Opinião

Coluna Amparar: Infidelidade e ciúmes

“A pessoa ciumenta deseja inconscientemente que o parceiro se vá”

Coluna Amparar: Infidelidade e ciúmes

Um tema diretamente relacionado à situação de infidelidade é o ciúme. Como acontece em geral em todas as questões, também esta questão pode ser olhada desde dois ângulos diferentes.

Por um lado, o ciúme é um sentimento capaz de gerar um efeito positivo sobre a relação na medida em que protege a pessoa da qual se sente ciúmes de levar a efeito alguma aventura desastrosa para a família. A pessoa tentada a cometer infidelidade não dá sequência à sua intenção devido aos ciúmes do cônjuge. Obviamente, para que esse efeito se produza, dependerá tanto da intensidade do amor que a pessoa sente quanto da forma como o ciúme é manifestado.

Por outro lado, porém, o mais comum é o ciúme produzir o afastamento do parceiro. Aqui, Hellinger aponta para uma dinâmica inconsciente e paradoxal da pessoa enciumada: “A pessoa ciumenta deseja inconscientemente que o parceiro se vá”.

De que maneira o ciúme – que aparentemente quer prender a outra pessoa a si – pode ser expressão inconsciente de se separar?

As Constelações Familiares têm mostrado que, muitas vezes, a pessoa tomada de ciúmes está enredada em alguma dinâmica sistêmica que acaba levando-a a repelir seu parceiro. Por se tratar de um enredamento, a pessoa enciumada não tem consciência daquilo que motiva seu comportamento “doentio” ou possessivo. De qual dinâmica se trata? Hellinger identifica não uma, mas quatro diferentes dinâmicas.

A primeira: por medo de ser abandonada, inconscientemente a pessoa enciumada repele o parceiro como se fosse melhor se separar dele a ser abandonada.

A segunda: por lealdade familiar aos pais, que não conseguiram permanecer juntos, a pessoa enciumada inconscientemente segue o mesmo caminho.

Terceira: também por lealdade familiar, neste caso a alguém impedido de se casar, um membro posterior do sistema também repele a parceria.

A quarta: por lealdade sistêmica à primeira esposa, a segunda esposa do marido também o repele. Obviamente, o mesmo vale para o homem: por lealdade ao primeiro marido, o segundo marido da esposa também a rejeita.

Quando o ciúme toma proporções muito grandes, a ponto de a pessoa enciumada controlar todos os movimentos do parceiro, a relação dificilmente permanece em pé. Nessa situação, o ciúme se mostra como um sentimento de posse, de exclusividade, o que acaba coisificando o parceiro. A pessoa objeto de semelhante ciúme sente fisicamente falta de ar. Literalmente, o parceiro enciumado toma a vida do cônjuge para si. Não há amor que resista à semelhante relação! É um ciúme que não tem um “motivo” concreto para existir.

Em um quadro no qual impera um ciúme doentio, o casal precisa decidir entre duas formas de dor: a dor causada pelo ciúme possessivo, que faz adoecer a relação, e a dor da separação. A primeira opção é a pior.

Em geral, os casais que se decidem por permanecer juntos o fazem na expectativa de que serão capazes de mudar as coisas. Isso, porém, costuma não acontecer. O resultado é uma relação feita de brigas, discussões por ninharias, doenças sistêmicas. Trataremos desta questão nas próximas reflexões.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

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