Cotidiano

Com discurso, Dilma quis deixar sua versão para a História

2016 935136493-201608291129358836.jpg_20160829.jpgBELO HORIZONTE ? Embora acreditem que o ?jogo está jogado?, cientistas políticos reunidos ontem em Belo Horizonte para a abertura do décimo Congresso anual da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) consideraram positiva a participação da presidente afastada Dilma Rousseff na sessão desta segunda-feira do Senado. Avaliam que ela construiu o discurso com o objetivo de marcar seu papel no processo e não de reverter votos, uma vez que o quadro já está consolidado.

Presidente da ABCP, o cientista político Leonardo Avritzer, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), disse que o julgamento do impeachment assumiu um caráter mais político do que jurídico-legal, o que tornou difícil reverter votos. Mas a mensagem de Dilma, segundo Avritzer, levou questões importantes à opinião pública, diz ele:

? (No julgamento político) Não é muito relevante se as pedaladas existiram ou não, se são crimes de responsabilidade ou não, se o TCU foi um tribunal político ou não. A presidente apresentou uma mensagem respeitosa e muito clara em relação a uma série de questões que não seriam as mais adequadadas num sistema político: uma oposição que nunca aceitou a eleição de 2014; um conjunto de deputados que não apoiaram a estabilização econômica e um conjunto de conflitos muito fortes que não são adequados para a gestão do país e do sistema político. Nesse sentido, ela fez uma mensagem forte, mas leal, dentro das regras do sistema democrático, uma mensagem para colocar, na minha opinião, a posição dela mais para a História do que para reverter votos ? disse Avritzer.

Já o professor de ciência política da Universidade Federal do Paraná Adriano Codato considerou que Dilma conseguiu ampliar o discurso sobre ?golpe?. Sua participação, contudo, foi um esforço de Sísifo, segundo ele:

? Acho que foi um esforço de Sísifo, de empurrar uma pedra para o alto da colina e vê-la descer, porque ninguém ali estava para ser convencido. Aliás, os senadores tinham declarado que ali era um julgamento político e não técnico. O que estava em debate não era uma questão contábil ou se havia pedalada ou não. Acho que ela fez o papel dela, um bom papel. O discurso de abertura foi bastante convincente. Mas, depois de 12 horas, os argumentos se perdem.

O professor criticou a participação dos partidários da presidente na sessão do Senado.

? Enquanto a antiga oposição foi bastante firme, a grande maioria dos partidários da presidente foi muito retórica. Quem já estava convencido de que ela deveria ficar não precisava daquelas palavras, e quem não estava queria ouvir outra coisa.

* Fábio Vasconcellos viajou a convite da ABCP