Cotidiano

Confira quem sobe e quem desce nestas eleições

BRASÍLIA – A eleição deste domingo teve muitos derrotados e poucos vencedores. Entre os personagens que polarizaram a disputa presidencial na última década e os précandidatosde 2018, há um único grande vitorioso: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. E seu partido, o PSDB, é igualmente o que obteve, com folga, maior sucesso, liderando o comando das grandes cidades do país e com grandes chances de ampliar o número de capitais governadas.

Por outro lado, o PT sofre uma derrocada impensável, vendo sua presença país afora cair a quase um terço, saindo da terceira posição entre os partidosque controlam mais prefeituras, paraa 10ª posição. Entre as capitais, venceu apenas em Rio Branco e chegou ao segundo turno em Recife. Protagonista do pleito, Geraldo Alckmin bancou, contra os demais caciques do PSDB em São Paulo, a candidatura do empresário João Doria. Apesar do ceticismode muitos, Alckmin apostou em um perfil alinhado com o que as pesquisas mostravam ser o desejo do eleitorado: alguém defora da política, com capacidade de gestão, intimidade com a TV e sem envolvimento em falcatruas. Para completar, Doria tinha capital próprio para bancar parte da campanha, e Alckmin montou para ele um amplo arco de alianças que garantiu o maior tempo de TV ? emprestando-lhe a popularidade de maior líder político do estado.

LÍDER INCONTESTÁVEL

Com o resultado, Alckmin se fortalece para a disputa presidencial de 2018 como o líder incontestável do estado mais populoso do país. Seu grande rival dentro do PSDB, o senadorAécio Neves, tenta ainda reverter a histórica derrota em Minas Gerais em 2014. Apesar de ter conseguido colocar o tucano João Leite no segundo turno de Belo Horizonte, em primeiro, a disputa promete ser renhida. Não à toa, antes mesmo da votação, Aécio já havia começado a mobilizar seus assessores de campanha para atuarem na disputa da capital mineira. Mesmo com as acusações na Lava-Jato, Aécio ainda é o dirigente tucano mais popular nas bases do partido e uma eventual vitória em Belo Horizonte é fundamental para reduzir o impacto do sucesso de Alckmin em São Paulo. A seu favor pesa o fato de ser o presidente nacional do PSDB desde 2013 e ver, sob sua gestão, o partido sair amplamente vitorioso país afora. A legenda conquistou 791 prefeituras, 105 a mais do que em 2012, ficando atrás apenas do PMDB no número de cidades governadas. E controlará, a partir do ano que vem, o maior número de grandes centros urbanos.

Entre os municípios com mais de 200 mil habitantes, os tucanos elegeram 14 prefeitos, contra sete do PMDB, o segundo maior vencedor. Nas capitais, o PSDB também é a primeira força, tendo eleito ontem, além de São Paulo, o prefeito de Teresina. E estão no segundo turno em outras oito, liderando em Belo Horizonte, Manaus, Porto Alegre, Porto Velho, Maceió e Belém. Enquanto isso, o PT pode acabar a eleição com seu pior desempenho desde1985, quando emplacou pela primeiravez um prefeito de capital, em Fortaleza. Neste primeiro turno, o partido só venceu em Rio Branco e disputará um difícil segundo turno em Recife.

No país, o PT caiu da terceira para a 10ª posição entreas legendas que controlam maior número de prefeituras, saindo de 630 para 256. O tombo do PT é parte do processo de ocaso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seis anos após deixar a Presidência com 87% de popularidade, o petista ? que em 2012 afirmou que iluminaria?postes? Brasil afora, em referência aos candidatos que era capaz de eleger ? viu sua imagem ser recusada até em campanhas petistas, por mais atrapalhar do que ajudar. Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad chegou a fazer eventos na zonas mais pobres da cidade com Lula, mas não divulgou as imagens do padrinho político nos programas de TV. Alvejado pela Lava-jato e pela enorme impopularidade do governo Dilma Rousseff, Lula terá muito trabalho para reorganizar seu campo político para a disputa de 2018.

Outra pré-candidata de 2018 que sai mal da disputa de ontem é Marina Silva. Marina viu a recém-criada Rede naufragar nas capitais, chegando ao segundo turno apenas em Macapá, onde o prefeito Clécio Luís busca a reeleição. A ex-presidente Dilma viveu situação semelhante à de Lula. Apesar de ter galvanizado manifestações contra o impeachment até um mês atrás, ela foi ignorada por quase todos os candidatos de PT e PCdoB. Nas poucas campanhasde que participou, em nada contribuiu para melhorar o desempenho de seus candidatos. O presidente Michel Temer também sofreu na campanha. Embora nunca tenha sido candidato em disputas nacionais, e portanto não tenha condições de dar votos, candidatos da base aliada fugiram da imagem dele. Vários criticaram políticas do governo, como a reforma educacional por medida provisória.

O PMDB, no entanto, saiu bem da disputa. Continuou sendo o partido commaior número de prefeitos do país, controlando1.027 cidades, e estará no segundo turno em seis capitais, além de ter reeleito no primeiro turno Teresa Surita emBoa Vista (RR). O desempenho, no entanto, tem significado menor do que os do PSDB e PT quando se olha para a eleição de 2018. Como o partido é antes de mais nada um ajuntamento de caciques regionais sem uma pauta nacional que os una, seu sucesso eleitoral não significa necessariamente uma perspectiva mais clara de manutenção do Planalto. O Rio de Janeiro provou mais uma vez seu dissociamento da política nacional. O prefeito Eduardo Paes optou por uma aposta de enorme risco ao lançar um candidato que seria apresentado à populaçãojá se desculpando por seus defeitos. Assim,os resultados de sua gestão se tornaram pouco efetivos para catapultar Pedro Paulo. Pior, com a derrota do aliado, Paes perdeu o comando da máquina pública, que poderia servir de ponta de lança para alçar voos mais altos. Quem já é visto como beneficiário certo do sucesso eleitoral de ontem é ACM Neto. Herdeiro do carlismo, o prefeito de Salvador teve uma vitória avassaladora e, já na comemoração do resultado, deixou claro qual deve ser seu próximo passo: a disputa do governo estadual contra Rui Costa (PT), a quem qualificou como o ?grande derrotado? do dia. info-sobe-desce