Cotidiano

Com 'Chatô' fora do Oscar, Guilherme Fontes desabafa: 'Um país de merda'

Links Pequeno SegredoRIO ? Um dia após o anúncio de que “Pequeno segredo”, de David Schurmann, seria o filme brasileiro selecionado para disputar uma vaga no Oscar, foi a vez de Guilherme Fontes, diretor de “Chatô ? O rei do Brasil”, se manifestar contra a escolha nas redes sociais.

“Realmente, um país de merda”, iniciou Fontes em texto-desabafo publicado em seu Facebook. “‘Chatô’ recebeu prêmio APCA de melhor diretor da Associação de Críticos, todos prêmios ABC de técnicos da Associação Brasileira de Cinematografia e concorre a 12 indicações da Academia Brasileira de Cinema. O Ministério da Cultura junto com Luis Carlos Barreto foram os responsáveis por mais de 15 anos do atraso do filme e o TCU afirma que eles estavam errados. 99% da crítica foi unânime e junto com o público reconhecem a alta qualidade do filme. E agora eles indicam ao Oscar um filme que ninguém viu. Patético”.

Na publicação, motivada por uma crítica negativa do jornal “Folha de São Paulo” a “Pequeno segredo”, o cineasta atacou Bruno Barreto e Carla Camurati, que integraram a comissão especial que selecionou o representante brasileiro. “O que eu podia esperar de uma comissão com um membro da família Barreto na presidência e uma Carla Camurati julgando? Esses dois frustrados e medíocres diretores que passaram anos me detonando de graça jamais seriam grandes pra reconhecer o oóbvio. Gente hipócrita. ‘Pedalaram’ apenas para não darem o braço a torcer. Porque são ‘pequenos'”, afirmou.

No fim, Guilherme Fontes ainda acenou com a possibilidade de concorrer ao Oscar paralelamente, nas categorias gerais. O cineasta citou “Cidade de Deus” (2002), que, apesar de ter sido indicado pelo Brasil, não concorreu na categoria de melhor filme estrangeiro em 2003, mas disputou outras quatro em 2004: melhor diretor (Fernando Meirelles), melhor roteiro adaptado (de Bráulio Mantovani), melhor fotografia (César Charlone) e melhor montagem (Daniel Rezende). Declaração Guilherme Fontes

FILME CERCADO DE POLÊMICAS

?Chatô? entrou em produção em 1994, com patrocínio de empresas privadas e órgãos públicos. Mas nunca chegou aos cinemas. De lá até seu lançamento, em novembro passado, produtores desistiram do projeto, funcionários afirmaram que não tinham sido pagos e uma série de acusações de uso inadequado de verbas veio à tona. As gravações foram interrompidas e retomadas diversas vezes, transformando o filme num dos maiores imbróglios do cinema nacional.

Em 2014, o Tribunal de Contas da União (TCU) condenou Fontes a devolver aos cofres públicos, em valores atualizados, mais de R$ 70 milhões, referentes ao que ele captou, no passado, através de leis de incentivo. O diretor entrou com um recurso, que suspendeu a cobrança até que saia uma nova decisão.

Em maio do ano passado, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) arquivou uma outra ação que o acusava de improbidade administrativa. Sobre demais pendências com a Justiça, ele diz que só precisa apresentar ?mais esclarecimentos? e que financiou parte da obra do próprio bolso. Filmes brasileiros que disputaram vaga para indicação ao Oscar

Sobre o produto final, Fontes diz que ficou num meio-termo entre o que ele tinha imaginado no começo e o que foi possível fazer após tantas dificuldades:

? Mas isso foi previsto. Não é possível fazer um filme em condições perfeitas. Hoje posso dizer que estou completamente satisfeito e realizado. Obviamente, fico triste apenas com o fato de o longa ter demorando tanto para sair. Mas o que passou, passou.

Adaptação da biografia homônima escrita por Fernando Morais, ?Chatô? mostra a trajetória do magnata da comunicação Assis Chateaubriand (1892-1968), vivido nas telas pelo ator Marco Ricca. O elenco conta ainda com nomes como Andréa Beltrão, Leandra Leal, Leticia Sabatella, Paulo Betti, Gabriel Braga Nunes, Eliane Giardini, Zezé Polessa e Walmor Chagas. O roteiro é assinado por João Emanuel Carneiro e Matthew Robbins (nome indicado por Francis Ford Coppola, quando ele ainda era associado ao projeto), além do próprio Morais.