Opinião

Coluna Amparar: Por que muitos casais não conseguem separar-se?

Coluna Amparar: Por que muitos casais não conseguem separar-se?

 

 

Não é preciso ser terapeuta para perceber quantos casamentos são embalados pela mesmice, pela rotina. A sensação de segurança e estabilidade alcançados ao longo dos muitos anos juntos transforma muitas relações num verdadeiro marasmo. Não poucas vezes o casal já não convive mais, praticamente não mantém mais qualquer forma de intimidade. Costuma ser comum que os cônjuges ocupem cômodos separados da casa. Mal compartilham os espaços comuns de convivência.

Situações como estas são mais comuns do que costumamos imaginar, especialmente em casais a partir da meia-idade. Quase todos serão capazes de mencionar algum exemplo dentro do seu círculo de amizades. Trata-se do fenômeno que podemos chamar de “casais infelizes”. Enquadram-se nessa categoria casais cuja relação se desenvolve na rotina da mesmice na qual falta a empolgação um pelo outro. Esta é a situação mais leve, porque em geral ainda permanece uma relação respeitosa. Contudo, muitas vezes a situação na qual se encontram os “casais infelizes” é aquela em que cada gesto ou atitude de um dos cônjuges leva rapidamente para uma discussão, que não raras vezes desanda em briga com ofensas e agressões, as quais em alguns casos chega à violência física. Respeito e confiança recíprocos parecem não ter lugar nessas relações. O casal tem consciência disso e, mesmo assim, permanecem juntos. Por quê?

Quando buscamos identificar as razões, encontramos comportamentos que, vistas em perspectiva por alguém de fora da relação, parecem injustificáveis. Unicamente a título de ilustração, vamos referir as mais frequentes.

Uma razão muito comum é o medo de desapontar a família. É um motivo frequente especialmente nos casais em que os valores da tradição religiosa são fortes. Por paradoxal que pareça – uma vez que praticamente já não há mais compartilhamento – o medo da solidão leva muitas pessoas a preferirem permanecer numa relação chata a viverem sozinhas.

Outro motivo frequente é a alegação de que os filhos precisam da família. Ainda que seja um equívoco que traz graves consequências, muitos casais acreditam que é melhor para os filhos terem uma família em que os pais vivem em uma relação infeliz a viverem sob a guarda de pais separados. Pais que permanecem na relação sob esta alegação transferem o peso de sua infelicidade sobre os ombros dos filhos. Com isso infelicitam os próprios filhos! Não poucas vezes os filhos já são adultos e têm vida própria fora do lar.

Para alguns “casais infelizes” pesa também a favor da decisão de permanecer juntos a ideia de que o investimento feito no relacionamento – investimento em tempo e dinheiro – seria desperdiçado com a separação. Por mais tediosa que seja a relação, é doloroso para estes casais sentir que consumiram tanto tempo de suas vidas para agora ser “jogado fora”.

Obviamente, sempre pesam muito fortemente os motivos econômico-financeiros. Algumas vezes é o caso de um dos parceiros depender economicamente do outro. Outras vezes, o casal avalia que teria dificuldades de sobreviver separado. Nos casos em que existe patrimônio envolvido a separação costuma arrastar-se pelas dificuldades de alcançar consenso na divisão dos bens.

Nas próximas postagens continuaremos o assunto.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar