Opinião

Coluna Amparar: o positivo na discussão de casal

O ciúme, especialmente quando é “doentio”, perde qualquer medida e desanda em brigas que, não poucas vezes, chegam ao ponto da agressão física

Coluna Amparar: o positivo na discussão de casal

Concluímos nossa reflexão da semana passada com a informação de que trataríamos na sequência de um tema que decorre do abordado naquela ocasião: as brigas e as discussões entre o casal.

O ciúme, especialmente quando é “doentio”, perde qualquer medida e desanda em brigas que, não poucas vezes, chegam ao ponto da agressão física. Essa forma de discussão tem um efeito corrosivo sobre a relação, porque atinge a dignidade dos cônjuges. Podemos falar, porém, de outra dimensão da discussão que pode ser criadora de laços que fortalecem a relação. Vamos começar nossas reflexões tratando dessa faceta.

Para situar a dinâmica sistêmica que, em geral, está detrás desta forma positiva de discussão, vamos nos valer de um comentário de Bert Hellinger: “Alguns casais têm necessidade de descansar do amor! Na discussão entre o casal, a maioria das vezes se trata de ganhar mais distância. Através da discussão, se restabelece uma distância. […] Proximidade e distância andam juntas. Quando na relação há excessiva proximidade, surge uma discussão e depois se tem novamente a distância ótima. Na continuidade, ambos podem se aproximar de novo. É um ir e vir. Em geral, é muito mais bonito depois de uma briga”.

Uma relação, seja qual for, desenvolve-se em base à comunicação. Na relação de casal, conversar um com o outro é a essência mesma que nutre a vida de casal. Sem uma troca honesta de tudo o que move os parceiros, o relacionamento morre. Obviamente, existem muitos modos de comunicação, ainda que a conversação seja o mais usual.

Assim, por exemplo, podemos comunicar nossos sentimentos pelo simples modo de olhar para o cônjuge. Um olhar de ira é bem diferente que um olhar de carinho. Sem pronunciar uma só palavra, podemos rejeitar ou, então, acolher. Igualmente, pelo simples modo como pisamos, pela intensidade e forma dos passos, comunicamos raiva ou amor. Até mesmo o silêncio é uma forma de comunicar. Certamente, todos já ouviram a expressão paradoxal “silêncio ensurdecedor” para se referir ao movimento de se calar diante da palavra da outra pessoa. Na relação de casal, o calar é uma atitude mais comum dos homens que das mulheres. Não poucas vezes o mutismo dos homens diante da comunicabilidade fluente de suas parceiras leva estas à exasperação. E pode ser o começo de uma discussão veemente de consequências imprevisíveis.

Muitas vezes, a discussão se mostra necessária para que um dos cônjuges veja respeitados seus pontos de vista pelo outro. Em outras, pode ser o modo extremo de fazer ver o sério, ou mesmo o grave, de situações não percebidas pelo outro. Quando um dos cônjuges “fala demais” ou fala de modo intimidador, o outro tende a se calar. Nessa situação, por vezes, uma discussão veemente é o modo daquele que se cala se colocar numa relação de igualdade com o outro.

Quando a discussão consegue se manter num nível de respeito ao outro no uso da linguagem, de modo a preservar a dignidade, ela costuma ter efeitos positivos sobre a relação de casal.

Na reflexão da próxima semana continuaremos esse assunto. Vamos aprofundar um pouco mais a dimensão positiva da discussão de casal no sentido de nos levar a perceber de que maneira ela pode ajudar no fortalecimento da relação.


JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

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