

Ao contrário de diversos membros da família, Kim Jong-nam não tinha título oficial nem qualquer participação no governo norte-coreano. Com a chegada de Kim Jong-un ao poder, ele voltou a criticar a transferência hereditária de poder no país, e descreveu o regime como ?uma piada para o mundo?.

Na Coreia do Norte, execuções de parentes do Querido Líder ? que assumiu o título do pai ? não são novidade. O Instituto de Segurança Nacional da Coreia do Sul afirma que Kim Jong-un mandou executar 340 pessoas desde que chegou ao poder em 2011, entre elas o tio Jang Song-thaek em 2013. Segundo o ?Daily Mail?, um agente norte-coreano tentou assassinar Kim Jong-nam em Macau, em 2011, mas foi baleado por guarda-costas.

? Kim Jong-nam estava exilado há anos, mas continuava sendo o filho mais velho de Kim Jong-il ? afirmou Namkoong Young, da Universidade Hankuk, em Seul. ? Caso houvesse algum plano da elite para remover Kim Jong-un, seu irmão deveria ser eliminado. Seis curiosidades sobre Kim Jong-un