Cotidiano

Construtoras encontram na Zona Norte filão para condomínios-clubes

RIO — Enquanto dezenas de obras alteram os trajetos e a cara da cidade nos preparativos para a realização dos Jogos Olímpicos do Rio, outras, mais silenciosas, ocorrem na Zona Norte, transformando-a na segunda região que mais cresce em lançamentos imobiliários. Ou melhor, outras obras menos drásticas e badaladas, já que chamar o vaivém e o sobe e desce dos operários de pouco barulhentos pode soar inverídico aos moradores de bairros como Piedade, Penha, Méier, Cachambi, Irajá e Del Castilho. Os residenciais-clubes em construção ostentam centenas de apartamentos (chegam a ser mais de 700 unidades em cada condomínio) e muitos metros quadrados de áreas comuns destinadas ao lazer. Entende-se como residencial-clube um empreendimento que conta com opções como academia, brinquedoteca, espaço gourmet e outras tantas opções de conforto.

Devido ao que os especialistas chamam de “demanda represada”, imóveis lançados para além da Linha 1 do metrô são vendidos mais rapidamente, em comparação com trechos como Barra e Zona Sul, com lançamentos tendo 100% das unidades vendidas em até um mês. Fato explicitado nos dados da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi-RJ), que mostram a Zona Norte como um grande mercado redescoberto. Em número de lançamentos imobiliários no ano passado (residenciais, comerciais e na área de hotelaria), a região só perde para a Zona Oeste: foram 2.024 unidades contra 4.124. Já no primeiro trimestre deste ano, houve inversão dos papéis, e ela passou a aparecer na liderança, com 735 unidades residenciais lançadas contra 30.

— A procura pela Zona Norte aumentou pelo problema da mobilidade urbana. O perfil médio do interesse é por unidades residenciais de 60 metros quadrados com dois quartos — explica João Paulo Matos, sócio-diretor da Calçada Empreendimentos e Presidente da Ademi-RJ.

Bom para a Living, do Grupo RJZ Cyrela, que lançou o Living Choice João Pinheiro em Piedade, em novembro passado, e em dezembro já comemorava o fato de ter os 172 apartamentos negociados. Outro produto de sucesso é o Nobre Norte Clube Residencial, da construtora com a Monteiro Aranha. O empreendimento terá 470 unidades de dois e três quartos, 81% delas já vendidos, em terreno de nove mil metros quadrados, próximo ao NorteShopping.

— Quem mora na Zona Norte não quer sair. São pessoas que gostam de lá e querem o conforto de um residencial clube como os da Barra da Tijuca, só que no bairro — diz Rogério Jonas Zylbersztajn, vice-presidente da RJZ Cyrela.

Ele reforça ainda que o nível de exigência dos compradores se tornou mais alto:

— O cliente chega querendo ofertas de lazer e serviço estratificadas por faixa etária. Antigamente, bastava uma quadra e uma piscina. Hoje, não. Temos de oferecer lugar para ginástica, espaço para festas infantis e de adultos e piscina grande, entre outros atrativos.

Que o diga o analista de TI Wagner Bateira. Ele fechou ainda na planta a compra do apartamento de dois quartos e 51 metros quadrados no Carioca Residencial, Del Castilho, perto do shopping Nova América.

— Este condomínio me chamou atenção por ser muito perto do shopping e do metrô, além de estar próximo também da Linha Amarela. No book do empreendimento, vi um parque bem grande dentro dele, que possibilita fazer caminhadas. E ainda tem academia e outras coisas. Quis qualidade de vida — conta ele.

O parque em questão, de uso privativo dos moradores do condomínio-bairro Rio Parque, tem área de cinco mil metros quadrados. Só a parte residencial do Carioca tem 21.210 metros quadrados.

— O estilo de vida proposto passou a ser um atrativo na decisão da compra. Na Zona Norte, conseguem-se terrenos grandes para esses clubes condomínios, enquanto na Tijuca ou na Zona Sul, por exemplo, não dá para fazer — acrescenta João Paulo Matos.

A Fernandes Araújo também tem planos para a região. A construtora aposta que a Zona Norte vai crescer por causa do eixo ligado aos corredores expressos Transolímpico, Transcarioca e Transoeste. Um lançamento na Rua Borja Reis, no Grande Méier, ainda sem data definida, ofertará 126 unidades.