Opinião

Coluna Associação Médica de Cascavel: de médico a paciente

Coluna Associação Médica de Cascavel: de médico a paciente

Em 1981 cheguei a Cascavel com muita vontade de trabalhar e mudar certos conceitos da medicina convencional (aquela em que o médico vinha para o interior, montava um consultório e às vezes era dono do hospital sozinho, comprava uma fazenda e não investia muito da área médica). A minha ideia era montar uma estrutura especializada e investir mais na evolução da medicina e na tecnologia, ou seja, acompanhar a evolução da medicina.

Assim, começamos aqui, em Cascavel, e logo em seguida, em 1982, com um grupo de 49 pessoas, sendo 48 médicos e um administrador de empresas como sócio, adquirimos a Policlínica Cascavel, grupo arrojado que mudou o rumo da medicina na cidade, por isso está aí o resultado. Hoje, Cascavel é um centro de excelência em medicina, comparado aos grandes centros do País.

Concomitantemente, fui participar do Lyons Club Cascavel Velho, onde permaneci por 20 anos, fazendo um trabalho de transplante de córnea. Nós nos tornamos o segundo Banco de Olhos do Paraná, só perdendo para Curitiba. Quero lembrar que o fundador do Banco de Olhos de Cascavel foi o nosso colega e amigo Dr. Constantino Szymansk. Realizamos mais de 300 transplantes de córnea com o Dr. Luiz Antônio Kuss e mudamos mais uma vez a história da medicina de Cascavel. Porém, jamais iria pensar que eu seria um daqueles pacientes que esperavam por um transplante na fila.

Tanto trabalho para ajudar os outros e agora era eu quem estava numa fila de espera para um transplante de Fígado. Deus me colocou num lugar para eu entender o sofrimento das pessoas que esperam por um órgão, passando por momentos de incerteza e agonia. Porém, eu tive a felicidade de não ficar muito tempo na fila, porque entrei na fase de emergência e aí virou prioridade e recebi um fígado em pouco tempo no Hospital Santa Isabel, em Blumenau.

Tudo isso foi devido a uma transfusão de sangue após uma cirurgia de quadril em 1990. Adquirindo o vírus da Hepatite C, que fui descobrir a gravidade da doença após uns nove anos, quando eu já estava em cirrose hepática. Fiz um tratamento antiviral e o vírus desapareceu, mas, após mais uns dez anos, entrei em coma três vezes. Fui removido para Curitiba, ainda em coma, para o Hospital Vita, onde acordei com insuficiência renal também, então fui para Blumenau.

De livre vontade e a pedido da Associação Médica de Cascavel, estou fazendo este relato para mostrar a todos que tudo o que fazemos de bom e sem interesse algum caracteriza um ato de caridade e que, com certeza, vem o retorno na hora que nem se esperava.

Posso afirmar aqui, com certeza absoluta: façamos o bem não interessa a quem.

Já se passaram dez anos e nunca tive uma complicação pós-operatória e digo mais, minha saúde melhorou muito e estou convivendo normalmente no trabalho e com meus familiares e amigos. Jamais vou pagar todas as pessoas e os profissionais que me ajudaram, principalmente a doadora, que era moradora de Blumenau. Que Deus a tenha ao seu lado eternamente.

Dr. Romeu Tolentino, CRM 6141 – Médico especialista