Cotidiano

Construção civil demite menos e começa a reagir

Lojas de materiais de construção estão com vendas em elevação

Toledo – É momento de respirar porque o pior da crise já passou. Esta é a avaliação do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil. As baixas na carteira de trabalho que ultrapassavam há dois anos uma média de 300 por mês só em Cascavel caíram um terço e hoje estão na casa das 200. Ainda são mais demissões do que contratações, mas o importante é a mudança do cenário. Mês passado o sindicato fez 209 rescisões, enquanto em agosto de 2015 haviam sido 255.

Para o líder sindical Roberto Leal Americano, esse é um sinal de que o pior da crise já está indo embora e que bons ventos podem voltar a soprar quando o assunto são as contratações formais. “O que observamos é que o verdadeiro profissional da construção civil, o pedreiro e o carpinteiro, se mantiveram no mercado, os demais ainda estão em busca de trabalho”, reforçou.

Os dados oficiais do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho e Emprego mostram realidades diferentes enfrentadas pelo setor nos últimos cinco anos.

Em 2012, quando o País anunciava uma condição de pleno emprego, as seis maiores cidades da região – Cascavel, Foz do Iguaçu, Toledo, Marechal Cândido Rondon, Medianeira e Assis Chateaubriand – haviam gerado no primeiro semestre 1.975 novas vagas. Em 2013, de janeiro a junho, eram 428, e em 2014, ano eleitoral, quando “sobram” recursos especialmente para programas como o Minha Casa, Minha Vida, houve a abertura de 1.493 postos de trabalho. Dali para frente o que se viu foi uma derrocada. No primeiro semestre de 2015 essas contratações já haviam baixado para 197. Ano passado foram mais demissões do que contratações, com o fechamento de 145 postos com carteira assinada. No mesmo período em 2017, as demissões ainda superavam as admissões, mas na região já haviam caído para 97.

Para Roberto, ainda está muito longe da realidade que se vivia há alguns anos, mas os sinais de reação já animam o setor.

Prioridades e informalidade

As obras ficaram de lado no momento de segurar os gastos com o dinheiro cada vez mais escasso. Elizete Fabiano fez isso por dois anos. Acostumada a fazer reformas todo fim de ano, desde 2015 a casa não recebia nem pintura nova. Desta vez vai ser diferente. “Vamos pintar a casa, consertar o que vai estragando, estamos um pouco mais confiantes para gastar”, reconhece.

Ela ainda não sabe se vai registrar o profissional ou vai pedir nota fiscal como MEI (Microempreendedor Individual), a única coisa que tem certeza é de que não quer alguém trabalhando “frio”. “A gente nunca sabe o que pode acontecer não é mesmo?”.

Mas nem todos pensam como ela. Apesar de o cenário estar mudando, a informalidade ainda atinge na região, em média, dois em cada três profissionais na construção civil. “Somente neste ano já fiscalizamos 190 obras e encontramos 956 profissionais: 390 registrados e 566 sem registro. Depois da nossa visita, 199 dos informais foram formalizados, ou seja, 35% tiveram sua carteira assinada”, avalia.

Novas obras e boas vendas

Para o presidente do Secovi (Sindicato da Habitação), Luiz Langer, embora sensível, essa melhora poderá ser impulsionada com a mudança na forma de financiamento de imóveis usados em algumas modalidades, feitos pela Caixa. Em alguns casos só estão sendo disponibilizados 50% do financiamento, metade precisa ser paga como entrada.

“Isso incentiva a venda dos novos, pessoas podem comprar imóveis novos e financiar um percentual maior e isso deverá estimular novas obras e elas geram mais emprego, mais renda e mais impostos para o governo”, avalia.

Segundo Langer, as novas obras nunca pararam, apenas reduziram a marcha e agora essa pequena recuperação reanima o setor. Ele afirma ainda que o que se tem observado construtoras mais criteriosas, que fazem pesquisa de mercado e querem saber o que realmente está vendendo, potencializam suas demandas nisso. “E o que está vendendo são imóveis mais baratos, os chamados populares”.

Toda essa movimentação reflete nas lojas de materiais de construção. Na maior de Toledo, onde há 33 funcionários, as vendas já aumentaram cerca de 10% se comparadas ao mesmo período do ano passado. Por lá não houve demissões durante a crise e contratações pontuais não são descartadas para o fim de ano, mas o que se sabe, segundo o gerente Eloir Coginski, é que o aumento no movimento resultou em elevação nas vendas. As boas expectativas estão voltadas para o fim de ano quando as vendas podem aumentar até 20% se comparadas a outros períodos do ano. “As pessoas estão voltando e as vendas também já aumentaram um pouco e as reformas de fim de ano contribuem muito para esta elevação esperada em até 20%”, afirma.