Cotidiano

Conselho de Ética ouve testemunhas do processo contra Jean Wyllys

BRASÍLIA – O Conselho de Ética da Câmara começou a ouvir, na tarde desta terça-feira, testemunhas no processo por quebra de decoro contra o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que cuspiu em Jair Bolsonaro (PSC-RJ) no plenário da Casa durante a votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 17 de abril deste ano.

Wyllys admitiu, no mesmo dia, que cuspiu em direção ao parlamentar, mas alega que apenas reagiu aos insultos homofóbicos que Bolsonaro proferiu.

Primeiro a ser ouvido, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), adversário do representado, disse que o ato de Wyllys foi “inaceitável” e “intolerante”.

? Achei uma atitude desnecessária. A esquerda fala em intolerância, mas essa intolerância parte deles.

Fraga afirmou ainda que estava próximo dos dois no dia em que a confusão ocorreu. Ele alega que viu o deputado cuspir em direção a Bolsonaro, mas que não ouviu o aliado ofender Wyllys antes do ato.

? Não ouvi nenhuma palavra sendo proferida pelo deputado Jair Bolsonaro, e vi quando o deputado Jean Wyllys cuspiu na direção do deputado, e o cuspe inclusive pegou um pouco no deputado Sóstenes, eu estava bem perto.

Em seu depoimento, o parlamentar disse que “todo mundo conhece” as atitudes e posições políticas de Bolsonaro, que, naquela mesma votação, elogiou o coronel Carlos Brilhante Ustra, um dos mais cruéis torturadores do regime militar. Ao ser questionado pelo advogado da defesa, Cezar Britto, sobre quais seriam essas posições do deputado, Fraga foi vago:

? As posições a que me refiro são posições de direita, posições conservadoras e muito definidas, que muita gente não concorda. Nada que venha a desabonar a conduta do deputado Bolsonaro ? disse.

Neste momento, o Conselho ouve o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), correligionário do representado. Sorrindo, Bolsonaro entrou no plenário da comissão pouco antes do início da fala de Alencar.

O deputado alegou que o ato de Jean Wyllys não justifica uma representação no Conselho de Ética. Ele condenou o que ocorreu, mas disse que pode ter sido um “acúmulo” de tensão entre Wyllys e Bolsonaro. O advogado de defesa questionou Alencar se os dois tinham um histórico de provocações, e o deputado do PSOL criticou o “estilo agressivo” do parlamentar do PSC.

? Sim, ele tem um estilo provocador, agressivo e muito ofensivo, evidentemente, em relação não só ao deputado Jean Wyllys, mas a ele isso é permanente, então pode ter sido um acúmulo, num momento absolutamente tenso naquela votação. Foi uma reação ao acúmulo de agressões e ofensas, até porque ele é o único aqui que assume sua posição homossexual ? afirmou.

Alvo de mais de 30 reclamações no Conselho, muitas das quais não prosperaram, Bolsonaro pediu a palavra para rebater pontos da fala de Chico Alencar. Ele disse que ter falado ‘tchau,querida’ depois do voto de Wyllys não foi um ato homofóbico. Ele negou ainda ter ofendido o parlamentar.

? ‘Tchau,querida’ virar expressão homofóbica vai para o anedotário parlamentar. O deputado Jean Wyllys fala que o ofendi, com vários palavrões, mas temos vídeos dizendo que nada disso aconteceu. Nunca houve provocação minha para com o Jean Wyllys ? disse o parlamentar.