Esportes

CONSAGRAÇÃO E LÁGRIMAS

Daniel Dias, o Danielzinho, sai do Rio-2016 maior ainda. Tudo feito por ele na piscina do Estádio Aquático foi superlativo. Com o tricampeonato paralímpico nos 100m livre S5 (limitação físico-motora) conquistado ontem, o mais bem-sucedido atleta paralímpico do Brasil invadia outras raias e passava a ser, ao lado do australiano Matthew Cowdrey, o nadador com maior número de pódios da natação masculina, com 23 medalhas. Estava bom? Não para ele. Uma hora depois, ele abriu o revezamento 4x100m medley e foi bronze na mais espetacular prova do dia. Passou o australiano e, com 24 pódios, é o maior medalhista masculino. Foi a nona medalha no Rio, o que fez dele o maior desta edição.

Cowdrey já se aposentou, Daniel, de 28 anos, ainda está distante de interromper seu ciclo vitorioso. Para quem nunca conheceu limites, ele terá mais última barreira rumo ao seleto pódio dos maiores de todos os tempos, que deverá cair em Tóquio-2020. Com mais duas medalhas na edição japonesa da próxima Paralimpíada, chegará a 26, uma a mais que a espanhola Teresa Perales, a francesa Béatrice Hess e a alemã Claudia Hengst, empatadas com 25. Será o segundo no ranking, abaixo apenas da norte-americana Trischa Zorn e suas incríveis 55 medalhas.

MAIS OURO QUE AUSTRALIANO

No total, Daniel tem 14 medalhas de ouro, sete de prata e três de bronze. Matthew Cowdrey tem 13 ouros, sete pratas e três bronzes. Ao bater na borda em primeiro ontem nos 100m, em sua oitava prova desde o início da Paralimpíada, Daniel manteve a eficiente rotina de subir ao pódio após cair na água. Das nove medalhas no Rio, quatro foram de ouro, três de prata e duas de bronze. Além do tricampeonato nos 100m, foi tricampeão dos 50m costas e dos 200m livre.

Ontem, ele jamais foi ameaçado nos 100m e fechou a prova com 1m10s11, mas não conseguiu bater o seu próprio recorde mundial, de 1m08s39, alcançado nos Jogos de Londres-2012. O americano Roy Perkins foi prata, com 1m14s55, enquanto o britânico Andrew Mullen foi terceiro ao bater com 1m15s93.

O melhor ainda estava por vir. Na estratégia do Brasil, para somar entre as classes 34 pontos, Daniel largou de costas no revezamento, um S5 entre nadadores com menores limitações motoras. Ele entregou em sétimo. Começava a luta pela recuperação. Ruan Souza (SB9) e André Brasil (S10) seguraram o sétimo, mas foi Phelipe Rodrigues (S10) o responsável pela arrancada. Como já havia feito no revezamento 4x100m livre, no qual o Brasil foi prata, ele ganhou posições e conseguiu bater em terceiro após emocionante disputa com a Austrália. O Brasil fez 4m17s51, contra 4m07s89 da Ucrânia e 4m06s44 da China.

Com estes desempenhos, Daniel Dias conseguiu arrebatar tanto a medalha quanto os corações da torcida que lotou o Estádio Aquático. Além, é claro, de ganhar o respeito e a admiração dos companheiros de competição, antigos ídolos que agora idolatram o pequeno Daniel.

? Quando comecei a nadar, Daniel era muito jovem, agora é melhor que eu. É um grande amigo e competidor ? disse Sebastián Rodríguez, o Chano, espanhol de 59 anos e ex-guerrilheiro do Grapo (Grupos de Resistência Antifascista Primeiro de Outubro), que ficou em quarto nos 100m ontem.

Capaz de inspirar a nova geração de nadadores, a quem impulsiona rumo ao treinamento mais forte para um ciclo ainda mais vitorioso rumo ao Japão, e de arrancar elogios de quem sai de cena, Daniel virou unanimidade. Em sua derradeira prova em paralimpíadas, Clodoaldo Silva, o experiente nadador de 37 anos, ficou em último, com 1m20s80, mas foi tão ovacionado quanto Daniel. Emocionado, ele teve a honra de encerrar a carreira em Jogos ?lado a lado? com o amigo e pupilo. Ao fim da prova, ainda no deque da piscina, eles se abraçaram sob os aplausos de um estádio inteiro emocionado com o ?revezamento? de sucesso na natação paralímpica brasileira.

? Na noite anterior à final dos 100m, já foi passando um filme na minha cabeça. O esporte paralímpico nunca mais será o mesmo depois do Rio e fico muito feliz por ter feito parte disso. Quando vejo pessoas como o Daniel, sei que fiz o que pude e dei o meu melhor pelo esporte ? declarou Clodoaldo, que deu uma volta olímpica, ao lado de Chano, como forma de homenagem aos dois veteranos.

Logo após os 100m masculino, a brasileira Joana Maria Neves foi bronze nos 100m livre S5. Thomaz Matera foi oitavo nos 50m livre S12 (deficiência visual); Nos 50m livre masculino S4 (limitação físico-motora), Ronystony Cordeiro terminou em último, enquanto Patrícia Pereira dos Santos ficou na 6ª posição na versão feminina da mesma prova.