Política

Coluna Contraponto do dia 16 de setembro de 2018

Empresário põe Traiano e Rossoni na roda da Patrulha

O empresário Celso Frare, dono da locadora Ouro Verde, foi o mais colaborativo dos presos ouvidos pelo Gaeco para esclarecer sua participação no propinoduto que tinha sido montado com a execução do programa Patrulha do Campo no governo Richa. Ele não só confessou ter cometido irregularidades como também ofereceu um cheque de quase R$ 1 milhão para cobrir danos que causou o erário. Mas fez ainda mais: declarou aos procuradores do Ministério Público que outra empresa participante do esquema, a Terra Brasil, pertencente ao ex-secretário Edson Casagrande, contou com a influência política de dois dos mais próximos aliados de Beto Richa – os deputados Ademar Traiano, presidente da Assembleia Legislativa, e Valdir Rossoni, chefe da Casa Civil no segundo mandato de Richa e presidente da Assembleia no primeiro. Com isso, ampliou o rol de investigações em que o Gaeco pode se debruçar.

Em detalhes

Frare contou detalhes sobre como se processou a ajuda política dos dois parlamentares para garantir a participação da Terra Brasil. Casagrande, que cumpria prisão temporária, está na lista dos 15 beneficiados pelo habeas corpus concedidos pelo ministro Gilmar Mendes na noite de sexta-feira (14) ao ex-governador Beto Richa, mas cujos efeitos são extensivos a todos os demais.

Ato de ditadura

O ministro Gilmar Mendes gastou dez páginas para argumentar que não haveria necessidade de decretação de prisão temporária contra Beto Richa, Fernanda Richa e todos os demais 13 presos pelo Gaeco na Operação Radiopatrulha.

Salvo conduto

Num trecho, para justificar sua decisão de conceder salvo conduto, Gilmar diz: “Aqui, como naqueles casos, houve a prisão ilegal, a incomunicabilidade e graves restrições ao exercício de direitos políticos dos ocupantes de mandatos eletivos. Por outro lado, se hoje já não há a ameaça dos tanques e das baionetas, há, contudo, a grave manipulação das notícias e da opinião pública, a difusão de mentiras pela internet, o assassinato de reputações e a radicalização de opiniões e posturas institucionais que passam a ser consideradas legítimas e normais. Portanto, estou absolutamente convencido sobre a ilegalidade da prisão provisória do requerente e da necessidade de se restituir a sua plena liberdade.”

Dignidade I

O flagrante feito pelo repórter fotográfico Alexandre Mazzo e publicado pela Gazeta do Povo em que o casal Beto Richa e Fernanda se esconde dos flashes cobrindo-se com as próprias roupas é um atentado à dignidade humana. Em se tratando de duas figuras públicas, é um exemplo de incapacidade para enfrentar a hora mais escura, o que denota fragilidade e falta de coragem.

Dignidade II

Numa comparação mais rasteira, a foto do casal lembra as imagens distribuídas nas delegacias de Polícia, de presos temporários, ladrãoezinhos chinfrins que não escondem o rosto por medo da publicidade, mas para não serem reconhecidos nos próximo golpe. O Paraná, que tantas vezes consagrou Beto Richa nas urnas, não merecia ver uma cena dessas.

“Entrei honrado e saio honrado”, diz Beto Richa

Ao ser solto da prisão no início da madrugada desse sábado, o ex-governador Beto Richa disse, à porta do Regimento Coronel Dulcídio, que “entrei aqui um homem honrado e saio um homem honrado”. E anunciou para a imprensa que retomará imediatamente a sua campanha de candidato ao Senado. Falou por menos de dois minutos, mas não deixou de atacar o ex-amigo Tony Garcia – o homem que fez as delações ao Gaeco e que levaram o juiz Fernando Fischer a decretar a prisão dele e de outras 14 pessoas supostamente envolvidas num esquema de propinas operado por meio do programa Patrulha do Campo. Richa pediu que fosse comparada a credibilidade de Tony Garcia com a sua: “um delator cujo histórico de vida não demonstra nenhuma credibilidade… Eu pergunto: vale a palavra dele ou a minha?”